Padrão de consumo atual dos ricos é insustentável para o planeta, explica Pochmann

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12 Novembro 2019

O economista Marcio Pochmann, do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), participou nesta segunda-feira (11) da mesa de debates Crise econômica, social e ambiental e as alternativas populares de desenvolvimento, durante o seminário Brics dos Povos, em Brasília (DF). Segundo o pesquisador brasileiro, o atual padrão de consumo dos ricos é insustentável para o planeta e exige mudanças no modelo de produção e organização da sociedade.

A reportagem é de Daniel Giovanaz, publicada por Brasil de Fato, 11-11-2019.

O evento é realizado na Câmara dos Deputados e tem cobertura completa do Brasil de Fato. Durante dois dias, pesquisadores e militantes dos cinco países debatem temas como imperialismo, crise econômica e política, solidariedade internacional e integração dos povos.

Questionado pela reportagem sobre a possibilidade de se equilibrar desenvolvimento econômico e proteção do meio ambiente, Pochmann afirma que estão em jogo duas questões de novo tipo. A primeira está relacionada à mudança do centro hegemônico dos Estados Unidos para a Ásia.

“Transições como essa nunca se deram do dia para a noite. É um processo lento, de disputas, e há ameaças de guerra e, inclusive, guerras mais amplas. Nós estamos observando justamente essa tensão entre China e Estados Unidos: guerra comercial, guerra tecnológica”, aponta. “Nesse sentido, abre-se a oportunidade para países grandes, com uma população imensa e uma economia forte, que têm a oportunidade de oferecer, em termos humanos, naturais e financeiros, um caminho diferente”.

O segundo aspecto ressaltado pelo economista é a chamada transição ecológica. “O processo produtivo, organizacional e do trabalho a que nós assistimos nos últimos 200 anos demonstrou-se extremamente comprometedor do meio ambiente, de tal forma que a continuidade desse processo é impossível. Não há como sustentar o padrão de consumo que os ricos atualmente possuem”, acrescenta.

O planeta Terra atingiu em 29 de julho de 2019 o ponto máximo de uso de recursos naturais que poderiam ser renovados sem ônus ao meio ambiente no ano. A data limite foi atingida três dias antes que em 2018 – e mais cedo do que em toda a série histórica, medida desde 1970.

Em 50 anos, o consumo per capita de bens e serviços cresceu seis vezes, segundo o relatório O Estado do Mundo, do Instituto Akatu. Um estudo da Oxfam aponta que os 10% mais ricos respondem por metade das emissões de carbono, enquanto os 50% mais pobres contribuem menos e estão mais vulneráveis às mudanças climáticas.

“Por isso, estamos abertos à definição de outro modelo de produção, que não seja uma repetição do passado, em que o desenvolvimento do ser humano seja compatível com a questão ambiental. Para isso, é preciso levar em conta aspectos técnicos, mas é uma questão principalmente de decisão política”, finaliza Pochmann.

Brasil em crise

Durante a mesa de debates, o economista da Unicamp lembrou que, desde o primeiro governo Lula (PT), em 2003, até 2014, o Brasil conseguiu desenvolver sua economia, reduzir a desigualdade e aprofundar sua democracia. Nos últimos cinco anos, ocorreu o inverso: recessão, aumento da exclusão social e asfixia da democracia, fazendo o país retornar à condição periférica dos anos 1990: “O que as nossas elites pensam é que o problema do Brasil são os pobres. Por isso, eles precisavam ser excluídos do orçamento. Os 50% mais pobres perderam quase 39% do que ganham de 2015 para cá”.

Pochmann também disse que o Brasil está submetido às grandes corporações, adotando receitas vindas do exterior e abrindo mão da sua soberania. “Dizer que o Brasil tem dois terços de sua força de trabalho desempregada por conta de avanços tecnológicos é uma falácia. Os países que mais investem em tecnologia são os que conseguem crescer e manter uma economia estável e dinâmica”.

Para o economista, o Brasil está “jogando fora qualquer possibilidade de desenvolvimento nacional”, em um cenário de desindustrialização e expansão do setor de serviços. “Não são mais os sindicatos, os partidos, as associações de bairro e estudantis que comandam essa organização. São os condomínios, os shopping centers, os complexos hospitalares que concentram os trabalhadores, e não mais a indústria. Estamos diante de um novo sujeito social que requer novas formas de organização”, alerta.

O cenário, na análise de Pochmann, é pré-insurrecional, mas o campo progressista não tem sido capaz de transformar as insatisfações e angústias individuais em um projeto coletivo.

“É a partir de um maior conhecimento da realidade que a gente terá condições de transformá-la”, concluiu Pochmann, enaltecendo a importância do seminário.

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