13 Mai 2025
“As palavras do Papa não são uma condenação, mas um pedido de regras. Sobre a Inteligência Artificial, Leão XIV, em continuidade com Francisco, indica o caminho para transformar a inovação em desenvolvimento.
A entrevista é de Giacomo Galeazzi, publicada por La Stampa, 11-05-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
A dinâmica é moldar um futuro em que o progresso tecnológico esteja a serviço da engenhosidade e da criatividade humanas, respeitando a dignidade de cada indivíduo”, afirma o Padre Paolo Benanti, conselheiro do Papa Francisco para as questões da IA e da ética da tecnologia, o único italiano no Comitê da ONU sobre a atual revolução digital. Robert Francis Prevost acaba de dizer que a Igreja "oferece a todos o seu patrimônio de doutrina social para responder aos desenvolvimentos da inteligência artificial, que comportam novos desafios para a defesa da dignidade humana, da justiça e do trabalho". A IA "não deve ser demonizada, mas sim compreendida e domesticada", observa o professor da Pontifícia Universidade Gregoriana, presidente da Comissão de Inteligência Artificial para a Informação.
Leão XIV condena a inteligência artificial?
Não. A preocupação do Pontífice é que a inteligência artificial seja de ajuda e não substitua os processos de conhecimento e da capacidade da mente. Já em seu serviço no Vaticano, Robert Francis Prevost pôde experimentar os novos territórios de desfaio da inteligência artificial, também no contexto da escolha dos bispos. As novas tecnologias devem ser utilizadas e experimentadas, mas devemos nos perguntar quais são as consequências de seu uso, que deve ser sempre consciente e responsável. Devemos estar atentos ao que fazemos e como o fazemos. A grande questão hoje é impor limites éticos a esses sistemas. As implicações ocupacionais e sociais da inovação estão presentes no pensamento de Leão XIV, como sempre estiveram para o Papa Francisco.
A que se refere?
Uma referência é o documento multirreligioso assinado há oito meses sobre a ética da IA em Hiroshima, cidade que testemunha as consequências de uma tecnologia destrutiva. Leão XIV reiterou a importância vital de orientar o desenvolvimento da inteligência artificial com princípios éticos para garantir que esteja a serviço do bem da humanidade. O seu é um apelo construtivo ao sentido de responsabilidade partilhada. O Pontífice está ciente do papel das religiões na construção de um mundo em que o conceito de desenvolvimento ande ao lado da proteção da dignidade de cada ser humano e da salvaguarda da nossa casa comum. Trata-se de encontrar uma forma de falar a Deus sobre o homem e ao homem sobre Deus.
Precisamos de regras sobre a IA?
O Magistério pontifício solicita as instituições para legislar e garantir que as decisões dos indivíduos não sejam influenciadas por algoritmos. É como a encíclica Rerum Novarum sobre o trabalho operário, no final do século XIX. A Igreja coopera para uma dimensão de abertura, para ter um impacto social. Leão XIV conhece a vastidão das áreas de utilização da Inteligência Artificial. Da medicina ao mundo do trabalho, da cultura à comunicação, da educação à política. O Papa quer abrir uma reflexão à altura da situação. As questões são cruciais. No momento em que parece poder fazer o trabalho melhor do que os doutores, é correto substituir o que um homem costumava fazer por uma máquina? É correto se entregar a escolhas que nem sempre podem ser explicadas ou justificadas? Até onde pode ir a ideia de lucro, de eficiência, em relação aos direitos fundamentais que são o cuidado e a proteção das pessoas? Questões fundamentais.
Mas isso não corre o risco de ser um novo caso Galilei. Qual é a resposta do Papa?
Precisamos colocar a pessoa e seu direito à vida e ao trabalho no centro. Há quatro séculos, tínhamos medo de uma invenção, o telescópio. Hoje, outra invenção, a Inteligência Artificial, nos assusta, nos faz pensar que devemos ter medo. Mas será mesmo assim? Precisamos investigar mais essa questão para evitar que acabe como o telescópio também desta vez. Hoje, a máquina faz, realiza uma escolha técnica entre várias possibilidades e se baseia em critérios bem definidos ou em inferências estatísticas. O ser humano, por outro lado, não apenas escolhe, mas no seu íntimo é capaz de decidir.
Como a Inteligência Artificial pode ser governada?
É preciso da política. Para que os programas de IA sejam ferramentas para a construção do bem e de um futuro melhor, eles devem sempre estar orientados para o bem de cada ser humano. Devem ter uma inspiração ética. Essas questões não podem ser reduzidas a simples medos, mas sim para a criação de barreiras de proteção que domestiquem essa máquina para uma nova fase de nossa existência.