15 Mai 2025
Entre 2020 e 2024, gestantes em São Luís (MA) enfrentaram quase 50 dias por ano de calor extremo. Novo estudo revela que a mudança climática dobrou os dias perigosos para a gravidez em 90% dos países
A reportagem é de Pamela Gouveia, publicada por EcoDebate, 15-05-2025.
O calor extremo, impulsionado pela mudança climática, representa uma ameaça crescente à saúde materna e aos desfechos da gravidez em todo o mundo, incluindo o Brasil, de acordo com uma nova análise da Climate Central. Nos últimos cinco anos, a mudança climática pelo menos dobrou o número médio anual de dias perigosamente quentes para grávidas em quase 90% dos países e territórios, e em 63% das cidades, em comparação com um mundo sem mudança climática.
O Brasil registrou uma média de 27 dias adicionais por ano com risco térmico elevado para gestantes, como consequência direta das mudanças no clima causadas pelas atividades humanas. A cidade de São Luís, no Maranhão, lidera esse ranking: foram, em média, 49 dias por ano com temperaturas acima do considerado seguro para a gestação.
A Climate Central analisou as temperaturas diárias de 2020 a 2024 em 247 países e territórios e 940 cidades para medir o aumento dos chamados dias de risco térmico gestacional — dias em que as temperaturas máximas ultrapassam 95% das temperaturas locais históricas, um limiar associado ao aumento do risco de parto prematuro. O parto prematuro pode gerar efeitos duradouros sobre a saúde do bebê e aumentar o risco de complicações na saúde materna após o nascimento.
Esta é a primeira análise que quantifica diretamente como a mudança climática está aumentando os dias perigosamente quentes e influenciando as gestações.
Pesquisas ligam as altas temperaturas durante a gravidez ao aumento dos riscos de complicações como hipertensão, diabetes gestacional, hospitalização, morbidade materna grave, natimortos e partos prematuros, que podem acarretar impactos para toda a vida das crianças. Os países mais afetados são, ironicamente, os que menos contribuíram para as emissões de gases de efeito estufa.
“O calor extremo é hoje uma das ameaças mais urgentes para pessoas grávidas em todo o mundo, colocando mais gestações em situação de alto risco — especialmente em locais que já enfrentam dificuldades no acesso à saúde. Reduzir as emissões de combustíveis fósseis não é apenas benéfico para o planeta — é uma medida crucial para proteger pessoas grávidas e recém-nascidos ao redor do mundo”, disse o Dr. Bruce Bekkar, médico especializado em saúde da mulher e autoridade sobre os perigos da mudança climática para a saúde humana.
“Mesmo um único dia de calor extremo pode aumentar o risco de complicações graves na gravidez”, disse Dra. Kristina Dahl, vice-presidente de Ciência na Climate Central. “A mudança climática está intensificando o calor extremo e dificultando ainda mais a chance de gestações saudáveis em todo o mundo, principalmente onde o acesso ao atendimento já é limitado. Os impactos sobre a saúde materna e infantil tendem a piorar se não pararmos de queimar combustíveis fósseis e não enfrentarmos urgentemente a mudança climática”.
O relatório completo está disponível aqui.
Esta análise quantifica como a mudança climática influencia a frequência de calor extremo associado ao aumento do risco de partos prematuros e examina onde as pessoas grávidas estão mais em risco, com base em dois mecanismos principais: