12 Janeiro 2023
"O senhor, Sérgio Moro, que tanto se apressou a cobrar 'resultados' do governo que estava há oito dias no poder, e apoiou acampamentos de bolsonaristas, vai ficar mudo desta feita? O senhor já se deu conta que exatamente as manifestações golpistas foram motivo para atrasar 'resultados' do governo recém-empossado? Não foi, senador Sérgio Moro, propriamente um 'bom começo' a sua crítica ao governo e o respectivo apoio prestado a terroristas", escreve Edelberto Behs, jornalista.
Eis o artigo.
Em postagem em rede social, o senador Sérgio Moro afirmou que o presidente Lula iniciou o seu governo “mais preocupado em reprimir protestos e a opinião divergente do que em apresentar resultados”. Manifestava, assim, apoio a bolsonaristas inconformados com o resultado das urnas. A mensagem concluía com uma avaliação: “Não é um bom começo”.
Horas depois Moro teria que vir mais uma vez à internet para em nova postagem condenar o vandalismo praticado na Praça dos Três Poderes, em Brasília.
Para quem tem um mínimo de memória histórica, ainda está bem presente o seu papel, senador, enquanto magistrado nos malabarismos que o senhor protagonizou, em conluio com o Ministério Público do Paraná, sob o comando do agora deputado Deltan Dallagnol, na busca implacável de “provas” de que Lula era dono de um triplex no Guarujá e de um sítio em Atibaia.
Sabe-se agora a extensão da perseguição que Moro e Dallagnol realizaram ao então ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Um dos resultados dessa “missão” foi a pecha aplicada ao “réu” sem provas de que ele era “ladrão”. E muito contribuiu para tanto, já que não encontraram contas secretas na Suíça ou nos paraísos fiscais, a acusação de que Lula “roubou” o crucifixo esculpido por Aleijadinho que estava na sala da Presidência da República ao deixar o poder. Como o crucifixo desaparecera, era importante encontrá-lo e ver onde parara.
A turma de procuradores quase entrou em êxtase quando, na 24ª fase da Lava Jato, batizada de Aletheia – do grego, a verdade –, encontrou, em 9 de março de 2016, o crucifixo de 1,5 metro de altura, depositado em agência do Banco do Brasil em São Paulo. Estava ali a prova cabal de que Lula praticara “peculato com lavagem, coisa pouca”, como festejou Dallagnol em mensagem a colegas procuradores no Telegram.
Já que o crucifixo era objeto de buscas e tanta curiosidade, cinco dias antes da bombástica descoberta a revista Época informava em reportagem que o crucifixo pertencia a Lula. Foi o procurador Paulo Roberto Galvão que informou no Telegram os colegas a respeito da matéria e só então ele se pôs a ler o Decreto 4344, de 26 de agosto de 2002, assinado pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, que dispunha sobre acervos documentais privados dos presidentes da República.
O crucifixo pertencia a Lula, que o recebera de presente de amigo, e não era obra de Aleijadinho! Frustração total entre os procuradores e do parcial juiz Sérgio Moro. Tanto o preocupado procurador evangélico Deltan Dallagnol como Sérgio Moro, agora deputado e senador, respectivamente, nada disseram especificamente sobre as obras de arte e peças históricas danificadas pelos vândalos terroristas no Palácio do Planalto, no Congresso Nacional e no prédio do STF.
O brasão da República e um crucifixo foram arrancados do plenário do STF e jogados em duas cadeiras, o que valeu o registro em foto postada pelos “democratas” que Moro horas antes defendera. Os senhores, Moro e Deltan, tão zelosos das coisas da República, vão continuar calados? Os senhores não vão reivindicar a busca e apreensão das armas roubadas da sala do GSI no Palácio do Planalto, nem solicitar a identificação dos que arrancaram o símbolo da República e o crucifixo?
Não vão cobrar responsabilidade de quem furou com faca a tela “As Mulatas”, de Di Cavalcanti, avaliada em 8 milhões de reais? Não vão cobrar e pedir a identificação de quem danificou o relógio produzido por Balthazar Martinot, relojoeiro francês, com design de André-Charles Boulle, e presenteado à família real portuguesa pela corte de Luíz XVI?
Até a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) se apressou a prestar solidariedade ao governo Lula. Lembrou, em nota, que Brasília está inscrita na lista de bens do Patrimônio da organização vinculada à ONU desde 1987. O reconhecimento engloba as características urbanísticas e arquitetônicas da Esplanada dos Ministérios e da Praça dos Três Poderes.
A diretora e representante da Unesco no Brasil, Marlova Noleto, contatou a ministra da Cultura, Margareth Menezes, colocando a agência à disposição para apoiar o trabalho de restauração das peças danificadas.
O senhor, Sérgio Moro, que tanto se apressou a cobrar “resultados” do governo que estava há oito dias no poder, e apoiou acampamentos de bolsonaristas, vai ficar mudo desta feita? O senhor já se deu conta que exatamente as manifestações golpistas foram motivo para atrasar “resultados” do governo recém-empossado? Não foi, senador Sérgio Moro, propriamente um “bom começo” a sua crítica ao governo e o respectivo apoio prestado a terroristas.
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Dois crucifixos na história da República brasileira. Artigo de Edelberto Behs - Instituto Humanitas Unisinos - IHU