07 Mai 2025
"Nas reuniões anteriores ao conclave, para as quais nenhuma regra jamais estabeleceu condições de participação (ao contrário do conclave), não se ouviu uma única voz feminina. Nenhuma das presidentes democraticamente eleitas das associações religiosas internacionais, que, de qualquer forma, representam a maioria do clero católico em nível mundial, foi convidada a se expressar, embora seu papel na vida da Igreja seja decisivo, aliás, indispensável", escreve Lucetta Scaraffia, jornalista e historiadora italiana, em artigo publicado por La Stampa, 03-05-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Em todas as cerimônias e discursos fúnebres que se seguiram à morte do Papa Francisco, bem como nas reuniões preparatórias para o conclave, não se viu um único rosto feminino. Prova manifesta de que o soberano pontífice não insuflou uma mudança significativa em relação ao lugar das mulheres na Igreja.
O mesmo pode ser dito sobre a organização do funeral, que, de acordo com sua vontade, deveria ter sido aquele modesto de um pastor, e não de um grande deste mundo. O papa parece ter confundido poder e sacralidade, que certamente não são sinônimos. Felizmente, suas intervenções permaneceram limitadas e a antiga sacralidade prevaleceu, no uso do latim, nos gestos e nas vestimentas dos prelados.
A elegância dos cardeais, assim como a dos guardas suíços, com seus belos e coloridos uniformes renascentistas, não é da mesma natureza da elegância daqueles que adoram roupas caras de grife.
O que essa beleza, percebida hoje apenas pelo prisma do luxo, representa simples e simbolicamente são os antigos ritos em honra à Igreja.
Deve-se admitir que, embora o Papa Francisco fosse muito amado e popular, sem o rito em latim com partes em grego e árabe, sem o canto dos salmos e a invocação “Que os anjos o conduzam ao paraíso”, suas exéquias não teriam comovido tão profundamente a imensa multidão reunida na Praça de São Pedro e todos aqueles que acompanharam a cerimônia pela televisão. Como sempre, o poder de uma tradição rica e profunda superou claramente a modéstia dos seres humanos que a representam. E, mais do que um simples contato diplomático, o encontro entre Donald Trump e Volodymyr Zelensky, sentados em duas pequenas cadeiras na imensa basílica, apareceu como um autêntico apelo solene para a construção da paz.
Nada lembra a condição humana e mortal do soberano pontífice de forma mais pungente, mas ao mesmo tempo humilde, do que aquele caixão modesto colocado no chão, como manda a tradição, com o texto sagrado roçado pelo vento sobre ele.
Uma imagem que remete à morte de todos os seres humanos, mais que a um qualquer poder.
Mas voltemos às mulheres. Nas reuniões anteriores ao conclave, para as quais nenhuma regra jamais estabeleceu condições de participação (ao contrário do conclave), não se ouviu uma única voz feminina. Nenhuma das presidentes democraticamente eleitas das associações religiosas internacionais, que, de qualquer forma, representam a maioria do clero católico em nível mundial, foi convidada a se expressar, embora seu papel na vida da Igreja seja decisivo, aliás, indispensável.
No decorrer daquelas discussões, se identificam os problemas que o novo papa terá de enfrentar e tentar resolver. Em suma, é feita uma tentativa de definir a situação da Igreja no mundo de hoje.
Essa reflexão é essencial após um pontificado tão contraditório e conflituoso como o do Papa Francisco. Estamos realmente certos de que as religiosas não têm nada a dizer a esse respeito?
Estão presentes em todos os continentes, próximas das pessoas com sua fé sólida e simples e, por exemplo, construíram a rede mais eficaz de combate ao tráfico de seres humanos. Podemos presumir que os cardeais não as convidaram por medo. Aquelas religiosas poderiam, de fato, ter pedido para abrir para mulheres a possibilidade de serem ordenadas diáconas, um papel que, efetivamente, já exercem há décadas, especialmente em áreas de missão. O mesmo pedido já havia sido feito ao Papa Francisco, que, no entanto, fingiu ouvi-las para melhor enterrar o problema com duas comissões das quais nunca se soube mais nada.
Ou talvez, quem sabe, as religiosas poderiam ter pedido que as tantas denúncias de violências sexuais por parte do clero contra mulheres consagradas fossem finalmente levadas em consideração, que fossem realizadas verdadeiras investigações e impostas sanções aos perpetradores, particularmente àqueles que forçam freiras violentadas a abortar. Poderiam ter explicado abertamente que as aparentes reformas do Papa Francisco não serviram para fazer evoluir a condição subalterna das mulheres dentro da Igreja, porque nos contentamos em colocar algumas delas, aqui e ali, em aparentes papéis de poder, onde, na realidade, não podem fazer nem mudar nada.
Mas ninguém convidou as religiosas para falar, ninguém quer ouvi-las. Aqueles que deveriam fazê-lo, e que estão na raiz de muitos problemas, acreditam que são os únicos que devem estar no comando de uma comunidade de crentes - homens e mulheres - que, inexoravelmente, continua a diminuir.