10 Outubro 2022
Deveríamos imaginar um algoritmo da dignidade do trabalho, um esquema de cálculo que ponha fim ao massacre de motoboys nas estradas italianas (pelo menos sete mortes em 2022), porque onde os homens falharam, talvez a inteligência artificial possa ter sucesso. Ninguém pensa que pode morrer por um sanduíche ou uma pizza, mas isso continua acontecendo. Nem mesmo Sebastian Galassi, o jovem que morreu em um acidente de trânsito em Florença, durante uma das muitas viagens dentro da cidade, na colisão entre sua scooter e uma SUV, havia levado isso em consideração, e por que deveria?
"Seb", que ficou na calçada em uma noite de sábado comum, nem poderia imaginar aquelas palavras pronunciadas após sua morte: "Não há nenhum algoritmo que pede para correr".
A reportagem é de Maria Rosa Tomasello, publicada por La Stampa, 09-10-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Sebastian estava correndo, o garoto "prudente" que estudava web designer durante o dia e fazia entregas para se sustentar à noite? Nós não sabemos. Uma investigação por homicídio culposo aberto pelo promotor vai apurar as responsabilidades. Sabemos que diante de um fim injusto e trágico, diante do enésimo caído no trabalho e da dor de sua família, cada palavra tem um peso e deve ser cuidadosamente medida.
"Nenhum algoritmo pede para correr", disse Mario Castagna, responsável pelas relações externas da Glovo Italia em entrevista ao Repubblica, explicando que o pagamento (um valor mínimo de 10 euros por hora trabalhada) leva em consideração o tempo necessário para a entrega, mas também (ao Corriere della Sera), que quem entrega mais pedidos tem uma pontuação mais alta e acessa os melhores horários. Um sistema "transparente", disse ele, em que os próprios entregadores expressam "um desejo de flexibilidade".
É difícil imaginar algo mais distante das reivindicações dos colegas de Sebastian, que saíram às ruas após sua morte para pedir o fim do trabalho por entrega, para exigir mais tutela, para reiterar a necessidade de serem contratados como empregados. Para solicitar uma relação com as empresas que não se limite a um contato via app.
A Assodelivery garante que as plataformas implementaram medidas para a tutela da segurança dos entregadores “em todos os aspetos semelhantes ao previsto para outros setores”. No entanto, mantém-se a sensação de precariedade e insegurança nos trabalhadores, assim como permanecem os riscos para quem todos os dias percorre quilômetros e quilômetros em qualquer tipo de estrada e qualquer que seja a situação meteorológica, e por isso só pode causar desconcerto uma frase que parece transferir a responsabilidade de uma tragédia para aqueles que foram vítimas dela.
Leia mais
- O algoritmo que demite os mortos. Artigo de Tonio Dell’Olio
- A ‘uberização’ e as encruzilhadas do mundo do trabalho. Revista IHU On-Line, Nº 503
- A luta dos uberizados no pós-pandemia
- “O trabalhador inserido na uberização está longe de achar que a moto dele é uma microempresa”. Entrevista com Ludmila Costhek Abílio
- Nem todas as vaquinhas do mundo salvarão os entregadores do iFood
- A alimentação precária dos que entregam a comida
- Uber, entregador, ambulante, diarista: nasce o Movimento dos Trabalhadores Sem Direitos
- Entregadores exaustos, restaurantes “amarrados”: cresce insatisfação contra apps de delivery
- Entregadores anunciam ação global contra a exploração da economia de plataforma
- Trabalho em plataformas digitais: um empreendedorismo que leva à miséria
- Sem legislação sobre o trabalho, as plataformas estão “nadando de braçada” no Brasil. Entrevista especial com Roseli Figaro
- Plataformas digitais não comprovam padrões mínimos de trabalho decente
- Inteligência artificial, desafio ético. Entrevista com Paolo Benanti
- Mundo digital, teu nome pode ser miséria
FECHAR
Comunicar erro.
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
As palavras da Glovo são piores que o algoritmo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU