19 Setembro 2019
Sinalizando um tema que provavelmente virá à tona durante o Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia, convocado pelo papa Francisco no próximo mês, um grupo que luta pelos direitos humanos divulgou um novo relatório [disponível na íntegra aqui] afirmando que gangues criminosas frequentemente estão por trás da destruição da floresta tropical, ameaçando e até matando policiais, funcionários do governo e ativistas que tentam impedi-los.
A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada em Crux, 18-09-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“Grande parte da extração ilegal de madeira que ocorre atualmente na Amazônia é realizada por redes criminosas que tem a capacidade logística de coordenar a extração de madeira em larga escala e utilizar de violência contra aqueles que tentam impedir o desmatamento”, afirma o relatório.
Algumas autoridades ambientais chamam esses grupos de “máfias do ipê”, referindo-se à árvore cuja madeira está entre as mais valiosas e procuradas pelos madeireiros, afirma o documento. “Quando eles conseguem remover toda a madeira valiosa, eles colocam fogo no que resta, abrindo grandes extensões de terra para gado ou, menos frequentemente, para o cultivo.”
“O que está em jogo no conflito entre os defensores da floresta e essas redes criminosas vai muito além da Amazônia, e até das fronteiras do Brasil”, afirma o relatório.
“Como a maior floresta tropical do mundo, a Amazônia desempenha um papel fundamental na mitigação da mudança climática, absorvendo e armazenando dióxido de carbono”, diz o texto. “Quando cortada ou queimada, a floresta não apenas deixa de cumprir essa função, mas também libera de volta para a atmosfera o dióxido de carbono que antes havia armazenado.”
O relatório do Human Rights Watch, intitulado “Mafias do Ipê”, baseia-se em dados coletados pela Comissão Pastoral da Terra, um grupo sem fins lucrativos fundado por setores progressistas da Igreja Católica brasileira, que divulga um relatório anual sobre violações de direitos humanos em áreas rurais no país desde 1985.
Segundo a comissão, mais de 300 membros de comunidades indígenas, outros moradores da floresta tropical e ativistas ambientais foram mortos por forças envolvidas no desmatamento ilegal.
Ainda de acordo com a comissão, a resposta da polícia e da segurança à violência na Amazônia tem sido lenta, pois apenas 14 desses 300 assassinatos foram julgados.
O autor do relatório da Human Rights Watch, Cesar Muñoz Acebes, argumentou que os dados coletados pela Igreja demonstram que a Amazônia precisa ser mais bem policiada.
“Enquanto houver esse nível de violência, de ilegalidade e de impunidade pelos crimes cometidos por esses grupos criminosos, será impossível para o Brasil controlar o desmatamento”, disse. “Essas redes criminosas atacarão qualquer um que estiver no seu caminho.”
A íntegra da reportagem, em inglês, pode ser lida aqui.
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Novo relatório sobre as máfias da Amazônia baseia-se em dados coletados pela Igreja - Instituto Humanitas Unisinos - IHU