16 Mai 2025
Magda “Let’s drill, baby” Chambriard disse que a petroleira atendeu à última exigência do órgão para a licença do bloco 59 no fim de março.
A informação é publicada por ClimaInfo, 15-05-2025.
Desde que concluiu as obras do centro de tratamento da fauna em Oiapoque, no extremo norte do Amapá, no início de abril, a Petrobras diz que cumpriu a última exigência do IBAMA para obter a licença para o poço de petróleo que quer perfurar no bloco FZA-M-59, na foz do Amazonas. O órgão ambiental, porém, não confirma essa “certeza”.
Ainda assim, a empresa vem cobrando sistematicamente o IBAMA. Chegou a “sugerir” uma data para que a vistoria ocorresse – 7 de abril. Depois, deu uma espécie de “ultimato” para que o órgão se manifestasse até ontem (15/5), autorizando o deslocamento da plataforma que escolheu para perfurar o poço.
Mas, para a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, enviar 4 cartas ao IBAMA em cerca de um mês não é pressão sobre o órgão ambiental, mas “uma resposta”. Foi o que ela disse à Miriam Leitão em entrevista na Globonews, cujos destaques a jornalista tratou em seu blog n’O Globo.
“No ano passado, nos comprometemos a entregar as últimas exigências do IBAMA. A última foi mais um centro de despetrolização da fauna, agora no Oiapoque [o outro é em Belém, a 800 km do bloco 59], que foi autorizado pelo instituto ambiental amapaense. Como entregamos tudo logo no início de abril e estamos em maio, toda semana avisamos ao IBAMA: ‘Olha, está tudo pronto aqui’”, disse a executiva.
Segundo Magda “Let’s drill, baby” Chambriard, as comunicações ao órgão ambiental são apenas para “avisar” que estão prontos para a fiscalização e que “atenderam todas as exigências”, relatou o Valor. “E o IBAMA tem que nos fiscalizar enquanto autorizador”, lembrou ela. É fato. Mas a presidente da Petrobras “só” esqueceu que o momento em que isso ocorre é prerrogativa da autarquia, não do fiscalizado.
De acordo com a Agência Infra, a última carta foi enviada à Rodrigo Agostinho, presidente do IBAMA, na 2ª feira (12/5). No documento, a Petrobras “lembra” o órgão de marcar a avaliação pré-operacional (APO), simulado de vazamento no bloco 59 e última etapa antes da concessão [ou não] da licença, até 15 de maio. Além disso, o gerente-executivo de Segurança, Meio Ambiente e Saúde da petroleira, Flaubert Matos Machado, cobrou que o órgão se manifestasse para que a empresa iniciasse os preparativos para deslocar a sonda de perfuração.
Na carta, a Petrobras informou ainda que realizou um simulado interno, entre 6 e 8 de maio, no centro de fauna no Oiapoque, e o resultado comprovou o atendimento ao tempo de resposta previsto no manual de boas práticas do IBAMA. Essa simulação foi feita pela equipe da petroleira, lembrou o Valor.
Em coletiva sobre os resultados da Petrobras no 1º trimestre, Magda disse que “é muito difícil” que a licença não saia em uma “região tão carente”, destacou a CNN. Essa narrativa é batida entre os defensores da exploração do petróleo no Brasil “até a última gota”. Mas o histórico da indústria fóssil prova o contrário, como lembrou Marcos Pedlowski, da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF).
“A justificativa para a exploração petrolífera de uma área de alta importância socioecológica é a alegação manjadíssima de que a renda do petróleo extraído na foz do Amazonas será revertida em desenvolvimento de uma nova matriz energética e na superação da pobreza. Como habitante de um dos primeiros municípios a usufruir dos benefícios da Lei de Petróleo, que gerou bilhões em rendas municipais, sou testemunha ocular de que a exploração do petróleo não aliviou em nada os níveis de pobreza, servindo apenas para aumentar a já indecorosa concentração de riquezas que existe no Brasil”, reforçou, em artigo na Nova Democracia.