30 Setembro 2025
Apesar da aprovação da APO, relatório técnico do Ibama critica plano de resgate de animais e exige sua reapresentação pela empresa.
A informação é publicada por ClimaInfo, 28-09-2025.
Os defensores da exploração de petróleo no Brasil “até a última gota” vibraram quando o Ibama aprovou a Avaliação Pré-Operacional (APO) feita pela Petrobras no bloco FZA-M-59, na Foz do Amazonas, na semana passada. Dois deles são os senadores Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) e Randolfe Rodrigues (PT-AP), que trocaram elogios e comemoraram, segundo ((o))eco.
Mas a festa dos senadores pode ter sido em vão. Afinal, o órgão ambiental reprovou a atuação da petrolífera em determinados pontos no simulado de vazamento de petróleo. E exigiu ajustes, sem os quais não haverá qualquer autorização para explorar combustíveis fósseis no litoral amapaense.
Como assinalaram Folha, Times Brasil e Valor, em um exercício que simulou um ataque hacker à plataforma destinada pela Petrobras para perfurar o poço no bloco 59, o Ibama questionou novamente a estrutura proposta pela empresa no seu Plano de Proteção e Atendimento à Fauna (PPAF). O parecer técnico conclui que a estatal não foi capaz de executar de forma satisfatória sua própria estratégia de proteção à fauna, confirmando críticas feitas pelo órgão ao longo do processo de licenciamento.
O Ibama avaliou a resposta dentro da embarcação (retomada do controle e dos sistemas após o ataque hacker) e fora dela (recolhimento do óleo e resgate de animais atingidos). Os técnicos do órgão identificaram diversas deficiências no resgate da fauna (representada por brinquedos plásticos), como a dificuldade para cumprir o prazo máximo de 24 horas para o transporte de animais atingidos por óleo ao centro de tratamento instalado pela própria petrolífera em Oiapoque, no extremo norte do Amapá.
Segundo o parecer, a Petrobras deslocou embarcações antes da chegada de substitutas para cumprir o prazo, deixando a área do bloco 59 descoberta, sem possibilidade de resgatar mais animais. Além disso, uma das embarcações não tinha pessoal nem equipamentos suficientes para o resgate. Faltavam gelo e bolsas térmicas. A equipe também não teria priorizado animais com maior chance de sobrevida, diz o documento.
Ao navegar pelo rio Oiapoque de madrugada para chegar ao centro de tratamento da fauna, com baixa visibilidade, um barco da Petrobras ficou preso em uma rede de pesca. Segundo o Ibama, o pescador recebeu uma indenização de R$ 12 mil. Poucas horas depois, um barco ficou preso em um banco de areia. Além disso, quase houve uma colisão entre um barco de transporte e outra pequena embarcação.
Os brinquedos simulando os animais foram entregues ao centro veterinário às 5h50, cerca de 30 minutos antes do prazo final, observou o Ibama. No entanto, a Petrobras utilizou barcos não autorizados pelo órgão ambiental durante o simulado, informa o parecer.
No transporte dos brinquedos por via aérea, os observadores do Ibama notaram que os pilotos não tinham equipamentos de segurança adequados. “Em uma emergência real, animais contaminados com óleo volatizam substâncias que são extremamente tóxicas”, escreveu o órgão, acrescentando que “os pilotos poderiam sofrer efeitos neurotóxicos durante o voo, o que poderia causar acidentes de elevada gravidade”.
Segundo a InfoMoney, a Petrobras protocolou a resposta aos questionamentos na última 6ª feira (26/9). Mesmo com esse problema, de acordo com a CNN Brasil, a empresa espera que a licença para o poço no bloco 59 seja liberada ainda em outubro. No entanto, há quem considere improvável que a autorização saia antes da COP30. Mas um alto executivo da empresa disse à Reuters que a concessão da licença é “inevitável”. Ou seja, o absurdo de explorar combustíveis fósseis na Amazônia irá adiante.
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