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21 Junho 2025

"Sua preciosa herança, por fim, consiste em ter oferecido um caminho espiritual autêntico e livre, capaz de inspirar qualquer um que esteja em busca de um sentido profundo da vida, um significado religioso, em um mundo cada vez mais secularizado".

O artigo é de Isabella Adinolfi, política italiana e membro do Parlamento Europeu pela Itália desde 2014, publicado por Settimanna News, 15-06-2025. 

Eis o artigo. 

Não tenho coisa que ame de maior valor do que aquilo que me falta, porque, se aquilo que amo me pertencesse, meu amor minguaria na escassez — Margherita Porete

O início do romance "A Noite das Beguinas" de Aline Kiner nos transporta para a vibrante e tumultuosa Paris do século XIV, no bairro do Marais, onde se erguia o Grande Beguinagem Real. O Béguinage era um oásis de autonomia e espiritualidade feminina dentro da cidade. Kiner assim descreve as beguinas que o habitavam:

Aqui, e nos bairros vizinhos, viveram por quase um século mulheres notáveis. Inclassificáveis, escapando a qualquer definição, elas recusavam tanto o casamento quanto o claustro. Oravam, trabalhavam, estudavam, circulavam pela cidade sem restrições, viajavam e recebiam amigos, dispunham de bens, podiam transmiti-los às irmãs. Independentes e livres. Uma liberdade de que nenhuma mulher até então jamais havia desfrutado, nem poderia desfrutar por séculos. Nem todas estavam conscientes disso. Mas algumas lutaram para conservá-la, essa liberdade. Por anos, percorrendo as vielas do Marais, procurei seus rastros. Dia após dia, essas mulheres vieram ao meu encontro, sombras fortes e leves.

Ao longo do romance, a execução de Marguerite Porete – queimada viva por ter escrito a obra "O Espelho das Almas Simples e Aniquiladas", considerada herética pelas autoridades eclesiásticas – assume um profundo significado simbólico. Este evento lançou uma sombra sinistra sobre a comunidade das beguinas, que passaram a ser cada vez mais percebidas como uma ameaça à ortodoxia. Eram, de fato, por sua independência, por sua espiritualidade muito livre e pessoal.

"Beguina" define-se Romana Guarnieri, uma das místicas leigas do século XX, sobre as quais o livro de Lucetta Scaraffia, "Deus não é assim", acende os holofotes. As outras são Catherine Pozzi, Charlotte von Kirschbaum, Adrienne von Speyr, Banine, Elisabeth Behr Sigel, Simone Weil, Chiara Lubich. O que as une é um fio invisível, um sentimento contido no título do livro, que fala do seu desejo de uma compreensão pessoal e autêntica de Deus, para além das propostas tradicionais e das formas antigas, a busca audaciosa de um Deus não narrado, mas vivido, para um novo encontro.

Essas mulheres – anota Scaraffia – encarnam uma nova forma de misticismo feminino, leiga, livre, aventureira, que se insere no mais amplo movimento de emancipação feminina do século XX. Independentemente de suas filiações religiosas, elas visaram renovar por dentro suas confissões ou promover um ecumenismo concreto. Suas vidas, na maioria caracterizadas por profissões intelectuais e por experiências afetivas frequentemente fora das formas convencionais, distinguem-se das das místicas tradicionais, muitas vezes ligadas ao sofrimento físico e provenientes de contextos mais humildes (como Marthe Robin e Teresa Neumann). Suas escolhas e seus projetos foram revolucionários, lançando as bases para um papel mais autêntico e igualitário das mulheres na Igreja e na sociedade, evidente nos modelos comunitários de Adrienne von Speyr e Chiara Lubich.

Deixando ao leitor o prazer de percorrer os interessantíssimos itinerários existenciais e espirituais de Charlotte von Kirschbaum, Adrienne von Speyr, inspiradoras dos dois maiores teólogos do século XX, Karl Barth e Hans Urs von Balthasar, e os de Elisabeth Behr Sigel e Chiara Lubich, que renovaram por dentro o cristianismo ortodoxo e o católico, nesta resenha me deterei nos retratos de Romana Guarnieri, Banine, Catherine Pozzi, Simone Weil.

Romana Guarnieri: uma ponte entre épocas

Para introduzir o livro de Lucetta Scaraffia, começo pelo retrato de Romana Guarnieri por um motivo que me parece importante. A vida e as descobertas desta estudiosa original e corajosa lançam uma ponte entre épocas diversas, entre as beguinas medievais e as místicas modernas, permitindo entrever aquele elo subterrâneo que as une, para além e aquém das importantes diferenças que Scaraffia corretamente destaca em seu livro.

Guarnieri é conhecida por ter redescoberto obras fundamentais, como "O Espelho das Almas Simples" de Margherita Porete, que se acreditava perdido, e pela tradução e reconhecimento das poesias místicas e das cartas de Hadewijch de Antuérpia, abrindo assim uma nova e frutífera linha de pesquisa sobre as pinchoqueras ou beguinas.

Apesar de seu gênio e de sua generosidade ilimitada em apoiar outros pesquisadores, incluindo a própria Scaraffia, que no livro conta como Guarnieri a ajudou em sua pesquisa sobre Rita de Cássia, os ambientes acadêmicos tradicionais – tanto leigos quanto católicos – tendiam a olhar com desconfiança sua paixão intelectual e sua autonomia de pensamento, elementos que contribuíram para relegá-la a uma posição discreta em relação à figura mais institucional de Dom Giuseppe De Luca, do qual foi assídua e criativa colaboradora.

O encontro em 1938 com este corajoso sacerdote meridional e intelectual refinado marcou, de fato, o nascimento de "uma singular amizade" entre os dois e foi crucial para Romana, que encontrou nele não apenas um colega e amigo fiel, mas também o propósito de sua vida: devolver prestígio à cultura católica através das Edições de História e Literatura, abrindo-a ao confronto com o mundo intelectual leigo.

Scaraffia, no capítulo dedicado a Guarnieri, sublinha como o reconhecimento do valor das pesquisas de Romana Guarnieri não veio do mundo acadêmico, mas do feminismo militante, e em particular de Luisa Muraro, figura central de Diotima, comunidade filosófica feminina fundada em Verona em 1983, que compreendeu o alcance revolucionário das descobertas de Romana, especialmente em relação a Margherita Porete, cuja obra, segundo a estudiosa veronesa, está nas origens da mística ocidental, influenciando o pensamento filosófico de Meister Eckhart até Heidegger.

Romana Guarnieri – anota Scaraffia – unia uma abordagem historiográfica rigorosa a uma profunda paixão espiritual, vendo as santas como amigas pessoais e companheiras de viagem. Essa sua perspectiva única, que fundia história e espiritualidade sem jamais cair na hagiografia, não encontrou e não podia encontrar acolhimento no fechado, por vezes estreito, âmbito universitário.

Embora nunca tenha recebido o pleno reconhecimento das instituições de seu tempo, Romana encarnou uma liberdade espiritual que contribuiu de forma fundamental para reescrever uma parte essencial da história cultural europeia e da espiritualidade feminina. Este resultado está, aliás, totalmente em linha com a Ruah de Deus, da qual ela era apaixonada, e que, como se lê nas Escrituras, "sopra onde quer". Para ela – escreve Scaraffia – "as longas e apaixonadas discussões com Luisa Muraro foram fecundas e importantes, e ela conservou os registros intuindo seu alcance para uma história futura da relação entre duas mulheres tão diversas, que juntas reescreveram um pedaço da história da cultura europeia". E – pouco depois – reporta o que a estudiosa veronesa, recordando esses encontros, escreve a propósito de Guarnieri:

Sim, era uma mulher livre e o era graças a Deus. Era uma beguina. Por anos, continuei a estudar "O Espelho das Almas Simples", a ler as escritoras místicas, as nórdicas e as italianas, no caminho que ela havia percorrido, e depois a conversar novamente com ela. E não percebia o que estava diante dos meus olhos, até que Romana decidiu me dizer explicitamente. Estávamos falando de Joana d'Arc, no esforço de captar sua figura histórica de jovem mulher transpassando os estereótipos heroicos que a envolvem. "Joana era uma beguina", disse Romana, "isso explicaria sua personalidade dotada de tanta independência espiritual", acrescentou. Parecia-me que não havia contexto histórico para considerá-la tal, uma beguina, ao que Romana exclamou: "Ser beguina é uma escolha que se renovou em diversos contextos, eu sou!" (Ibid., p. 147).

Banine: a busca de Deus a partir do ateísmo

Moderna, totalmente moderna, é a conversão de Banine (nome verdadeiro Umm el-Banine Assadoulaeff, 1905-1992), e Scaraffia a narra de forma tão cativante que a torna uma experiência vívida, ressonante, capaz de nos interpelar pessoalmente.

Nascida em Baku em uma família rica e ocidentalizada, Banine chegou a Paris aos 16 anos, em 1921. A energia do sobrevivente, que a impulsionou a fazer mil ofícios para se sustentar após a perda súbita das fortunas familiares devido à revolução bolchevique, manifestou-se com ímpeto em sua apaixonada devoção por Ernst Jünger. O encontro deles, ocorrido em 1943 enquanto ele era um oficial do exército ocupante, foi para ela um amor à primeira vista, enquanto para ele, observa Scaraffia de forma incisiva, permaneceu uma anotação distante no diário.

Banine foi fascinada pela personalidade de Jünger e dedicou-lhe anos de intenso trabalho, traduzindo suas obras e promovendo-as na França. No entanto, seu amor, uma profunda "fome de amor" que a perseguia desde a infância órfã de mãe, foi muitas vezes frustrado pelo escritor alemão, a quem ela idealizava como um herói sofredor. Determinada a libertar-se dessa relação masoquista e destrutiva, Banine se viu de repente sem algo que a ocupasse, pobre e desesperada, e chegou a pensar em suicídio.

Nessa profunda amargura, porém, abriu-se-lhe uma nova dimensão: um diálogo interior que a conduziu à conversão ao cristianismo. Sua conversão – sublinha Scaraffia – não foi do Islã (religião de nascimento superficialmente praticada em uma família laicizada) para o cristianismo, mas sim a passagem de um ateísmo cético para a busca apaixonada de Deus. Essa intensa jornada espiritual é narrada por Banine com lucidez e ironia em seu livro "Escolhi o Ópio", cujo título provocador, em referência a Marx, sublinha sua audácia.

O distanciamento de Jünger, embora doloroso, foi, portanto, o catalisador de sua experiência mística. "Escolhi o Ópio" é o diário dessa transformação interior, no qual Banine analisa com sinceridade impiedosa sua própria desesperança e a gradual descoberta da luz da graça. Seu percurso, embora semelhante ao de outros convertidos, é único por sua transparência e sua constante autoironia. Banine, precisa Scaraffia, aceitou a Igreja com suas imperfeições, vendo-as como um sinal de sua humanidade, que a tornava mais acessível e aberta a pessoas imperfeitas, humanas, justamente como ela. Isso lhe permitiu chegar ao batismo, tornando-se, como ela mesma afirmou com orgulho, a primeira muçulmana convertida a documentar seu próprio percurso espiritual.

O livro, elogiado por teólogos renomados como Jean Daniélou, mas na maioria das vezes mal compreendido em sua profundidade, revela como a "fome de amor" e a busca do absoluto atravessaram toda a vida de Banine, desde sua relação com a natureza caucasiana, seus amores juvenis, e o sofrido laço afetivo com Jünger, culminando em sua busca por Deus. Sua capacidade de olhar a vida com lucidez e ironia, conclui Scaraffia, revela uma profunda compreensão da condição humana e uma espiritualidade que lhe permitia encontrar significado e perspectiva mesmo nas dificuldades mais extremas.

Catherine Pozzi: a mística da “Fome de Amor”

A mesma "fome de amor", a mesma dedicação a um homem profundamente amado que, frustradas, culminam no amor por Deus, reencontramo-las na história de Catherine Pozzi, outra mística contada por Scaraffia. É, aliás, um percurso que se repete com frequência, como demonstra também o caso exemplar de Etty Hillesum, que Wanda Tommasi, estudiosa atenta da mística feminina, explica assim: "Não é a desilusão amorosa que as impulsiona para a fé, mas é precisamente a própria vivência do apaixonamento que lhes permite experimentar que o seu centro de gravidade não está nelas mesmas, mas em um outro, no homem apaixonadamente amado. Em seguida, este centro de gravidade, sempre colocado fora de si, será posto em Deus" (W. Tommasi, "Viver Deus aqui e agora. A sabedoria mística de autoras do nosso tempo", Milão, Figlie di S. Paolo, 2023, p. 28).

Em outras palavras, é a saída de si, a negação daquele eu odioso, centro de tudo, que ocorre na experiência do amor verdadeiro, profundo, desinteressado por outro ser humano, que torna perceptível aquele desejo absoluto de Absoluto e, assim, desencadeia aquele movimento afetivo que encontra cumprimento, quietude e plena satisfação no amor por Deus. "Tu nos fizeste para ti, Senhor, e o nosso coração está inquieto enquanto não repousa em ti", recita o célebre início das "Confissões".

Pozzi (1882-1934) foi uma poetisa e intelectual francesa cuja profunda espiritualidade, secretamente cultivada durante a vida, só foi plenamente reconhecida após sua morte. Michel de Certeau, o maior estudioso da mística moderna, elevou-a à figura exemplar da espiritualidade contemporânea, comparando-a à poetisa medieval Hadewijch de Antuérpia. Em sua poesia "Ave", Certeau reconheceu "um novo modo de caminhar" em direção àquele "desejo sem nome" que caracteriza a busca mística moderna.

Criada na alta burguesia parisiense, filha do renomado cirurgião Samuel Pozzi, Catherine viveu desde a infância entre as luzes da mundanidade e as sombras dos conflitos familiares. Viver no centro das tensões entre os pais a marcou profundamente, deixando-lhe uma "dor espiritual" que, com o tempo, talvez se somatizou na longa e debilitante doença que a afligiu por muitos anos, a tuberculose.

Apesar das expectativas sociais de sua época a destinarem unicamente a um casamento de conveniência, Catherine recusou um destino pré-fabricado. Sua sede de conhecimento, não satisfeita por uma educação formal limitada às "senhoritas", a impulsionou a se tornar uma autodidata incansável, dedicando-se a estudos de grego antigo, física quântica, filosofia. Sua busca por um "amor absoluto" a levou a repetidas desilusões. Mesmo o decisivo encontro com o poeta Paul Valéry, embora caracterizado por uma intensa sintonia intelectual e espiritual, revelou-se uma nova fonte de frustração. Valéry não estava disposto a sacrificar por ela sua vida mundana e familiar, condenando Catherine, profundamente apaixonada, a experimentar a dolorosa realidade de um amor nunca plenamente correspondido.

É precisamente nesta série de desilusões – escreve Scaraffia – que se enraizou sua busca por Deus. Não estando ligada desde a infância a tradições religiosas específicas – apesar de uma avó católica e um avô pastor protestante –, Catherine empreendeu um percurso espiritual autônomo e intenso. Como Simone Weil, com quem compartilhava a abordagem intelectual da fé e uma certa distância da Igreja institucional, Pozzi buscou Deus fora dos cânones preestabelecidos. Sua "ardente busca do absoluto" a conduziu a um diálogo íntimo e incessante com o divino.

Sua vida foi um hino à liberdade intelectual e espiritual, mas também ao corpo, porque é evidente, escreve, que, "quando funciona subtraindo-se ao corpo, o próprio espírito decresce". Até seus últimos dias, Catherine continuou a estudar, a escrever e a cuidar de sua elegância, que considerava uma expressão de "pureza", um "exercício de vontade" e uma "presença do divino no detalhe". Suas poesias e seu diário, publicados postumamente por sua vontade, representam o testemunho luminoso de uma mulher que, através da dor e da busca incessante, encontrou um amor que superava todo limite humano.

Simone Weil: gênio, contradições e a busca da verdade

Finalmente, nesta resenha, gostaria de me deter no retrato que Scaraffia traça de Simone Weil, que no livro representa um capítulo à parte, pois é uma figura de mística com a qual, embora apreciando suas geniais qualidades de pensadora, a estudiosa não está em sintonia.

Simone Weil (1909-1943) é uma mística e filósofa francesa cuja obra, em grande parte póstuma e fragmentária, tornou-se, por sua profunda espiritualidade e intenso compromisso intelectual, um ponto de referência para ateus e católicos, para filósofos e poetas.

Na "Autobiografia Espiritual", a própria Weil relata ter vivido uma experiência mística que marcou profundamente sua relação com o Deus cristão. Embora se definisse católica e declarasse crer em cada dogma do catolicismo, permaneceu sempre "no limiar" da Igreja, nutrindo uma profunda desconfiança em relação à instituição eclesiástica, que considerava estranha à verdadeira vida espiritual. A "religião verdadeira" era, para ela, a dos místicas, não a institucional.

Essa posição de profunda espiritualidade, sem plena adesão à fé codificada pela tradição, observa Scaraffia, contribuiu para seu vasto sucesso no mundo contemporâneo, onde a vaga espiritualidade é buscada, enquanto a fé, que é sobretudo obediência, suscita desconfiança.

Scaraffia, então, tece algumas críticas à literatura secundária weiliana pelo tom hagiográfico com que retrata a pessoa e o pensamento de Weil. Grande parte dessa literatura a apresenta como constantemente engajada em favor dos últimos e dos fracos. Embora Weil tenha de fato participado de experiências como o sindicalismo, o trabalho em fábrica, a guerra civil espanhola, o pacifismo..., Scaraffia sublinha como há uma lacuna significativa nessa narrativa: a falta de envolvimento da filósofa na perseguição aos judeus em um período histórico em que eles eram indiscutivelmente "os últimos".

Scaraffia, referindo-se nesta interpretação ao livro "Chez les Weil: André et Simone" de Sylvie Weil (sobrinha de Simone e filha de André), acredita que essa recusa foi em parte determinada pelo contexto familiar: uma família de judeus assimilados, intelectuais de formação iluminista, para quem a religião representava uma herança do passado.

Certamente, trata-se de uma questão delicada, que embaraçou os exegetas, e confesso que pessoalmente não consigo explicar as razões profundas da cegueira dos juízos de Weil sobre o Antigo Testamento e sobre a tradição judaica em geral. No entanto, penso que, no seu caso, é preciso ter em mente a distinção entre antijudaísmo e antissemitismo. Durante o congresso sobre Simone Weil realizado em Cerisy em 1974, Gilbert Kahn observou que "nove décimos do que Simone escreveu sobre os Judeus dizem respeito ao Antigo Testamento".

Aproveitando esta indicação, considerei o seu um antijudaísmo religioso de matriz e tradição gnóstica. Creio, em outros termos, que a polêmica de Weil contra Israel deriva de uma incompatibilidade religiosa, de motivos teológicos e não raciais. Contudo, sei que Emmanuel Lévinas não é da mesma opinião e que julgou com severidade tanto a leitura parcial e facciosa da Bíblia hebraica por Weil, quanto algumas de suas posições políticas, sublinhando o forte desconforto que estas lhe provocavam.

No livro de Scaraffia, a atitude de Simone em relação aos judeus é interpretada, como já mencionado, como consequência da forte influência exercida sobre ela pela mãe, que, tendo antipatia pela piedosa sogra praticante, teria tido um papel decisivo nessa dinâmica. Da mesma forma, e pela influência materna, Simone também teria manifestado uma nítida recusa da própria feminilidade. Criada em uma família em que a mãe preferia o filho homem e desejava que ela também fosse um homem, Simone teria mortificado seu corpo feminino, adotando um modelo de vida e um aspecto masculinos.

Com certeza, a influência da família sobre cada um de nós, sobre nossas convicções mais íntimas, é poderosa. No entanto, talvez erradamente, considero que o livro de Sylvie Weil não é totalmente confiável e que a questão da difícil relação de Weil com o judaísmo e com sua feminilidade é mais complicada e depende em parte de sua predileção pelo pensamento grego e em parte de uma certa atmosfera cultural.

Apesar de suas contradições e de sua figura complexa, no entanto, também para Scaraffia, Simone Weil permanece uma intelectual fascinante e uma mística cuja busca por Deus e pela verdade continua a inspirar e interrogar. Sua experiência mística, que Weil descreve como um encontro direto com Cristo, foi um evento transformador que a levou a conceber a verdade como algo recebido, uma luz que ilumina a alma. O mérito indubitável de Weil é ter procurado legitimar intelectualmente a mística, tornando-a acessível à vida moderna e vivificando a experiência cristã.

O misticismo contemporâneo e o futuro da fé

Concluindo, em seu livro, Lucetta Scaraffia sublinha como o misticismo no século XX foi frequentemente marginalizado, encontrando hostilidade tanto das instituições eclesiásticas quanto do mundo acadêmico. Apesar disso, o sucesso contemporâneo dessas místicas leigas revela sua profunda capacidade de responder a uma necessidade espiritual difundida, que as religiões tradicionais já têm dificuldade em satisfazer. Suas experiências, muitas vezes não reconhecidas pelas instituições, representam uma busca direta e não mediada do divino. Essa busca as impulsionou a romper com as convenções sociais e religiosas, incluindo os papéis de gênero predefinidos.

Sua preciosa herança, por fim, consiste em ter oferecido um caminho espiritual autêntico e livre, capaz de inspirar qualquer um que esteja em busca de um sentido profundo da vida, um significado religioso, em um mundo cada vez mais secularizado.

Essa última menção à dificuldade de crer hoje nos modos transmitidos pela tradição me oferece a oportunidade para uma última observação de caráter mais pessoal. O tema abordado por Scaraffia é de grande relevância, especialmente no contexto atual, pois nos convida a questionar a distância entre a fé dos antigos e a mística dos modernos, particularmente no quadro do declínio do cristianismo em nosso mundo (ocidental) secularizado.

No início do século XX, em uma troca epistolar entre Loisy e Fogazzaro, expressava-se a convicção de que o futuro do cristianismo seria confiado à conjunção de crítica e mística. Agora, lendo o livro de Scaraffia, esse pensamento ressurge com força, acompanhado pelas agudas observações de Ernst Troeltsch, que em 1903 escrevia que já há quase dois séculos se encontrava "uma atitude distanciada em relação à tradição eclesial". Tal distância, acrescentava, poderia levar a dois desfechos: ou a "uma acepção substancialmente modificada" da ideia e essência do cristianismo, ou a "uma religiosidade", professada "em termos geralmente independentes em relação às religiões históricas", conotada "em sentido ético e artístico", que, embora pudesse por vezes coincidir com o cristianismo, era, contudo, percebida como uma forma especificamente moderna de religiosidade.

Em sua monografia de 1912 sobre as doutrinas sociais das igrejas e dos grupos cristãos, Troeltsch retornou ao ponto, observando que o misticismo representa uma redução à interioridade e à imediatez do patrimônio simbólico e doutrinário consolidado no culto da igreja. Este patrimônio torna-se assim uma posse exclusivamente pessoal e íntima, em torno da qual se formam grupos fluidos, ligados por vínculos eminentemente individuais, enquanto culto, dogma e memória histórica tendem a dissolver-se. Acrescentava, então, um detalhe relativo ao que acontecia em seus anos, importante também em relação ao livro de Scaraffia, em que essa combinação é várias vezes sublinhada: "O misticismo tem afinidade eletiva com a autonomia da ciência, e oferece asilo à religiosidade de elementos educados cientificamente; nos estados incultos torna-se orgiasmo [poder-se-ia pensar na posterior fortuna do nacional-socialismo – religião do sangue e da raça] e devoção sentimental".

Ora, a seleção das místicas operada por Scaraffia atesta, parece-me, precisamente esta situação do cristianismo no Ocidente e, mais genericamente, das religiões no resto do mundo que se ocidentalizou, quer se integrando nele quer opondo-se a ele.

A própria Weil, que como um sismógrafo registrava todos os movimentos de sua época, já prenhe da nossa, anotava nos "Cadernos": "É preciso uma nova religião. Ou um cristianismo tão modificado a ponto de ter se tornado outra coisa".

Mas trata-se de uma mudança do velho cristianismo ou de sua morte? De uma passagem, tão delicada quanto indispensável, para dar nova seiva, nova expressão vital à antiga fé na situação moderna ou do fim da própria fé? Creio que este seja o ponto. O velho Deus, o Deus tapa-buracos, morreu, como escreveram Nietzsche e Bonhoeffer, mas a antropologia cristã – a ideia de ser humano que o cristianismo descobriu ou forjou – ainda está surpreendentemente viva, como demonstra a mística contemporânea. Ela se manifesta frequentemente em formas de espiritualidade profundas mas indeterminadas, desprovidas de uma referência transcendente definida, preferindo expressar-se, ousaria dizer consumir-se, na poesia, na arte, no amor pela natureza… É uma experiência interior que, embora intensa, assemelha-se cada vez mais a um bateau ivre: fascinada pelo fluir, mas desprovida de ancoragem, sem um porto seguro para onde se orientar.

A citação de "A Noite das Beguinas", de onde tirei a inspiração inicial para esta resenha, encerra-se com as palavras da autora que assim descreve sua relação com as beguinas medievais: "Senti suas risadas e seus cânticos, o barulho de seus passos na calçada, percebi na pele o mesmo sol que havia aquecido a delas, e nas narinas o cheiro do rio próximo. Sonhamos, trememos, caminhamos lado a lado. Como companheiras separadas pelo tempo, mas que desejos, medos e rebeliões reuniram em um mesmo acordo, em um mesmo eco distante."

Precisamente como na experiência narrada por Kiner, parece-me que Lucetta Scaraffia, em seu belo livro, empreendeu uma viagem empática pela mística moderna, descobrindo, juntamente com suas amadas beguinas, que a existência de Deus se revela na distância insuperável entre aquilo que podemos agarrar com nossas próprias forças e aquilo que somos capazes de desejar. Um desejo absoluto, infinito, que, no entanto, se não encontra uma realidade viva e concreta a que se dirigir, corre o risco de se dissolver em uma espiritualidade vaga, indistinta, uma ansiedade romântica. Um amor, mais uma vez, não correspondido. Um amor infeliz.

É precisamente este sentido de tensão pungente, absoluta, infinita, mas também de espera por um cumprimento, que o poema "Ave", na sugestiva tradução de Paolo Bettiolo, consegue restituir plenamente:

Ave.
Altíssimo amor, se pode acontecer que eu morra
Sem ter sabido de onde te tive,
Em qual sol estava a tua morada
Em qual passado o teu tempo, em qual hora
Eu te amava, Altíssimo amor, que transcendes a memória,
Fogo sem lareira de que fiz meu dia,
Em qual destino inscrevias a minha história,
Em qual sono se via a tua glória,
Oh minha morada… Quando eu estiver perdida para mim mesma
E dividida pelo abismo infinito,
Infinitamente, quando eu estiver quebrada,
Quando o presente de que estou vestida
Houver traído,
Do universo em mil corpos despedaçada,
De mil instantes ainda não colhidos,
De cinza nos céus ao nada lançada,
Tu refarás para uma estranha safra
Um único tesouro
Tu refarás meu nome e minha imagem
De mil corpos levados pelo dia,
Viva unidade sem nome nem rosto,
Coração do espírito, oh centro da miragem,
Altíssimo amor.

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