Ativistas frustrados, mas esperançosos, após sínodo adiar decisão sobre diáconas

Foto: Cathopic

Mais Lidos

  • “A confiança que depositamos nos fundadores das plataformas é a raiz do problema da nossa época”. Entrevista com Tim Wu

    LER MAIS
  • STF e direitos indígenas: quando haverá justiça aos povos originários? Artigo do Cardeal Leonardo Steiner

    LER MAIS
  • Dia mundial dos Direitos Humanos 2025: Desafios da luta nos dias de hoje. Artigo de Paulo César Carbonari

    LER MAIS

Assine a Newsletter

Receba as notícias e atualizações do Instituto Humanitas Unisinos – IHU em primeira mão. Junte-se a nós!

Conheça nossa Política de Privacidade.

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

12 Novembro 2024

Quando Lisa Amman foi à missa no dia seguinte ao término do Sínodo dos Bispos sobre o futuro da Igreja Católica, vários paroquianos lhe ofereceram condolências e palavras de encorajamento. Alguns até carregavam cópias impressas de manchetes negativas sobre o documento final do Sínodo, divulgado em 26 de outubro.

A reportagem é de Heidi Schlumpf, publicada por National Catholic Reporter, 11-11-2024.

A simpatia deles não era necessária. "O Sínodo é uma boa notícia", disse Amman, vice-diretora de engajamento do Discerning Deacons, organização que defende a restauração do diaconato feminino na Igreja.

O Sínodo sobre a Sinodalidade não apenas convidou a participação de católicos de todo o mundo, mas foi o primeiro sínodo de bispos a incluir mulheres como delegadas com direito a voto, disse Amman durante um evento de reflexão pós-sinodal online, promovido pelo Discerning Deacons em 30 de outubro. Além disso, a conversa sobre a ordenação de mulheres ao diaconato, que antes era "marginal", agora é "mainstream", disse ela.

Ainda assim, os delegados sinodais falharam em avançar em questões polêmicas, como a liderança feminina e o trabalho pastoral junto dos fiéis LGBTQ, deixando muitos católicos progressistas frustrados. A eleição presidencial nos Estados Unidos e seus resultados provavelmente aumentaram o descontentamento, especialmente entre as mulheres. Muitos estarão de olho na assembleia dos bispos americanos nesta semana para ver o que, por um lado, este episcopado dirá algo sobre o Sínodo e a eleições.

O documento final sinodal não avançou sobre o tema das diáconas, mas deixou a questão em aberto. O parágrafo que mencionava a expansão do diaconato recebeu o maior número de votos "não", mas ainda assim foi aprovado. O Papa Francisco decidiu não escrever a tradicional exortação apostólica pós-sinodal, mas ordenou a publicação do documento.

Embora o papa já tivesse dito à jornalista Norah O'Donnell que não estava aberto a diáconas, sua aprovação do documento sinodal — que afirmou que "este discernimento precisa continuar" — leva Amman e outros no Discerning Deacons a concluírem que o tema não está encerrado.

Mas nem todos veem isso como uma vitória.

A Conferência pela Ordenação de Mulheres considerou o documento como "uma resposta insuficiente e decepcionante ao processo de vários anos destinado a responder às necessidades da igreja hoje" e afirmou que "suas tentativas de igualdade para as mulheres e dons iguais concedidos a todos pelo batismo soam vazias sem passos claros para implementação".

Em sua declaração, divulgada no dia em que o documento sinodal foi tornado público, a conferência pediu mais urgência na questão da liderança e dos papéis das mulheres na Igreja.

"Estudos intermináveis sobre o assunto das mulheres são uma tática patriarcal de procrastinação por homens ordenados para manter o status quo", disse a declaração. "Homens ordenados decidem os parâmetros e o ritmo da sinodalidade e quando o tempo é 'maduro' para os ministérios femininos. E fazem isso a um custo incalculável".

"A Igreja perdeu gerações de mulheres que suportaram a dor e a humilhação de ter que provar a validade de seu chamado", continuou. "Quanto tempo as mulheres devem esperar? Ou, mais importante: As mulheres vão esperar?"

O documento final destacou a importância de incluir as histórias das mulheres bíblicas no lecionário — o que deixou o grupo reformista católico igreja FutureChurch feliz.

O projeto Maria Madalena Vai ao Sínodo pediu a inclusão, na Páscoa, do relato completo da Ressurreição no Evangelho de João, que inclui a aparição de Cristo a Maria Madalena e a missão dada a ela de anunciar a boa nova aos outros discípulos.

Ainda assim, o diretor executivo Russ Petrus sente frustração entre os membros do FutureChurch sobre como a questão das diáconas foi tratada.

"As pessoas estão com razão irritadas com as formas pelas quais o Papa Francisco e a cúria tentaram retirar antecipadamente o assunto da mesa sinodal de debates", disse Petrus ao National Catholic Reporter em entrevista por e-mail. "O fato de ter entrado no documento final reflete a persistência fiel dos delegados — especialmente leigos e delegadas mulheres — em representar as vozes dos fiéis que trouxeram essa questão em cada etapa do processo sinodal, recusando-se a deixá-la ser apagada".

O fato de que o parágrafo sobre mulheres no documento final recebeu o maior número de votos "não" é uma "decepção, mas não surpreendente", disse ele. "É um sinal da resistência clerical que as mulheres continuam a enfrentar, mesmo neste tempo de 'sinodalidade'."

Ainda assim, Phyllis Zagano, da Hofstra University, em Nova York, disse ao National Catholic Reporter que "o fato de o parágrafo principal sobre a possibilidade de diáconas ter recebido o maior número de votos 'não' pode indicar que o sínodo considera que o tempo para 'mais estudos' acabou e que uma decisão precisa ser tomada".

Zagano foi membro da primeira de duas comissões que Francisco convocou para estudar a possibilidade de diáconas. A primeira, estabelecida em 2016 a pedido da organização global de irmãs e freiras católicas, foi seguida por uma formada após o sínodo da Amazônia.

Os resultados de nenhuma das comissões foram tornados públicos, apesar de um pedido dos membros do Sínodo sobre a Sinodalidade do ano passado.

O cardeal Víctor Manuel Fernández, prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, anunciou recentemente que a segunda comissão retomará em breve seu trabalho. Mas ele insistiu que a liderança das mulheres na igreja não deve estar vinculada à ordenação.

"Apressar-se a pedir a ordenação de diáconas não é a resposta mais importante para promover as mulheres hoje", disse ele aos delegados do sínodo em declarações posteriormente distribuídas à imprensa. Fernández fez comentários semelhantes quando o sínodo foi aberto no início de outubro, dizendo que o papa não "considera a questão [das diáconas] madura".

A primeira assembleia do sínodo em 2023 descreveu o tema como "urgente" em seu documento final. Francisco tentou mais tarde retirar as questões controversas da mesa, transferindo-as para grupos de estudo especiais. O grupo que considera questões sobre formas ministeriais e o diaconato feminino carece de transparência desde que foi formado em março. As preocupações aumentaram no mês passado, quando Fernández não compareceu a uma reunião do grupo organizada para delegados do sínodo.

Aqueles que defendem o aumento dos papéis femininos têm clamado por mais transparência e responsabilidade no processo de consideração da questão. "A lição disso é que conflito não é uma coisa ruim", disse Casey Stanton, codiretora do Discerning Deacons. "Se vamos criar alguma mudança, vamos criar algum atrito".

Durante a reunião online pós-sinodal do grupo, os organizadores incentivaram os quase 100 participantes a continuarem rezando e se reunindo, mas também a "divulgar a palavra" sobre o que consideram boas notícias do sínodo. Disse Amman: "O sonho de todos não se realizou. Mas há muito com o que trabalhar".

Leia mais