Documento do Vaticano sobre diáconas abre a porta a mais confusão. Artigo de Phyllis Zagano

Foto: Vatican Media

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11 Dezembro 2025

"O fato de a comissão agora procurar acabar com a discussão sinodal sobre mulheres diáconas só pode resultar em mais sofrimento para as mulheres em todo o mundo", escreve Phyllis Zagano, em artigo publicado por 7 Margens, 10-12-2025.

Phyllis Zagano é pesquisadora na Universidade Hofstra, em Hempstead, Nova York. Seu livro mais recente é "Just Church: Catholic Social Teaching, Synodality, and Women" (Paulist, 2023).

Eis o artigo.

O Vaticano emitiu, exclusivamente em italiano, a opinião do presidente da Segunda Comissão para o Estudo do Diaconato, nomeada pelo Papa Francisco. A sua substância pode ser rapidamente traduzida: As mulheres não podem ser ordenadas diáconos porque não podem ser “imagem de Cristo”.

É, na prática, uma declaração de que a Igreja Católica vê oficialmente as mulheres como “outras”.

O comentário, assinado pelo cardeal italiano reformado Giuseppe Petrocchi, prejudica ainda mais a imagem mundial da Igreja Católica, já manchada por escândalos de pederastia e relatos de má gestão financeira.

Apresentado como um resumo do trabalho da Segunda Comissão, o documento revela ainda o problema da “cultura” que o Papa Leão XIV mencionou repetidamente ao responder ao relatório europeu no Jubileu de Outubro das Equipes do Sínodo em Roma. Leão pode ter querido referir-se à cultura secular, mas a cultura do clericalismo do Vaticano está claramente refletida no documento.

Mesmo sob análise cuidadosa, o texto de sete páginas é implacavelmente opaco. As notas de rodapé referem-se a relatórios e votações da comissão não publicados, algumas sugerindo que as votações foram realizadas quando nem todos os membros da comissão estavam presentes. Além disso, há apenas uma breve (e desdenhosa) referência a documentos sobre mulheres diáconos submetidos a pedido da reunião de 2024 do Sínodo sobre Sinodalidade ao Grupo de Estudo 5, que o Papa Francisco criou para retirar a questão ao Sínodo como um todo.

O documento deturpa a tradição ortodoxa, ignorando a sua longa história de diáconas ordenadas – o termo preferido da Ortodoxia é “diaconisas” – ao longo da sua vasta e variada história, ou no seu passado recente: a Igreja Ortodoxa Grega do Zimbabué ordenou uma mulher ao diaconato em maio de 2024, com a permissão do Patriarca de Alexandria e de Toda a África.

Este é um erro ecuménico cometido logo após a viagem do Papa Leão à Turquia e ao Líbano, onde se reuniu com líderes da Ortodoxia Oriental e com o patriarca da Igreja Maronita, cujo direito canónico permite a ordenação de mulheres como diáconos.

Se a discussão sinodal é para incluir todos os cristãos, será melhor recolher todos os fatos.

O documento não exclui as mulheres diáconos mas tenta fazê-lo, mesmo afirmando que é necessário mais estudo.

O Documento Final do Sínodo sobre Sinodalidade, promulgado por Francisco como ensino magisterial ou oficial da Igreja, afirma que o discernimento sobre a inclusão das mulheres no diaconato deve continuar e que “o que vem do Espírito Santo não pode ser impedido.”

Serão as opiniões sintetizadas de algumas pessoas sem nome a última palavra? Ao longo do processo sinodal, vários relatórios de dioceses e conferências episcopais de todo o mundo pediram a restauração da tradição de ordenar mulheres como diáconos. Essas vozes terão sido silenciadas?

É difícil acreditar que Leão, educado pelos melhores estudiosos americanos, tanto homens como mulheres, da Catholic Theological Union de Chicago e antigo bispo diocesano que não teve problema em delegar autoridade sacramental às mulheres, partilhe a visão de Petrocchi. Ele permitiu, no entanto, a publicação deste relatório. Mas será que com esta publicação ele está a dizer-nos que a era de Francisco terminou e que é tempo de uma verdadeira discussão sinodal sobre a questão?

É verdade que a igreja não é uma democracia, e a sinodalidade não é um processo político. O objetivo da sinodalidade é que todo o povo de Deus possa discernir em oração como melhor fomentar a missão da igreja, que é, em suma, a de pregar o evangelho e de agir em conformidade com ele.

Quando levado a sério, o evangelho é um documento perigoso. À sua maneira, esta última mensagem do Vaticano também o é. Está datado de 18 de setembro, dia de festa de Irene, santa do século II. Principalmente conhecida nas tradições copta e ortodoxa, a insistência de Irene na sua fé cristã acabou por lhe causar o martírio. O fato de a comissão agora procurar acabar com a discussão sinodal sobre diáconas só pode resultar em mais sofrimento para as mulheres em todo o mundo.

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