Tornamo-nos instrumentos de paz se renunciarmos à posse. Artigo de Pierbattista Pizzaballa

Foto: Europeana/Unsplash

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19 Dezembro 2025

"O grito de Francisco pera o "irmão sol" e a "irmã lua" nos convida a uma mudança radical de mentalidade, a reconhecer que a harmonia entre o ser humano e a natureza é essencial para a construção de uma paz autêntica", escreve o cardeal Pierbattista Pizzaballa, Patriarca Latino de Jerusalém, em artigo publicado por La Stampa, 16-12-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

São Francisco, na sua profunda ligação com Cristo e na sua radical escolha de vida, encarnou extraordinariamente o conceito de paz, entendido não como simples ausência de conflito, mas como caminho de justiça, fraternidade e reconciliação. Essa mensagem ressoa poderosamente hoje no nosso mundo, tão dilacerado por divisões, guerras e crises ecológicas. Francisco convida-nos a viver a paz como um empenho cotidiano, que exige a participação de cada um para tornar o mundo mais justo e fraterno. Para ele, de fato, a paz não é um conceito abstrato. Foi a sua escolha de vida radical que o tornou um "homem de paz". Por exemplo, ele vivenciou a pobreza não apenas como uma renúncia aos bens materiais, mas também como um caminho para a libertação de todas as formas de poder, como um antídoto para a violência que nasce do desejo de posse e da competição.

A paz não pode ser construída a menos que estejamos dispostos a dar um passo para trás, a renunciar ao egoísmo e ao desejo de dominar em favor de um caminho de fraternidade, no qual todos são iguais perante Deus e cada um é respeitado e acolhido sem desconfianças ou medos. São Francisco viveu em uma época de fortes tensões políticas e religiosas, tanto no âmbito local quanto europeu e do Oriente Médio, em um contexto marcado pelas Cruzadas. Ele embarcou em uma jornada de diálogo e encontro entre cristãos e muçulmanos, quando parecia impensável imaginar uma ponte entre mundos tão distantes. Um dos momentos mais significativos de sua vida foi o encontro com o sultão al-Malik al-Kamil durante a Quinta Cruzada. Enquanto os cristãos lutavam em nome da fé, Francisco escolheu não usar armas, mas falar com o coração, indo desarmado ao encontro do inimigo. Esse gesto de Francisco não foi apenas um episódio de coragem, mas também um ato profético que nos convida a considerar o outro não como perigo a ser combatido, mas como irmão a ser encontrado.

Francisco não queria impor a sua fé pela força, mas oferecer a paz como um dom, demonstrando que a verdadeira paz advém do reconhecimento da dignidade de cada ser humano, mesmo daquele que é completamente diferente de nós. Outro aspeto fundamental da espiritualidade de "homem da paz" é a sua relação com a natureza. Francisco via em cada elemento da criação um sinal do amor de Deus e, portanto, um convite a viver em harmonia com ela: paz não só entre os homens, mas entre o homem e a Terra, o homem e os animais, o homem e todo o cosmos.

Hoje, a sua relação com a criação parece particularmente atual, considerando a crise ambiental que estamos vivendo. A paz com a criação, de fato, é uma paz que também nos diz respeito e que se traduz no empenho pela proteção do meio ambiente, na luta contra a exploração dos recursos naturais e no respeito por todas as formas de vida. O grito de Francisco pera o "irmão sol" e a "irmã lua" nos convida a uma mudança radical de mentalidade, a reconhecer que a harmonia entre o ser humano e a natureza é essencial para a construção de uma paz autêntica. Francisco nos ensina a viver a paz tanto como empenho pelo bem comum quanto como caminho de conversão pessoal. Façamos nossa, então, a oração a ele atribuída: "Senhor, fazei de mim um instrumento da vossa paz".

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