07 Mai 2025
“Olhe atentamente em volta de São Pedro e Santa Maria Maior e pergunte à multidão: todos responderão que estão esperando um novo Francisco. Sem buscar uma fotocópia, estou convencido de que iremos adiante na linha de Bergoglio, falei sobre isso com muitos cardeais”.
E as facções contrárias?
"Nas congregações gerais, elas me parecem um pequeno grupo. A Igreja não pode se dar ao luxo de dar marcha a ré agora". Palavra do Cardeal Walter Kasper, teólogo alemão de renome mundial.
A entrevista é de Domenico Agasso publicada por La Stampa, 05-05-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eminência, como deve ser interpretada essa nova página da história da Igreja que está prestes a se abrir com o Conclave?
A resposta pode ser encontrada observando a Praça de São Pedro e a basílica de Santa Maria Maior nestes dias. Elas estão cheias de fiéis em oração. É um sinal muito forte. As pessoas não estão indiferentes, como alguns querem nos fazer crer. Elas estão envolvidas, profundamente tocadas.
Estão chorando e prestando homenagem ao Papa Francisco, e o que mais?
Estão manifestando um desejo, uma esperança, um interesse. A presença maciça de pessoas ao redor do Vaticano e do túmulo do Pontífice indica que o vínculo entre a Igreja e o povo ainda está vivo, e talvez mais forte do que nunca. Apesar das dificuldades, das críticas e dos erros, as pessoas sentem que a Igreja pode oferecer uma palavra preciosa para a vida, consoladora e esclarecedora. Essa é uma mensagem clara para os cardeais chamados a eleger o novo sucessor de São Pedro.
Em que sentido?
Da minha janela, vejo pessoas de todas as idades esperando pacientemente, por horas, sob o sol. Filas longas e intermináveis. Elas não estão em busca de um espetáculo, mas de proximidade. É um povo que reza, espera, pede. Tem confiança na Igreja. É por isso que digo que essa espera silenciosa já é uma forma de voto. Não escrito, mas eloquente. Cabe a nós ouvi-lo e responder com responsabilidade, profundidade e espírito de serviço. O papa que virá terá de saber ler esses sinais.
Qual é o perfil do pontífice que os fiéis esperam hoje?
Acredito que há uma expectativa muito clara: as pessoas querem um papa na linha de Francisco. Um pastor que conheça a linguagem do coração, que não se feche nos palácios, que não fale apenas aos teólogos, mas à vida concreta das pessoas. Bergoglio tirou a Igreja do templo, levou-a para as periferias, para as ruas, para o meio dos feridos.
O próximo papa deverá ter a capacidade de continuar nessa linha: estar próximo, ouvir, compreender, falar com misericórdia. É isso que as pessoas desejam hoje. Não um papa distante, que fale uma linguagem abstrata, mas um guia capaz de entrar nos dramas e nas esperanças de nosso tempo.
O senhor teme que na Capela Sistina possam haver confrontos entre as diferentes linhas da galáxia católica?
É normal que em uma Igreja universal existam diferentes sensibilidades. A diversidade é uma riqueza. Mas não me parece que haver frentes contrapostas de forma dura. É claro que também existem os cardeais que desejam uma mudança de direção em relação a Francisco. Mas minha impressão, ao participar das Congregações Gerais, é que a maioria dos cardeais está na linha da continuidade. Os opositores me parecem um pequeno grupo. Francisco foi muito apreciado, mesmo por aqueles que tinham reservas no passado.
O critério geográfico - o país de origem do próximo papa - será relevante?
Acredito que não, e isso seria um grande progresso. Durante décadas, as pessoas se perguntavam se o papa seria italiano, europeu, sul-americano, africano... Hoje, essa abordagem me parece ultrapassada. A verdadeira catolicidade não é medida pelas latitudes, mas pela propensão de acolher e integrar as diferenças. O que conta é a pessoa: sua fé, seu coração, sua capacidade de ser um pastor. A Igreja tem um rosto universal.
E que papel as culturas deverão ter no próximo pontificado?
Existem diferenças culturais, e elas devem ser ouvidas. A Igreja deve saber integrar as linguagens, os símbolos, as sensibilidades das várias áreas do planeta. O novo papa terá que confiar na Igreja universal, dar espaço e escuta às Igrejas locais, especialmente aquelas que estão crescendo mais rapidamente hoje. É tempo de descentralização, de sinodalidade autêntica, de colegialidade. O futuro da Igreja é construído por muitas vozes.
O Conclave começa em um mundo marcado por guerras, desigualdades, tensões econômicas e sociais. Quanto esse cenário pesa na escolha do novo pontífice? “Vivemos em uma época extremamente instável: há conflitos na Europa e no Oriente Médio, um clima de medo e crescente incerteza, mudanças rápidas e às vezes desconcertantes. Muitos estão se dando conta que a humanidade não pode mais continuar como nos últimos anos. É necessária uma nova visão, um novo começo. E a Igreja ainda tem a oportunidade de oferecer uma voz forte e profética, capaz de dar orientação. Nesse sentido, a eleição do papa não é um assunto ‘interno’: é uma escolha que afeta toda a humanidade. O pontífice, hoje, é uma das poucas figuras verdadeiramente globais, ouvida além das fronteiras religiosas.