11 Dezembro 2025
Poderiam as mulheres um dia se tornar diáconas? Uma comissão do Vaticano encarregada de abordar o assunto emitiu um parecer bastante desfavorável, segundo um documento divulgado na última quinta-feira. O Papa Francisco, que faleceu em abril, criou a comissão em 2020, sob a direção do Cardeal Giuseppe Petrocchi, para examinar a questão em meio a intensos debates sobre o papel da mulher em uma Igreja liderada por homens há dois mil anos.
A informação é publicada por Le Monde, 05-12-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Os trabalhos da comissão foram realizados a portas fechadas, mas uma carta do Cardeal Petrocchi ao Papa Leão XIV, escrita em setembro e publicada pelo Vaticano na última quinta-feira, oferece uma primeira luz sobre suas deliberações. O documento revela que, em julho de 2022, por 7 votos a 1, a comissão aprovou uma moção "excluindo a possibilidade" de autorizar as mulheres a se tornarem diáconas, especificando, porém, que não se tratava de uma "decisão definitiva", ao contrário daquela tomada pelo sacerdócio, do qual as mulheres estão também excluídas.
"O status quaestionis que envolve a pesquisa histórica e a investigação teológica, consideradas em suas implicações mútuas, exclui a possibilidade de prosseguir no sentido de admitir mulheres ao diaconato entendido como grau do sacramento da Ordem. À luz da Sagrada Escritura, da Tradição e do Magistério Eclesiástico, essa avaliação é sólida, embora não permita formular no presente momento um juízo definitivo, como no caso da Ordenação sacerdotal."
Em sua última sessão de trabalho, em fevereiro de 2025, a comissão examinou as contribuições do sínodo, a assembleia universal da Igreja que ocorreu no segundo semestre de 2023 e 2024, na qual a questão do diaconato feminino estava na pauta.
A comissão então se viu dividida em partes iguais (cinco votos a favor, cinco contra) em uma votação sobre a questão de saber se a masculinidade das pessoas que recebem as ordens sagradas é um elemento crucial do ensinamento da Igreja. Em sua carta, o Cardeal Petrocchi defende uma abordagem cautelosa sobre o tema, que suscita um debate “intenso” e que exige mais estudos.
Um diácono é um ministro ordenado que auxilia o sacerdote no ministério paroquial. Ele está habilitado a batizar e casar, e pode ele próprio casar-se e ter filhos.
Em alguns países, observa Petrocchi, o diaconato sequer existe, enquanto onde existe, as atividades dos diáconos às vezes contemplam aquelas dos ministros leigos.
Aos olhos dos adversários do diaconato feminino, um ministro "ordenado" (diácono ou sacerdote) só pode ser do sexo masculino, visto que, na tradição católica, descende dos doze principais apóstolos do Novo Testamento (todos homens). "A masculinidade de Cristo e, portanto, a masculinidade daqueles que recebem as Ordens, não é acidental, mas parte integrante da identidade sacramental, preservando a ordem divina da salvação em Cristo. Alterar essa realidade não seria um simples ajuste do ministério, mas uma ruptura do significado nupcial da salvação", lê-se no documento publicado na quinta-feira, que resume assim as posições dos defensores da exclusão das mulheres do diaconato. Para os defensores da ordenação de mulheres, esses argumentos já não se sustentam mais. De fato, pode-se realmente afirmar que a natureza divina de Cristo é masculina? Somos realmente certos que os apóstolos eram todos homens? Segundo os Evangelhos, Jesus era rodeado por inúmeras mulheres, a começar por Maria Madalena, a primeira testemunha da ressurreição, por vezes apelidada de "apóstola dos apóstolos". A exclusão das mulheres do diaconato parece contradizer "a condição paritária do 'homem' e da 'mulher' como imagem de Deus" e "a igual dignidade de ambos os gêneros, com base nesse dado bíblico", continua o documento, que apoia a tese oposta.
Teólogos e historiadores da Igreja também divergem sobre a questão de saber se as mulheres diácono da Antiguidade eram ordenadas. Ignora-se, por enquanto, por que o Papa Leão XIV optou por publicar esse documento agora, nem o que acontecerá a seguir. No entanto, uma associação de defesa dos direitos das mulheres, a Conferência para a Ordenação de Mulheres, declarou na quinta-feira estar "consternada com a recusa do Vaticano em abrir suas portas para as mulheres, ou mesmo entreabri-las". "Poucas terão a paciência de tirar alguma esperança da afirmação do Vaticano de que um estudo mais aprofundado é necessário", declarou num comunicado.
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