07 Outubro 2025
Presidente da COP30 vê negociações com otimismo, mas reconhece dificuldades, especialmente no financiamento climático.
A reportagem é publicada por climaInfo, 06-10-2025.
O tabuleiro diplomático para a COP30 será movimentado nas semanas que antecipam a abertura das negociações em Belém, daqui a menos de 40 dias. Dois eventos preparatórios serão decisivos nesse caminho: a pré-COP, que ocorrerá em Brasília nos dias 13 e 14 de outubro, e a cúpula de chefes de Estado e de governo que acontecerá em Belém, nos dias 6 e 7 de novembro.
Para o presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, a perspectiva para as negociações climáticas em Belém é otimista, mas os desafios são significativos, especialmente no que diz respeito ao financiamento climático.
Em entrevista a’O Globo, o diplomata reconheceu que países ricos e pobres ainda estão muito distantes de um consenso em torno de como financiar a ação climática, mas ressaltou que os governos precisam acelerar a implementação de seus compromissos. “Se a ciência diz que você tem entre cinco e sete anos para fazer o máximo de coisas possíveis, todos os países têm de se mexer”, disse.
Segundo o embaixador, não se trata de discutir a responsabilidade histórica dos países desenvolvidos, mas de entender que se chegou a um ponto no qual os países em desenvolvimento, entre eles China, Índia e o próprio Brasil, precisam ter metas mais ambiciosas. Mas até o momento, apenas 62 países (31% do total) apresentaram suas novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs).
O Brasil e a presidência da COP29 do Azerbaijão, devem entregar até 27 de outubro um relatório apontando os caminhos para se chegar à meta de US$ 1,3 trilhão proposta para o financiamento climático global. O documento é visto como uma das possibilidades de “mapas do caminho” para destravar as finanças para o clima.
A realidade do financiamento climático global ainda é bastante complicada. Como ressaltou o Central da COP, coluna do Observatório do Clima n’OGlobo, as cifras destinadas à ação climática são minúsculas quando comparadas com os gastos militares pelas superpotências, que atingiram o recorde de US$ 2,7 trilhões.
Já na visão da diretora executiva da COP30, Ana Toni, a agenda da Conferência abrangerá três grandes tópicos: o fortalecimento do multilateralismo; mostrar como o regime climático (tudo o que é decidido no âmbito da convenção) afeta, diretamente, positivamente ou negativamente, as pessoas; e mostrar a relação do regime climático com a economia. “A ligação entre clima e economia será o coração da nossa COP. Tudo deve estar junto, porque mudança climática não é uma bolha”, assegurou.
Ainda sobre agenda, a Folha ressaltou como a adaptação às mudanças climáticas poderá ganhar um protagonismo inédito nas discussões internacionais durante a COP30. O tema foi destaque durante a Semana do Clima de Nova York, no mês passado, e está no radar da Presidência Brasileira da COP30 como uma de suas prioridades estratégicas.
“Eu diria que, da perspectiva do setor privado, adaptação se tornou uma área de interesse focada em oportunidades de negócios, não só riscos”, disse Jay Koh, diretor-geral do Lightsmith Group, companhia com sede em Nova York focada em alavancar pequenos negócios sustentáveis. Antes, Koh explica, o mercado via os riscos das mudanças climáticas como algo para o futuro, mas hoje, as empresas já sentem e avaliam seus impactos e conseguem, com isso, planejar e medir benefícios de investimentos preventivos.
Em tempo: Nesta semana, o Órgão Supervisor da Convenção da ONU sobre o Clima (UNFCCC) que trata do Artigo 6.4 do Acordo de Paris se reunirá na sede do secretariado, em Bonn (Alemanha), com a missão de definir as regras de uma peça crucial do mercado internacional de carbono: o padrão de permanência. O artigo teve seu texto final aprovado no ano passado, durante a COP29, no Azerbaijão – e agora atravessa um período de ajuste.
Entre os pontos alarmantes está a possível exclusão de soluções baseadas na natureza. Na prática, isso significa que o mecanismo deixaria de fora Povos Indígenas, Quilombolas e outras Populações Tradicionais que dependem de recursos para proteger seus territórios e sustentar seus modos de vida. Florence Lalöe (Conservação Internacional) explicou o assunto no Valor e na Central da COP.
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