24 Junho 2025
A Inteligência Artificial coloca a humanidade diante de uma encruzilhada histórica: “Ela pode abrir novos horizontes de igualdade ou fomentar conflitos”. Na Conferência do Vaticano sobre IA, o Papa adverte que a sabedoria autêntica não consiste na “disponibilidade de dados”, mas em reconhecer “o verdadeiro significado da vida”. Portanto, há uma necessidade urgente de uma reflexão séria e de um amplo debate sobre a “intrínseca dimensão ética da Inteligência Artificial e sua governança responsável”. Na IA, o graduado em matemática Robert Francis Prevost vê tanto "lados positivos" quanto "perigos". Ele elogia suas "aplicações positivas e nobres que podem promover maior igualdade e justiça, especialmente nos contextos mais frágeis". Mas alerta para o lado obscuro, as ameaças associadas ao uso mal direcionado.
A reportagem é de Giacomo Galeazzi, publicada por La Stampa, 21-06-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
"Existe o risco de que a IA seja usada indevidamente, para interesses pessoais em detrimento de outros ou, pior, para alimentar conflitos e agressões". Um alarme ético, não apenas tecnológico. A preocupação mais profunda é a perda do senso de humanidade: "O acesso aos dados, por mais amplo que seja, não deve ser confundido com inteligência, que implica necessariamente a abertura da pessoa às questões últimas da vida e reflete uma orientação para o Verdadeiro e o Bem".
Na terça-feira, o Papa havia listado na Conferência Episcopal Europeia "os desafios que colocam em questão o respeito pela dignidade da pessoa humana". Recordando precisamente "a inteligência artificial, as biotecnologias, a economia de dados e as mídias sociais que estão transformando profundamente a percepção e a experiência da vida". Nesse cenário, "a dignidade humana corre o risco de ser nivelada ou esquecida, substituída por funções, automatismos, simulações". Contudo, Leão XIV reitera: "a pessoa não é um sistema de algoritmos: é criatura, relação, mistério". Portanto, deve ser desenvolvida uma "visão antropológica como instrumento essencial para o discernimento".
Porque "sem uma reflexão viva sobre o ser humano, em sua corporeidade, vulnerabilidade, sede de infinito e capacidade de vínculo, a ética se reduz a código e a fé se torna desencarnada”. O cardeal Matteo Zuppi já havia destacado à Famiglia Cristiana: “Com a IA, há quem corra o risco de ficar para trás e perder alguns direitos. O algoritmo do coração é insubstituível”. A lição de Francisco é assumida por seu sucessor.
“Seria um futuro sem esperança se as pessoas fossem privadas da capacidade de decidir sobre si mesmas e suas vidas, condenando-as a depender das escolhas das máquinas. Devemos garantir um espaço de controle do ser humano sobre o processo de escolha de programas de inteligência artificial: a própria dignidade humana está em jogo”.
Leão XIV é um “tecnoeticista”, afirma ao La Stampa o padre Paolo Benanti, presidente da Comissão de Informação da IA, o único italiano no Comitê de Inteligência Artificial da ONU e professor da Pontifícia Universidade Gregoriana. Em sua mensagem, o Papa reitera a diferença entre a tomada de decisão humana e a escolha da máquina. A referência à tradição da sabedoria que pertence tanto à filosofia quanto à fé é significativa. É uma maneira de abrir uma reflexão à altura da situação em que as questões são decisivas. Numa época em que parece que a IA pode fazer o trabalho melhor do que os médicos, será justo substituir o que um homem costumava fazer por uma máquina? Será justo confiar em escolhas que nem sempre podem ser explicadas ou justificadas? À luz de sua abordagem multidisciplinar, Prevost espera que a IA seja uma ferramenta e não uma arma”. A agressão, aponta Benanti, “diz respeito mais à antropologia do que à tecnologia e está fora da comunhão de bens. Leão XIV chama em causa categorias da doutrina social e coloca o coração do homem no centro. Ele tem uma evidente sensibilidade pelo tema da IA. Ele não é um tecnoutópico nem um tecnopessimista; ele estabelece barreiras de proteção éticas”.
O teólogo continua: “Ele tem uma competência científica combinada com o direito canônico. Considera desenvolvimento o que se baseia na inovação tecnológica e a transforma em algo que visa o bem social. As implicações ocupacionais estão no topo de seus pensamentos, assim como estavam para Francisco”. Ele continua: “Para que os programas de IA sejam ferramentas para construir o bem e um amanhã melhor, devem sempre ser ordenados para proteger cada ser humano. O que está em jogo é a escolha de fins apropriados e isso só pode estar nas mãos do homem. Precisamos de inspiração ética e política, bem como de um tratado internacional que vincule o desenvolvimento e o uso da IA para prevenir más práticas e encorajar as boas”.