Fim da vida, que o mundo católico se rebele contra as falsidades do Vaticano

Eutanásia. | Foto: Divulgação

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01 Outubro 2019

O dia de quarta-feira, 25 de setembro de 2019, está destinado a se tornar uma data histórica, tanto do ponto de vista jurídico quanto sob o aspecto estritamente ligado a uma ética finalmente livre de diretrizes moralistas: a Consulta de fato aprovou, motivando-a de maneira irrepreensível, a licitude do recurso ao suicídio assistido em caso de irreversibilidade de uma doença crônica ou degenerativa que tenha atingido seu estado terminal. Naturalmente, como a própria Consulta oportunamente salientou, ainda existe um vácuo legislativo em matéria que caberá ao Parlamento preencher.

O comentário é de Alessandro Esposito, pastor valdense, publicado por MicroMega, 26-09-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.

Do Vaticano, é claro, não demoraram muito para divulgar um parecer a respeito do qual, creio, o mundo laico não sentia necessidade: o cardeal Giovanni Angelo Becciu, alinhando-se com a opinião da Conferência Episcopal Italiana, teve intenção de expressar sua "perplexidade" (sic!) diante dessa decisão do supremo órgão judicial italiano. Evidentemente, o debate não se concentra no único território legítimo, o jurídico, mas é transposto para aquele em que desde sempre transitam cardeais e devotos, o de uma moral que descamba no mais simplório e pedante moralismo.

As razões invocadas (desde que assim possam ser definidas) são sempre aquelas de uma abstrata "defesa da vida", entendida como um princípio e não uma existência concreta que, em determinadas circunstâncias, pode assumir as conotações trágicas da ausência de dignidade, com relação à qual cada um é chamado a traçar seus próprios e inquestionáveis limites. Do Vaticano, por outro lado, chegam declarações que distorcem completamente a realidade, atribuindo àqueles que travaram uma batalha pela extensão de um direito, uma vontade de morte que é simplesmente falsa e que é colocada no centro de um arranjo acusatório de viés inquisitorial que não se sustenta de nenhuma forma.

A esperança, que está gradualmente se transformando em uma piedosa ilusão naquele que escreve, é que o mundo católico se rebele e comece a se livrar de um princípio de autoridade cuja imposição deveria indignar quantos e quantas são feitos objetos por parte de uma instituição retrógrada e despótica, que, diante da dissidência, principalmente quando argumentada, adota, conforme a ocasião, a técnica da difamação ou do encobrimento. As reiteradas ingerências operadas pelas hierarquias católicas contra as distintas instituições que são a base da democracia parlamentar são inaceitáveis e deveriam ser acolhidas com a mesma indiferença que as autoridades do Vaticano destinam às instâncias que promovem o desenvolvimento de um pensamento adulto e responsável por ser laico.

O próprio cardeal Becciu, em uma entrevista concedida ao jornal La Repubblica, apela à possibilidade solicitada por alguns médicos católicos de recorrer à objeção de consciência: seria algo cômico se não fosse trágico, pensando ao fato de quem tem a audácia de se reportar à consciência é o representante de uma instituição que sempre degradou a consciência, dificultando seu surgimento, perseguindo sua liberdade e impedindo seu exercício.

O Vaticano, com toda a honestidade, nem sabe onde fica a consciência: isso nos salva, pelo menos, do triste espetáculo de chamar de volta à vida um termo que, nos estreitos perímetros de seu austero dogmatismo, ele sempre proibiu e deixar que a usá-lo seja aquele universo laico graças ao qual, apenas, foi possível realizar alguns passos em direção a uma mais profunda compreensão da dignidade humana.

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