20 Agosto 2020
Secularização e “privatização” da religião, que “cada vez menos determina as decisões públicas”. Mas também novas formas de espiritualidade, além do ‘cisma submerso’ entre a doutrina oficial da Igreja e a vida concreta dos fiéis", em particular em questões bioéticas como a eutanásia. São causas e efeitos do afastamento do catolicismo identificado pelo filósofo italiano Giovanni Fornero.
A entrevista é de Domenico Agasso Jr., publicada por La Stampa, 19-08-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis a entrevista.
Professor, o senhor estudou os fenômenos do ateísmo: tem a percepção de que os italianos sejam cada vez mais "gente de pouca fé"?
Para não criar indevidas confusões, é bom distinguir entre uma diminuição da participação religiosa e uma queda do sentimento religioso. Sobre o primeiro ponto, como documenta Garelli em seu livro, não há dúvidas. No segundo aspecto, a situação é mais complexa.
Pode nos explicar?
Ao lado do aumento do número de agnósticos e ateus, persistem formas consistentes de religiosidade que, no entanto – essa é a novidade e o aporte da sociedade pluralista em que vivemos – não mais se identificam exclusivamente com a religião e espiritualidade católica.
Que repercussões tem na sociedade o retrocesso da prática religiosa?
Creio que é o efeito – e ao mesmo tempo a causa – de uma secularização cada vez mais acentuada do nosso país, que é acompanhada tanto pela perda da centralidade da Igreja na vida quotidiana, como por uma “privatização” geral da religião, que parece cada vez mais incapaz de influenciar as grandes decisões públicas e legislativas.
Indisponibilità e disponibilità della vita.
Una difesa filosofico giuridica del suicidio assistito
e dell'eutanasia volontaria,
Giovanni Fornero, Utet, p. 812, Milão 2020
O senhor publicou recentemente o ensaio Indisponibilità e disponibilità della vita. Una difesa filosofico giuridica del suicidio assistito e dell'eutanasia volontaria (Indisponibilidade e disponibilidade de vida. Uma defesa filosófico jurídica do suicídio assistido e da eutanásia voluntária, em tradução livre, Utet, p. 812, Milão 2020). A bioética continua a inflamar os ânimos entre pessoas de fé e não crentes: vê uma possível síntese construtiva no horizonte?
Mais do que sínteses doutrinais em curso no momento, observo, sobretudo no que se refere aos problemas do fim da vida, uma extensão cada vez mais acentuada do chamado “cisma submerso”, isto é, do fosso entre a doutrina oficial da Igreja e a vida concreta dos fiéis.
Pode dar-nos um exemplo?
Isto é atestado pelo fato, sobre o qual considero importante refletir, de que se por um lado os italianos se declaram em maioria católicos, pelo outro – estatísticas nas mãos – manifestam-se sobretudo a favor da eutanásia voluntária.
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“A religião é percebida como não tendo influência na vida pública” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU