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04 Março 2022

 

"Só perdemos tempo, a diplomacia europeia do último momento foi impotente. Agora brincam com o fogo que agora estoura por toda parte com o risco de nos levar a um 'inverno nuclear'" escreve Alex Zanotelli, padre e missionário comboniano, ativista do movimento pacifista, que atuou no Sudão e no Quênia e hoje vive em Nápoles, em artigo publicado por Il Manifesto, 03-03-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.

 

Segundo ele, "por que não temos hoje a mesma coragem de colocar em marcha uma caravana que entre em Kiev para reivindicar a paz? Seria um bom sinal se os Presidentes das Conferências Episcopais europeias com o Secretário de Estado Parolin tentassem entrar em Kiev tanto para fazer cessar o fogo como para levar as partes em conflito a sentarem-se à mesa para acabar com a guerra. Não podemos ficar indiferentes, paralisados em casa diante de uma tela, devemos nos expor, sair às ruas para dizer Não a essa barbárie".

 

Eis o artigo.

 

Estou em jejum pela paz, contra a guerra. Que é horror, como toda guerra, mas esta nunca esteve tão perto, com morte, destruição, escombros, vítimas inocentes, uma humanidade em fuga. É a consequência da nossa loucura, aquela de Putin sob os olhos de todos.

 

Sob os olhos de todos, atacando a Ucrânia e colocando em risco tantas vidas civis. Mas também da loucura da OTAN que continua a brincar com fogo. Os EUA-OTAN já não deveriam ter convocado uma rodada de negociações em 2014 para o respeito dos acordos de Minsk assinados para parar uma guerra civil que durou 8 anos, antecâmara desta que corre o risco de precipitar um confronto mundial? Só perdemos tempo, a diplomacia europeia do último momento foi impotente. Agora brincam com o fogo que agora estoura por toda parte com o risco de nos levar a um "inverno nuclear".

 

Em um mundo tão supermilitarizado (no ano passado, gastamos cerca de dois bilhões de dólares em armas), como podemos pensar em resolver o conflito ucraniano com o envio de armas para a Ucrânia? Em vez disso, a Europa, até agora dividida, se reunifica com as armas. A Itália, a despeito da lei 185, e a França já decidiram enviar-lhe armas letais. A Alemanha, além disso, (com uma constituição pacifista), decidiu, além de enviar armas, destinar 100 bilhões de euros para expandir seu arsenal, chegando assim ao pedido da OTAN de gastar 2% do PIB em armas.

 

E isso seria uma Europa da paz? Vamos nos tornar o continente mais militarizado. Assim será desencadeada uma guerra no coração da Europa que nos desintegrará a todos com o adeus à União Europeia, e no final acabará vencendo a construção do “inimigo”, tão bem representado pela Rússia nas mãos de Putin. Por trás estão os negócios mútuos dos "complexos militares-industriais" que dominam por toda parte e que até agora permitiram que os EUA travassem todas as guerras do século, do Iraque, à Síria, ao Afeganistão, à Líbia e que fizeram desaparecer a ONU.

 

E não esqueçamos que as armas pesam muito sobre o meio ambiente, de forma que só podemos obter a paz com a ecojustiça. O objetivo das armas é defender o estilo de vida daquele 10% da população mundial que consome 90% dos bens produzidos. A pagar os custos estão os bilhões de empobrecidos e o próprio Planeta que não suporta mais o Homo Sapiens que se tornou Homo Demens.

 

A própria vida está em jogo, por isso hoje torna-se imperativo trabalhar para apagar o fogo "em pé, construtores da paz", como havia gritado aquele grande bispo não violento, Dom Tonino Bello, na arena de Verona em 1991. Tonino lutou tanto contra a entrada da Itália no conflito na Iugoslávia, entrando em conflito com o Parlamento e especialmente com o Presidente Cossiga. É extraordinária a sua coragem de ousar com aquele gesto clamoroso de ir a Sarajevo, em plena guerra, com D. Bettazzi e os Beatos, os construtores da paz.

Por que não temos hoje a mesma coragem de colocar em marcha uma caravana que entre em Kiev para reivindicar a paz? Seria um bom sinal se os Presidentes das Conferências Episcopais europeias com o Secretário de Estado Parolin tentassem entrar em Kiev tanto para fazer cessar o fogo, como para levar as partes em conflito a sentarem-se à mesa para acabar com a guerra. Não podemos ficar indiferentes, paralisados em casa diante de uma tela, devemos nos expor, sair às ruas para dizer Não a essa barbárie.

 

O Papa Francisco está certo quando nos diz que hoje, com as armas bacteriológicas, químicas e nucleares que temos, “não pode haver uma guerra justa. Guerra nunca mais” e em cada sacada poderíamos colocar a bandeira da paz: vamos enviar este sinal para aqueles que saem às ruas contra a guerra na Rússia.

 

Apelo a todos vocês, mulheres e homens de boa vontade, crentes e não crentes, para que reencontrem a coragem de sair às ruas, de fazer raciocinar o nosso governo, que perdeu a bússola e é prisioneiro dos fabricantes de armas (a Itália, no ano passado, investiu cerca de 30 bilhões de euros em armas). Vamos todos sair às ruas no sábado, 5 de março, em Roma, para exigir que o governo respeite a Constituição, que repudia a guerra. É uma questão de vida ou morte para nós e para o planeta. Não há mais tempo.

 

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