20 Mai 2025
No domingo assistimos à inauguração do pontificado de Leão XIV, a cerimônia que outrora era chamada de “coroação”.
A reportagem é de Barbara Carnevali, publicada por La Stampa, 19-05-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Acompanhado em procissão por cantos e louvores, o papa recebeu o pálio e o anel do pescador, símbolos do seu poder pastoral. Estudando esse espetáculo com os olhos da razão além daqueles da fé, como já fizemos para o funeral de Bergoglio, tentamos refletir sobre o significado do aparato cerimonial da Igreja Católica e sobre a relação entre estética e religião.
A solenidade com que Leão XIV interpretou a liturgia, ampliando o rito da obediência (dos seis cardeais de Francisco para doze representantes de todo o povo de Deus, incluindo os leigos) e enfatizando o protocolo, parece confirmar que, apesar das continuidades declaradas, seu estilo pontifical será distinto daquele de seu antecessor. Já o havíamos intuído a partir da escolha do nome: Leão XIV é o décimo quarto de uma série que se perpetua por toda a história eclesiástica e exige exegese histórica e teológica; Francisco era um nome original, de ruptura, e todos compreenderam imediatamente sua mensagem.
A maneira de oficiar a primeira bênção também foi muito diferente. Bergoglio começou com um embaraçado "boa noite!" e um discurso improvisado e coloquial, que alternava saudações e orações; apresentou-se inteiramente de branco, sem sobrevestes e, sobretudo, sem estola, o sinal distintivo da suprema dignidade do pontífice: vestiu-a apenas para abençoar, sinalizando claramente seu distanciamento do papel. Prevost apareceu na sacada com um discurso escrito, mais longo e articulado, em uma atitude mansa, mas de autoridade, vestido com a estola, a mozeta vermelha e as vestes em várias camadas (que amplificam a figura do papa em comparação com a das pessoas comuns e dos outros eclesiásticos). Ele se mudará para o Palácio Apostólico, sede da representação, e recuperou a paleta clássica de branco e vermelho, da qual Francisco havia eliminado o púrpura, cor da paixão de Cristo, mas também do poder, segundo o simbolismo político greco-latino que inspira aquele do Vaticano. O novo papa, em suma, parece querer restaurar sentido ao cerimonial despojado até o osso por Francisco para reconectar o diálogo interrompido com a tradição e a cúria.
Comparando os estilos papais do segundo pós-guerra com os de hoje (excluindo o breve parêntesis do Papa Luciani), parece emergir uma curiosa lei de alternância. Um papa "celestial", com um estilo mais abstrato e distante (Pio XII, Paulo VI, Bento XVI), é sempre seguido por um papa "terreno", mais próximo das pessoas, com modos informais e afáveis (João XXIII, João Paulo II, Francisco).
Quanto mais o papa se comunica horizontalmente, menos aparece a verticalidade. Quanto maior a forma, menor a vida, a concretude humana e existencial. Considerando o corpo do papa como o de um ator que interpreta um papel em uma cena, podemos também notar que nos papas de estilo mais moderno e popular prevalece uma fisicalidade encarnada, o corpo do indivíduo terreno (Wojtyla, "o atleta de Deus", as "carícias" de Roncalli, os "humores" de Bergoglio), enquanto nos papas celestiais prevalece o status, o prestígio do vigário de Cristo envolto por uma aura impenetrável.
A figura de Ratzinger é emblemática: teólogo acadêmico, tinha um aspecto professoral um tanto rígido e adorava se vestir com vestimentas e acessórios obsoletos: nas imagens mais icônicas, sua pequena figura desaparece sob chapéus e gorros de design bizarro, como o saturno ou o camauro debruado de arminho, que ele recuperou do antigo guarda-roupa papal. Na alternância entre papados celestiais e terrenos, articulam-se as escolhas com as quais cada papa interpreta "seu" cristianismo, como modo de viver e encarnar a exemplaridade: o estilo jesuíta-franciscano de Francisco será seguido pelo estilo agostiniano de Prevost. Mas, como já abordei esse tema em um artigo anterior, gostaria de me concentrar em um aspecto mais doutrinário.
Os aparatos simbólico-cerimoniais são um meio entre o Papa e os fiéis, mas antes disso, entre o divino e o humano. Uma tradição teológica específica, retomada no século XX por Hans Urs von Balthasar, defende que, por meio deles, a glória divina se manifesta na terra. Assim, Bento XVI exaltava o papel da beleza na liturgia: "Não é mero esteticismo, mas modalidade com que a verdade do amor de Deus em Cristo nos alcança, fascina e arrebata, fazendo-nos sair de nós mesmos e atraindo-nos assim para a nossa verdadeira vocação: o amor" (da exortação apostólica Sacramentum Caritatis). Na origem dessa ideia está Platão, que concebia a beleza como um elevador para a transcendência.
Dada a importância que a filosofia platônica teve para Agostinho, não me surpreenderia se Prevost restaurasse a estética a um papel central na doutrina do amor cristão. Mas a beleza também é um meio de prestar homenagem a Deus, de reconhecer Sua dignidade superior. É por isso que as vestes e os aparatos sagrados devem ser esplêndidos e, acima de tudo, preciosos: pedras raras, metais reluzentes, sedas e veludos, bordados e incrustações aspiram a representar e materializar o valor de Deus em objetos e formas sensíveis (é o que comumente fazemos ao oferecer uma joia a uma pessoa amada). A ideia de que a beleza tenha uma função honorífica para com o divino é comum a muitas religiões, mas na história do cristianismo provou ser extremamente divisiva. A preciosidade destinada a Deus tornou-se frequentemente um luxo desfrutado pelos homens, um sinal da decadência de uma Igreja que não está mais à altura de sua missão.
Os movimentos ascéticos e reformistas, a começar pelo movimento franciscano tão apreciado por Francisco, têm se manifestado contra essa apropriação indevida em nome da simplicidade evangélica e do retorno a uma concepção mais moral e terrena da mensagem cristã. Sob seus ataques, a beleza não desapareceu de cena, mas foi drasticamente redefinida: menos opulenta, mais sóbria e essencial, ela quer refletir a pureza da alma, o valor das intenções mais do que das aparências e dos bens materiais.
Voltemos ao estilo dos nossos papas. Todos nos lembramos da polêmica sobre os sapatos de Ratzinger (na verdade, não eram da Prada, mas de um artesão veneziano), denunciados como um sintoma escandaloso da vaidade do pontífice. Na realidade, na perspectiva estética e teológica de Bento XVI, os delicados sapatos de veludo vermelho deveriam ser lidos como símbolos da mediação entre humano e divino: uma ponte para a transcendência, mas também uma fronteira que separa Deus da corrupção terrena. Uma tradição retomada de Urbano IV especifica como o calçado do pontífice deve proteger do "contágio do pó terreno e da glória humana".
Contágio incansavelmente buscado por Francisco, que não por acaso escolheu ser sepultado com seus feios sapatos ortopédicos de couro preto, deformados pelas longas caminhadas com o "pé no chão". Quanto a Leão XIV, seu programa de retorno moderado à tradição parece estar se resumido perfeitamente na decisão de usar sapatos pretos para as cerimônias privadas e sapatos vermelhos para as cerimônias solenes. Na estética eclesiástica, mais do que em qualquer outra área, Deus se esconde nos detalhes. Entre as várias coisas a serem observadas durante o próximo pontificado, não se esqueçam os pés do Papa.