21 Junho 2025
Nota do editor: “A Vida Espiritual com Pe. James Martin, SJ” é um novo podcast da America Media que se concentra em como as pessoas experimentam Deus na oração e em suas vidas diárias. Lançado em 17-06-2025, o programa combina sabedoria prática com reflexões profundas de mestres espirituais como Joyce Rupp e o Cardeal Timothy Radcliffe, além de buscadores conhecidos como Stephen Colbert e Whoopi Goldberg — todos explorando o mistério da atuação de Deus em suas próprias vidas. Para acompanhar cada episódio, o Pe. Martin reflete sobre a experiência e oferece conselhos práticos sobre alguns temas espirituais. Você pode ouvir todos os episódios de “A Vida Espiritual” aqui.
Colunas como esta, escritas pelo Pe. Martin, acompanharão cada episódio. A partir desta primeira coluna, elas estarão disponíveis exclusivamente para assinantes. Clique aqui para conhecer todas as opções de assinatura da revista America.
A informação é do padre jesuíta James Martin, publicada por America, 17-06-2025.
O Cardeal Timothy Radcliffe, OP, é a pessoa perfeita para inaugurar nosso novo podcast, “A Vida Espiritual”. Inicialmente, eu o conhecia principalmente pela sua reputação e pelos seus textos sempre belamente escritos, profundamente perspicazes e provocativos sobre a vida espiritual. Mas foi apenas durante minha participação no Sínodo dos Bispos que passei a conhecê-lo como amigo.
Curiosamente, foi durante a segunda sessão do Sínodo, em outubro do ano passado, que todos soubemos que o Papa Francisco, alguns meses depois, o nomearia cardeal. Eu lhe disse que já imaginava que isso poderia acontecer (afinal, ele foi um dos dois pregadores do retiro espiritual para os membros do sínodo), mas ele, sinceramente, afirmou que ficou chocado. Agora, ele possui, como se diz no Vaticano, um “barrete vermelho”, o que lhe deu direito a votar na eleição do Papa Leão XIV, no recente conclave. Foi uma alegria ver um amigo se tornar cardeal e saber que ele participou da eleição de Leão.
A amizade, na verdade, é um dos temas da nossa conversa no podcast, assim como foi um dos temas das suas meditações durante os retiros oferecidos aos participantes do sínodo em 2023 e 2024. Como aponta o Cardeal Radcliffe, trata-se de um aspecto subestimado da vida espiritual. Isso acabou se tornando um tema central para os delegados durante o sínodo, graças às reflexões do cardeal: “A colegialidade afetiva”, dizia ele, citando São João Paulo II, “precede a colegialidade efetiva.” Ou seja, se você vai conversar com alguém sobre questões difíceis — na verdade, sobre qualquer questão — é importante fazê-lo, antes de tudo, como amigos.
Há muitos aspectos da nossa conversa no podcast que eu gostaria de destacar. Radcliffe fala sobre vulnerabilidade e sobre como fazer perguntas sinceras é um caminho para buscar pontos em comum em meio às nossas diferenças (algo de que todos precisamos hoje); reflete sobre como a “particularidade” das outras pessoas revela o amor de Deus de forma concreta; e compartilha como, inicialmente, lutou com o silêncio na oração, mas depois passou a vê-lo como uma bênção. “O silêncio no início da criação”, ele diz, numa imagem poderosa, “está cheio de potencial”.
Mas quero destacar especialmente uma parte dessa conversa que me tocou profundamente, e que também foi um tema que ele usou durante o sínodo. Digo isso porque, como jesuíta há 40 anos e sacerdote há 25, sinto que já ouvi todas as possíveis interpretações e reflexões sobre as passagens conhecidas do Evangelho. No entanto, quando o Cardeal Radcliffe usou a imagem da rede de pesca de São Pedro para explicar a amizade, isso me surpreendeu completamente. Ele apontou que as redes possuem tanto “nós” quanto “espaços”, e é isso que permite à rede segurar tantos peixes. Se houver nós demais, não há espaço para que a rede se expanda. Se houver espaços demais, os peixes escapam.
“É preciso realmente se entrelaçar uns com os outros na amizade”, ele me disse, “mas também é preciso deixar espaço. Você não pode devorar o outro. Não pode engoli-lo”.
Isso mudou não só minha forma de olhar para a amizade, mas também para a própria Igreja. De todo modo, sei que você vai apreciar essa belíssima conversa com um dos grandes mestres espirituais do nosso tempo.