04 Novembro 2025
Questionada, petrolífera diz que a definição de rotas não tem relação com a conferência do clima e que a logística leva em conta vários fatores.
A reportagem é publicada por Climainfo, 03-11-2025.
Assim que recebeu a licença do IBAMA, em 20 de outubro, a Petrobras começou a perfurar o poço Morpho para explorar petróleo e gás fóssil no bloco FZA-M-59, na Foz do Amazonas. Os deslocamentos da equipe envolvida na perfuração partem de Belém, no Pará. Mas a petrolífera mudou os planos para o período da COP30.
Segundo a Folha, a Petrobras alterou a rota de voos que transportam as equipes responsáveis pelo suporte e trabalho no poço no Bloco 59, de forma a evitar os deslocamentos a partir da capital paraense. As partidas passaram a ter como base a capital do Amapá, Macapá, desde 26 de outubro, e assim permanecerão até 30 de novembro, informa o InfoMoney.
A mudança causou curiosidade. Estaria a Petrobras evitando protestos contra a exploração de petróleo na Amazônia, já que Belém receberá milhares de pessoas de organizações da sociedade civil e movimentos sociais?
A petrolífera afirmou que define a logística de apoio para operações com base em uma “série de fatores”: “No caso de transporte de equipes, são avaliados o melhor modal, otimização de malha e estratégias contratuais junto a empresas prestadoras de serviços”, disse a empresa. “Esses fatores são observados em todas as regiões em que a companhia opera, inclusive nas atividades de perfuração do poço Morpho, no litoral do Amapá.” Então tá.
O fato é que o tema “Petrobras e perfuração/pesquisa na Foz do Amazonas” foi o que dominou negativamente as redes sociais em relação à COP30, mostra o 5º e último monitoramento da Quaest, feito entre 10 e 21 de outubro, informa a Times Brasil. O principal impulso nas menções com sentimento negativo foi associado à licença para o poço no Bloco 59.
Questionado sobre a autorização do IBAMA, o presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, disse que a exploração de combustíveis fósseis na Foz do Amazonas é responsabilidade do Brasil, segundo a CNN. “O Brasil e a sociedade brasileira é que vão decidir o que nós vamos fazer desse petróleo, se encontrarem petróleo”, afirmou.
O presidente da COP30 ainda disse que a Foz tem dimensão ambiental e climática: “A dimensão ambiental é a que o IBAMA se pronunciou. São as preocupações com possíveis impactos sobre o meio ambiente. A dimensão climática do petróleo é a decisão dos países de continuar ou não a aumentar a produção de petróleo nesse processo de transição”, frisou.
Em tempo 1
O Conselho de Caciques dos Povos Indígenas do Oiapoque (CCPIO), representante dos Povos Karipuna, Palikur-Arukwayene, Galibi-Marworno e Galibi-Kali’na, lançou uma nota de repúdio à licença para a Petrobras na Foz do Amazonas, “diante das graves violações de Direitos dos Povos Indígenas do Oiapoque, no extremo norte do Brasil”: “Reafirmamos que não pode haver transição energética justa sem respeito aos Povos Indígenas e sem a proteção efetiva da Amazônia. O governo brasileiro tem apresentado a pauta ambiental e climática como prioridade, mas essa prioridade precisa se traduzir em ações concretas, coerentes e baseadas no cumprimento dos Direitos dos Povos Originários e na defesa dos territórios tradicionais.”
Em tempo 2
Documentos inéditos mostram que a petrolífera estadunidense Exxon financiou grupos de reflexão de direita para disseminar negacionismo climático na América Latina, numa campanha coordenada para tornar o Sul Global "menos inclinado" a apoiar a agenda do clima da ONU. O material, que inclui cópias de cheques enviados pela Exxon, consiste em documentos internos e anos de correspondência entre a petrolífera e a Atlas Network, uma coalizão sediada nos EUA com mais de 500 grupos de reflexão de livre mercado e outros parceiros em todo o mundo. O dinheiro da Exxon ajudou a Atlas a financiar traduções para o espanhol e o chinês de livros em inglês que negam a existência das mudanças climáticas causadas pelo homem; voos para cidades da América Latina para negacionistas climáticos dos EUA; e eventos públicos que permitiram que esses negacionistas alcançassem a mídia local e estabelecessem contatos com políticos, detalha o Guardian.
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