Ódio, ameaças e intimidação me afastaram de Brumadinho, mas vamos derrota-los nas urnas

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18 Agosto 2022

 

"Estou deixando a minha cidade e o meu país por condições que foram geradas pelo enfrentamento à Vale, Bolsonaro e Zema", escreve Marina Paula Oliveira, mestre em Relações Internacionais pela PUC-Minas, atingida pelo rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, participa de movimentos populares, faz parte da Articulação Brasileira para a Economia de Francisco e Clara (ABEFC) e do Grupo de Reflexão e Trabalho da PUC-Minas para Economia de Francisco e Clara, em artigo publicado por Brasil de Fato, 16-08-2022.

 

Eis o artigo.

 

No início desse ano, participei da “Caravana Latino-americana pela Ecologia Integral em Tempos Extrativistas”, que percorreu vários países da Europa com participação de diversas organizações eclesiais do Brasil, Colômbia, Equador e Honduras.

 

Foi uma atividade promovida por organizações católicas do continente europeu, sob a coordenação da rede Igrejas e Mineração e da Comissão Especial para Ecologia Integral e Mineração da CNBB.

 

Éramos um grupo diverso de atingidos pela mineração de diferentes comunidades espalhadas pelo globo. Eu tive a oportunidade de ir representando a minha cidade, Brumadinho (MG).

 

Depois dessa rodada de denúncias internacionais, as ameaças, difamações, constrangimentos e intimidações que eu já vinha recebendo se intensificaram. Elas ocorreram e ainda ocorrem por meio de mensagens nas minhas redes sociais, ligações telefônicas anônimas, constrangimentos em espaços públicos e do ataque ao sistema de segurança do local onde vivo.

 

Por causa dessa realidade, fui recomendada por uma organização de direitos humanos internacional a me afastar do território até o período das eleições presidenciais de 2022. Serei acompanhada por um programa de proteção para defensoras de direitos humanos e da natureza.

 

Estou deixando a minha cidade, o meu país, a minha família, os meus amigos, o meu namorado e o meu emprego que amo tanto, por condições que foram geradas e impostas pelo enfrentamento à Vale em Brumadinho, pelo enfrentamento ao governo Bolsonaro e ao governo Zema. Esses governos alimentaram o ódio aos pensamentos diferentes e emponderaram grupos que se sentem no direito de me constranger pelo telefone, pelas redes sociais e inclusive dentro do lugar onde eu moro.

 

Vai ter denúncia e resistência

 

Mas estou escrevendo, para deixar bem claro, especialmente para os fascistas e milicianos de plantão, que a minha militância seguirá comigo.

 

Sinto a responsabilidade social de escrever para as dezenas de lideranças atingidas que permanecerão em Brumadinho durante esse período em que estarei fora. Foram mais de três anos de dedicação exclusiva, de muito envolvimento e muita cumplicidade com as lideranças da minha cidade.

 

Eu estou sendo ameaçada, mas não sou eu a vítima. Quem é vítima é quem não tem o que comer nesse momento, por causa do desgoverno Bolsonaro. Quem são vítimas são as pessoas que foram despejadas de suas casas em plena pandemia pelo governo Zema.

 

As vítimas são as centenas de pessoas assassinadas pela Vale, os milhares de agricultores e povos ribeirinhos que caminham sem qualquer tipo de reparação. As vítimas são as crianças que estão sendo contaminadas por metais pesados provenientes da barragem da Vale. Essas são as vítimas desse modelo capitalista e predatório de mineração.

 

As vítimas são as milhares de pessoas que morreram de covid-19 e não precisariam ter morrido se o governo Bolsonaro tivesse comprado vacina e se tivesse garantido as condições para os trabalhadores permanecerem em isolamento social.

 

O que eu posso garantir é que onde os meus pés pisarem, vai ter denúncia sobre as violações de direitos por parte de empreendimentos minerários, do agronegócio, do governo Zema e do governo Bolsonaro.

 

Onde as minhas mãos tocarem, vai ter anúncio sobre as milhares de alternativas a esse modelo econômico capitalista. Vai ter muita articulação social e política, muita organização popular e muita denúncia internacional.

 

Durante o meu processo de luto, depois de perder pessoas queridas no rompimento da barragem, eu não fiquei calada. Consegui transformar toda a dor em luta. Vamos fazer a mesma coisa novamente. Eu não sou a única a sofrer esse tipo de ataque nesse momento. Espero que as minhas palavras fortaleçam as lideranças que ficam.

 

Vou estar fora do país no período eleitoral, mas não tem problema. Nós vamos ganhar as eleições. Vamos tirar essa corja do poder e vamos reconstruir o Brasil que a gente merece. É isso que vamos fazer.

 

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