28 Outubro 2025
O Burevestnik pode permanecer no ar por dias, sem limitações de alcance, graças ao seu motor nuclear. Putin: "Uma arma sem precedentes, que garantirá nossa superioridade."
A reportagem é de Gianluca Di Feo e Claudio Tito, publicada por La Repubblica, 26-10-2025.
Um míssil nuclear capaz de voar 14 mil quilômetros. E, em teoria, de permanecer no ar por dias, pronto para atacar qualquer lugar do planeta. O anúncio de Moscou esta manhã é sensacional: ninguém jamais construiu uma arma como esta, com um alcance potencialmente ilimitado. Além disso, se os russos conseguissem miniaturizar um motor nuclear, tornando-o compatível com as dimensões de um míssil, mesmo intercontinental, poderiam aplicar a mesma tecnologia a muitos outros setores: desde a propulsão de naves espaciais até a geração de eletricidade com usinas nucleares móveis pouco maiores que um caminhão. Seria uma verdadeira revolução, tão extraordinária que suscitaria inúmeras preocupações.
Os russos chamam o míssil de Burevestnik — que significa "Pássaro da Tempestade" —, enquanto analistas da OTAN o renomearam como SSC-X-9 Skyfall, usando a abreviação X para mísseis experimentais, pois duvidavam que ele realmente funcionasse. Modelos exibidos pelos russos no passado mostravam uma arma de 12 metros de comprimento — que, sem o foguete propulsor, era reduzida a nove metros — com um diâmetro de menos de dois metros e asas retráteis de seis metros.
O anúncio foi feito pelo Comandante das Forças Armadas Valery Gerasimov, que informou o presidente Putin sobre o sucesso do protótipo, lançado na última terça-feira em uma missão com duração de quinze horas. É um tempo muito longo para um míssil, pois ele teria percorrido 14 mil quilômetros, mantendo-se a uma velocidade inferior à do som. O objetivo era testar a confiabilidade do motor inovador, não seu desempenho máximo. "Suas características técnicas permitem que seja usado com precisão garantida contra locais altamente protegidos e a qualquer alcance", acrescentou o general Gerasimov. "É realmente uma arma única, que nenhum outro país no mundo possui", comentou Putin durante uma visita a um dos centros de comando integrados. O presidente, usando camuflagem e com um sorriso muito satisfeito, ordenou "tudo o que for necessário para tornar o Burevestnik operacional nas Forças Armadas Russas".
Em agosto passado, como relata o especialista russo Pavel Podvig, satélites detectaram uma série de atividades no campo de testes de Pankovo: não está descartado que voos de teste de curta distância tenham sido realizados lá no fim do verão. Hoje, foi divulgado o vídeo da conversa entre Gerasimov e Putin, juntamente com algumas fotos da decolagem do Burevestnik. A confirmação ainda está pendente de Washington, que certamente monitorou o lançamento de teste com satélites infravermelhos.
Moscou vem trabalhando neste projeto há mais de uma década. O Kremlin o indicou repetidamente como uma das ferramentas para obter superioridade sobre o Ocidente e alterar o equilíbrio da dissuasão nuclear. Em 2018, Putin chamou o Burevestnik de "invencível", alegando que ele tinha alcance ilimitado e era capaz de superar todas as barreiras de defesa dos EUA. No ano seguinte, um grave acidente gerou alarme sobre a radioatividade em uma vasta área ao norte da Base de Testes Navais de Arkhangelsk. As autoridades tentaram manter o incidente em segredo, mas em 9 de agosto, a agência nuclear Rosatom admitiu o problema. Os detalhes desse incidente permanecem um mistério.
A hipótese é que o protótipo caiu no mar durante um teste e ocorreu uma explosão durante a recuperação: o combustível nuclear contaminou os sobreviventes. Alguns, aparentemente cinco, morreram devido à exposição à radiação, como os socorristas de Chernobyl. Em 21-11-2019, Putin prestou homenagem pessoal às vítimas, todos cientistas e pesquisadores: "Eles caíram enquanto trabalhavam em um sistema sem precedentes. Estamos falando das ideias e soluções técnicas mais avançadas para criar uma arma projetada para garantir a segurança e a soberania da Rússia nas próximas décadas".
Hoje, o próprio general Gerasimov afirmou que "ao contrário de outros testes, este foi bem-sucedido, e o Burevestnik voou 14 mil quilômetros". Ele imediatamente especificou: "Este alcance não é o seu limite..." E não apenas isso. Ele explicou em seu relatório a Putin que a arma realizou "manobras verticais e horizontais", demonstrando sua capacidade de escapar de mísseis de defesa aérea. A nova natureza do dispositivo também é ressaltada pelas palavras do presidente: "Teremos que decidir como classificá-lo". Ele não corresponde aos mísseis balísticos intercontinentais tradicionais, nem mesmo aos mísseis de cruzeiro como o Tomahawk americano: teoricamente, poderia permanecer no ar por dias a fio, tornando-se uma espécie de espada de Dâmocles pairando sobre os adversários da Rússia. Poderia até substituir os bombardeiros tradicionais que fazem parte da "tríade" da dissuasão nuclear: em tempos de crise, Moscou poderia decolar os Burevestniks, mantendo-os no ar por vários dias. Uma ameaça que — após a fase inicial — seria pouco visível aos radares e sensores térmicos.
Os Estados Unidos conceberam iniciativas semelhantes no fim da década de 1950: em particular, o "Projeto Plutão", para construir um míssil intercontinental com motor nuclear, seguido por planos para bombardeiros B-47 movidos pelo mesmo sistema. No caso do míssil, houve dificuldades em miniaturizar o reator, que deveria aquecer uma mistura de ar e produtos químicos para gerar empuxo. Nas aeronaves, no entanto, o principal problema era proteger a tripulação, que corria o risco de envenenamento por radiação. Desde meados da década de 1960, os programas americanos foram abandonados. Agora, o mundo corre para construir minirreatores nucleares: os russos, no entanto, são os únicos que também estudaram aplicações militares. E, de acordo com suas próprias declarações, conseguiram fazê-los funcionar.
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