11 Dezembro 2025
Com pesar, mas com senso de realidade, acredito que qualquer decisão sobre o diaconato feminino é impossível hoje em dia.
O artigo é de Gilberto Borghi, teólogo leigo, filósofo e psicopedagogo clínico italiano, publicado por Vino Nuovo, 10-12-2025.
Eis o artigo.
Estou a intervir no debate em curso sobre a nota do Vaticano da Comissão para o Diaconato Feminino. O texto, sendo um resumo, não apresenta os caminhos, textos e dados considerados para chegar às suas conclusões, que são claramente apresentadas apenas como "coordenadas cognitivas" sugeridas ao Papa. Estas conclusões parecem inconclusivas e sujeitas a revisão, podendo ser resumidas da seguinte forma: por agora, as mulheres não são elegíveis para o diaconato. É, portanto, difícil fornecer uma avaliação crítica adequada, que não seja impulsionada principalmente por reações emocionais e preconceitos ideológicos, independentemente do lado a que se atribuam.
O documento admite, citando Bento XVI, que "uma perspectiva puramente histórica não nos permite chegar a qualquer certeza definitiva", mas parte precisamente de dados históricos que mostram que o diaconato feminino na Antiguidade não tinha "um caráter sacramental". O que pode ser de fato comprovado historicamente não é tão claro.
O Concílio de Calcedônia fala explicitamente da ordenação de diaconisas pela imposição de mãos. No final do século IV, encontramos textos que reiteram o mesmo ponto. Isso continua até meados do século V e início do século VIII. Ao mesmo tempo, desde o final do século IV, surgem vozes contrárias à admissão de mulheres ao ministério ordenado, argumentando que elas nunca participam da Eucaristia desempenhando o papel dos diáconos homens. Isso indica que a imposição das mãos do bispo é percebida como uma entrada para a ordem sacerdotal. Mas essas vozes vinculam a negação da ordenação feminina não à natureza intrínseca do sacramento, mas a duas razões específicas.
A primeira é que a função essencial desempenhada pelas diaconisas nos primeiros séculos está se perdendo: a de "auxiliar" as mulheres, especialmente em sua evangelização em contextos pagãos e em seu batismo por despojamento total. E aqui é realmente difícil entender se seu papel é meramente de auxílio ou de celebração propriamente dita. Em todo caso, a cristianização progressiva da sociedade, após Constantino, levou ao início do costume de batizar pessoas desde a infância, reduzindo os contextos pagãos e a necessidade de sua presença.
A segunda é antropológica. As mulheres eram consideradas impróprias para as ordens sagradas devido à sua impureza menstrual e à crescente percepção, a partir do século IV, da impossibilidade de associar o sagrado ao desejo sexual, que as mulheres geravam, sendo inclusive perigoso, especialmente em homens consagrados. Essa visão, infelizmente, ganhou terreno e tornou-se a característica fundamental da relação entre a Igreja e a sexualidade em geral.
A nota, então, talvez ciente da falta de consistência teológica dessas motivações, apresenta outra: a masculinidade intrínseca do papel do ministro ordenado, que, "in Persona Christi", tem um caráter "esposal" em relação à Igreja: "alterar essa realidade (masculinidade necessária) não seria um simples ajuste do ministério, mas uma ruptura do significado nupcial da salvação". É evidente que a masculinidade necessária se baseia na natureza esponsal.
Mas a votação mostra que a comissão estava dividida neste ponto: 5 a 5. E talvez a razão seja simples: não há tradição histórica suficiente para sustentar essa tese! A Igreja sempre defendeu a relação esponsal entre Cristo e a Igreja, mas esta só foi estendida, a partir de meados do século XX, à relação entre ministros ordenados e a Igreja, começando com Von Balthasar, passando por João Paulo II e Bento XVI.
E pode-se demonstrar historicamente que a adoção dessa perspectiva esponsal se torna uma forma de manter o caráter que, desde Trento, tem sido plenamente reconhecido nas Ordens Sacras: não o "ministerium", isto é, o serviço, mas o "potestas", o poder de consagrar, absolver e ensinar. O foco permanece na consagração, o que é uma das razões pelas quais o diaconato permanente desapareceu após Trento e a tentativa contemporânea de restaurá-lo foi um fracasso retumbante.
A nota conclui precisamente neste ponto, com expressões adotadas diretamente pelo presidente Cardeal Petrocchi, apelando para "incentivar um exame crítico rigoroso e abrangente do próprio diaconato", porque "as atividades dos diáconos muitas vezes se sobrepõem a funções próprias dos ministérios leigos ou dos coroinhas na liturgia, suscitando questões entre o Povo de Deus sobre o significado específico da sua ordenação". Isto sugere a necessidade de compreender melhor a natureza específica do diaconato, em comparação com os outros dois graus da ordem, e a possibilidade de interpretar este grau menos focado no poder de celebrar, numa interpretação em que a sua essência esteja verdadeiramente ligada apenas ao serviço eclesial, abrindo também a possibilidade às mulheres.
Mas, como Fenaroli observou astutamente, essa possibilidade, que parece ser assunto para iniciados, só se concretizará quando compreendermos plenamente os fundamentos teológicos da questão do diaconato feminino. Uma antropologia que reformule a perspectiva sobre o corpo e o gênero, permitindo-nos identificar verdadeiramente uma dimensão feminina e masculina específica da crença; uma eclesiologia que restaure seriamente a sinodalidade, inclusive na gestão do poder, vivenciada, enfim, como serviço; uma teologia do Magistério que leve a encarnação a sério em todos os tempos e espaços, partindo do pressuposto de que suas decisões também podem mudar ao longo da história.
Infelizmente, não me parece que essas condições existam no momento. Portanto, acredito, com pesar, mas com senso de realidade, que qualquer decisão sobre o diaconato feminino é impossível hoje, de uma forma ou de outra.
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