Tragédia climática global leva a humanidade ao limite pela sobrevivência

Tempestades e enchentes que varrem do Brasil a China revelam que o tão discutido desequilíbrio climático já se configura como tragédia

Arte: Marcelo Zanotti

Por: João Vitor Santos | 14 Setembro 2023

As enchentes que dizimaram municípios do Vale do Taquari deixaram todos atônitos. O que antes parecia uma discussão de cientistas e algo até questionável, agora é algo irrefutável: as mudanças climáticasameaçam as populações humanas sobre o planeta.

 

O mais impressionante é que as imagens, como as da cidade de Roca Sales no vídeo acima, parecem se repetir. Ou pior, são ainda mais fortes, com um rastro ainda maior de destruição, só que desta vez na Líbia.

 

América, África e, também, Europa e Ásia. Nas últimas semanas, além do sul do Brasil e da Líbia, a Europa também tem sido varrida por tempestades e enchentes. Grécia, Espanha e Holanda parecem, como no vídeo abaixo, um mesmo território que se confunde com o Brasil e a Líbia. Nem mesmo a China, do outro lado do mundo, parece imune às tempestades.

 

Em certa medida, é sim um mesmo território. É um só planeta que revela a consequência mais trágica para a humanidade de suas ações que levam ao desequilíbrio climático. Como aponta reportagem publicada pelo IHU sobre um estudo veiculado na revista Nature, está mais do que na hora de redefinir os conceitos de desenvolvimento e bem-estar numa perspectiva diferente da do crescimento econômico para um futuro mais justo e sustentável. Afinal, foi esta ideia de desenvolvimento que nos trouxe até aqui. “Existem muitas formas de compreender e ver a natureza, mas apenas uma foi priorizada, a comercial”, explica Patricia Balvanera, bióloga do Instituto de Pesquisas de Ecossistemas (IIES) da UNAM, autora deste estudo.

Nomear aquilo que vivemos

Estas tragédias dos últimos dias tem sido a forma mais dolorida de a humanidade perceber que seu modo de vida pode ameaçar a sua própria existência na Terra. Se até agora as mudanças climáticas ainda eram passíveis de discussão, os desastres, especialmente os que temos vivido no Rio Grande do Sul, mudaram o cenário. Observe que enquanto famílias choram seus mortos e tentam limpar a lama do Rio Taquari no que sobrou de suas cidades, uma nova tempestade deixa todos em suspenso.

 

Por isso, é preciso não fugir e nomear claramente o que temos vivido. Para Roberto Malvezzi, Gogó, não estamos diante de desastres naturais. “O ciclone que se estendeu por vasta região do Sul, principalmente no Rio Grande, é uma tragédia socioambiental que se origina de um fenômeno natural, incrementada pela irresponsabilidade humana nas mudanças climáticas. Portanto, não apenas uma tragédia natural, como tem enfatizado a mídia tradicional”, pontua em artigo publicado pelo IHU.

Ainda sobre o Rio Grande do Sul, o mais impressionante e revelador de que vivemos um caos climático é que há poucos meses o estado era assolado pelo drama da seca. “O ponto mais importante nesse momento de devastação por enchentes, poucos meses depois de uma longa estiagem, do ponto de vista do sistema de gestão das águas, é dizer que o Rio Grande do Sul chegou a esse ponto por não ter aproveitado melhor o seu sistema de gestão das águas, criado em 94 e que até hoje não foi plenamente implantado”, destaca Arno Kayser, fundador e ex-presidente do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos (Comitesinos), em entrevista também publicada pelo IHU.

Por isso, como escreve Jacques Távora Alfonsin, em artigo do IHU, “não há mais como disfarçar. Os tornados que atualmente afligem o povo do Rio Grande do Sul provocando tantas mortes e prejuízos patrimoniais e morais enquadram-se bem na ultrapassagem dos ‘limites dos bens do planeta’”. Assim, agora é preciso coragem para assumir: passamos do desequilíbrio ambiental e vivemos as tragédias climáticas em todo o planeta.

Colapso Climático no Rio Grande do Sul. Causas, desafios e perspectivas

A crise climática sempre foi pauta presente no IHU, mas, diante dos últimos fenômenos, todos somos chamados a refletir sobre o tema. Aliás, refletir e agir urgentemente. É por isso que, na manhã de hoje, o IHU promove o debate “Colapso Climático no Rio Grande do Sul. Causas, desafios e perspectivas”.

 

A atividade terá a participação do meteorologista Leandro Puchalski, do Prof. Dr. Douglas Lindemann - UFPel e o climatologista Francisco Eliseu Aquino, professor do Departamento de Geografia e do PPG em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. Com transmissão ao vivo pelos canais do IHU, o debate é gratuito e começa às 10h. Não será oferecida certificação.

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