Por: Jonas | 24 Março 2015
O Partido Socialista venceu, o Partido Popular perdeu e o Podemos se tornou a terceira força política em Andaluzia, após as eleições de ontem para o novo governo da região mais povoada da Espanha e possível cenário piloto de um ano marcado pelas urnas. Os socialistas (PSOE) que há 33 anos estão à frente em Andaluzia, mantêm os 47 deputados que possuíam na sua legislatura anterior, ficando a oito cadeiras da maioria absoluta. O Partido Popular (PP), ao contrário, cai e perde um terço de sua representação, com 33 parlamentares, 17 a menos do que em 2012. O Podemos, apesar do fato de que não possuía grandes expectativas em uma comunidade tradicionalmente voltada ao Partido Socialista, surge como a terceira força, com 15 cadeiras, e pela primeira vez ocupa um lugar dentro da administração pública espanhola.
A reportagem é de Flor Ragucci, publicada por Página/12, 23-03-2015. A tradução é do Cepat.
A formação de Pablo Iglesias desbancou a Esquerda Unida (IU) – que passou de 12 para 5 deputados – e compartilha a experiência de ser “o novo” no Parlamento de Andaluzia com outra das agrupações emergentes no inédito leque político da Espanha: Cidadãos. O partido centro-direitista que é presidido por Albert Rivera obteve 9 cadeiras em suas primeiras eleições autonómicas, o que o coloca em um lugar mais destacado do que se esperava, tendo em conta sua escassa presença nas pesquisas durante os meses de campanha.
A atual presidente da Junta de Andaluzia, Susana Díaz, apostou forte quando, em janeira, decidiu adiantar quase um ano as eleições por motivos de desacordos com seu aliado no governo regional, Esquerda Unida, e não se equivocou completamente. Embora tenha ficado distante da maioria absoluta (55 dos 109 membros do Legislativo de Andaluzia) e terá que pactuar para poder governar, a líder dos socialistas do sul se esquivou com dignidade do temido furacão Podemos. O crescente auge do partido de Iglesias, que desde há pouco mais de um ano fez cinco eurodeputados nas eleições europeias e que nas pesquisas foi confirmado como uma das opções com maior apoio entre os cidadãos, foi um dos fatores que, além da “instabilidade de seu pacto de governo” – como ela explicou –, levou Susana Díaz a convocar as eleições com um ano de antecipação.
Diante da ameaça de que a ascensão do Podemos rompesse o bipartidarismo e desbancasse os socialistas, a presidente regional preferiu que as eleições viessem antes que a novo agrupamento ganhasse força em Andaluzia, onde sua direção não estava ainda estruturada e as pesquisas não davam tão bons resultados como no restante das comunidades.
Porém, a candidata de Cádiz, Teresa Rodríguez, de 33 anos, procedente da Esquerda Anticapitalista e uma das representantes do setor crítico a Iglesias, conseguiu fazer com 15 cadeiras e tornar o Podemos em mais um dos grupos parlamentares com os quais os socialistas deverão iniciar conversas para governar. Ainda que o partido não tenha conseguido cumprir com os prognósticos mais otimistas, já que seus resultados ficaram abaixo do que prenunciavam as pesquisas de boca de urna - entre 19 e 22 cadeiras -, Rodríguez destacou que, para ela, isto é um passo decisivo na corrida para a mudança política, e uma melhora em relação à situação atual. A candidata compareceu diante das câmaras, próximo das 11 da noite, e recordou, emocionada, que chegaram até estas eleições com uma trajetória de somente um ano e “sem recursos”. “Talvez ainda não possamos evitar que haja 45 despejos amanhã, mas nunca mais haverá pactos secretos na mesa do Parlamento. Onde o Podemos tiver olhos, terão olhos os cidadãos”, afirmou, após conhecer o resultado.
Nesta primeira medição de forças, antes das eleições que em maio definirão o governo do restante das comunidades e das presidenciais de novembro, o PP foi quem saiu pior estagnado. O candidato que Rajoy apoiou incondicionalmente, Juan Manuel Moreno, obteve um resultado desastroso e com ele presságios muito ruins para o futuro da formação no próximo governo da Espanha. Os populares haviam fixado como objetivo para estas eleições 35 cadeiras, 15 a menos das conquistadas por Javier Arenas nas eleições de 2012, e ficaram com 33, frente às 47 do PSOE.
A cúpula do partido conservador acompanhou as votações de sua sede em Madri e depois de ver como perdia meio milhão de votos ou, o que é o mesmo, um em cada três conquistados em 2012, preferiu não comparecer diante dos meios de comunicação. Foi o porta-voz do Comitê de Campanha, Pablo Casado, quem falou para os jornalistas. Em alusão ao fim do bipartidarismo prognosticado pelas pesquisas, Casado admitiu que o resultado do PP em Andaluzia não é o que esperavam, mas ressaltou que o PSOE e o PP continuam “aglutinando mais de 70% dos votos”.
Além disso, o porta-voz de campanha dos conservadores recordou que a antecipação eleitoral não teve “o efeito” que Susana Díaz buscava: a de “dar maior estabilidade a seu governo”, mas “muito ao contrário”, fazendo referência aos cinco partidos que agora ocuparão o Parlamento autonómico. De sua parte, o candidato do PP, Juanma Moreno, compareceu em Sevilha e visivelmente consternado pela queda acentuada de seu partido na região, anunciou que não abandonará seu lugar na frente de oposição e que “antes do que se espera, a mudança política” chegará a Andaluzia.
Os socialistas, sim, agora respiram aliviados, pois diante da catástrofe de seu partido nas últimas pesquisas e do medo de ficarem deslocados pelo surgimento das novas forças políticas do Podemos e de Cidadãos, manter o mesmo número de deputados de sua legislatura anterior foi considerado por eles uma vitória.
Susana Díaz manifestou claramente sua alegria, na sede de seu partido, após conhecer os resultados: “Seremos consequentes com o que os andaluzes manifestaram. Em primeiro lugar, que o PSOE voltou a vencer as eleições em Andaluzia com cerca de dez pontos sobre a segunda força política. Isto é uma satisfação e uma responsabilidade”, declarou à imprensa. “Porém, o resultado também é um reflexo fiel da pluralidade que existe na sociedade. Desejo que possamos unir todos os andaluzes. Um novo tempo para o diálogo, para costurar, para a unidade e a estabilidade”.
A presidente da Junta de Andaluzia fazia estas matizações porque sabe que possui adiante um panorama complexo de acordos com as outras formações que ocuparão o Parlamento. A proximidade das eleições regionais, municipais, catalãs e gerais dificulta a possibilidade de pactos dos demais partidos com o PSOE, que abririam mão de sua reputação ao se aliar com quem é abertamente seu adversário. Díaz, além disso, insistiu durante toda a campanha que em nenhum caso pactuará com o PP ou com o Podemos, dois partidos dos quais se sente profundamente distante.
Ontem, a Esquerda Unida teve o pior resultado de sua história em Andaluzia. A candidatura liderada por Antonio Maíllo conseguiu 6,89% dos votos e cinco cadeiras, sete a menos do que nas eleições de 2012. Na primeira prova do ano eleitoral e no primeiro teste após o surgimento do Podemos e de Cidadãos, o partido de Alberto Garzón não só ficou fora do governo e sem possibilidade de reeditar o pacto com o PSOE, com também o resultado o coloca como a última força do Parlamento regional e o descredencia quase totalmente de seu lugar até agora primordial na esquerda espanhola.
As eleições antecipadas de Andaluzia registraram uma alta participação em uma região que se caracterizava por seu elevado nível de abstenção, o que demonstrou o aumento do envolvimento do cidadão diante do que prevê como o primeiro passo para um novo ciclo político na história da Espanha.
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O PSOE venceu, o PP perdeu e o Podemos cresceu em Andaluzia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU