30 Mai 2020
Em meio a pandemia da Covid-19 a celebração litúrgica do tempo Pascal, que culmina neste domingo de Pentecostes, de diversas formas a Palavra de Deus nos oferece luz, conforto, alento e nos inspira para vivermos esta travessia com fé. Através de sua Palavra, Deus mesmo vem ao nosso encontro nos dando a certeza de que não estamos sós.
A situação de incertezas e riscos produzida pela pandemia da Covid-19 generalizou um clima de insegurança e de medo quanto ao presente e ao futuro, comumente acompanhado do sentimento de impotência e desânimo. Mas nossa fé nos convida neste momento a assumir o cuidado da vida com a confiança, a serenidade e a coragem que encontramos nas palavras de Jesus.
“Coragem: a palavra proferida por Jesus é um imperativo afirmativo sobre o abismo.. o amor de quem deu a vida já venceu, e há vida em abundância para todos, para este pobre mundo perdido em tanto ódio, mas já salvo em maior amor: “coragem, eu venci o mundo! ”, escreve Luiz Carlos Susin, frei capuchinho, na reflexão abaixo. Ele é mestre e doutor em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma - Unigre. Leciona na Pontifícia Universidade do Rio Grande do Sul - PUCRS e na Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana – ESTEF, em Porto Alegre.
Nesse tempo excepcional de pandemia que paira em torno de cada um de nós, que nos obriga ao isolamento, a uma contenção de vida, ganha nova luz a palavra de Jesus: “coragem!”. Ele disse no contexto de uma ameaça certa, às vésperas da violência em que as autoridades iriam envolver a cidade inteira a se abater sobre ele para condená-lo. Mas ele olha para os amigos que são seus discípulos e cuida deles. Aqui está a frase inteira, que cabe toda hoje em nossa pandemia: “Eis que chega a hora – e ela soou – em que vos dispersareis, cada um para o seu lado, e me deixareis sozinho. (Mas eu não estou só, porque o Pai está comigo.) Eu vos disse essas coisas para terdes paz em mim. No mundo tereis tribulações, mas tende coragem: eu venci o mundo!” (Jo 16, 32-33).
Que mundo é este que Jesus venceu? É o mundo de Pilatos – do poder - diante do qual Jesus declara que não é deste mundo (Jo 18,36). É o mundo dos oportunistas – do sucesso - com o qual ele não se junta (Jo 7,4). É essencialmente o mundo que odeia, tanto a ele e sua palavra como a seus amigos e discípulos (Jo 15, 18ss). É um sistema fechado, dobrado sobre o próprio ódio, alimentado pelo ódio, fonte de toda violência que o cerca. E no entanto, ele venceu. O segredo é um paradoxo, uma loucura: ele amou o mundo, esse mesmo mundo que odeia. O Pai tanto amou esse mundo terrível que deu seu filho não para julgar mas para salvar o mundo (Jo.....). Esse é o milagre mais profundo e digno de fé e encorajamento: trata-se de uma vitória sem vencidos, onde o amor derrota ao trazer para seu próprio seio de paz e de vida em abundância aqueles mesmos que odeiam e matam. Ficam as cicatrizes, as marcas do ódio, mas transfiguradas em testemunho de um amor vitorioso.
Por isso a palavra firme – coragem! – ressoa ainda no meio de um mundo de trevas e de ódio e morte. É uma palavra de ordem e de afirmação de vida, de vitória, mais “apesar de” (de tudo o que está acontecendo tragicamente ao seu redor e sobre ele mesmo) do que “porque” (pois não há brilho de nenhuma razão ou sentido, emudecidos no absurdo daquela véspera de abandono e execução terrível). Mas há dentro dele uma fonte inviolável, paciente e já vitoriosa: ele dá a vida por amor, e o amor tudo vence sem produzir vencidos, já venceu antes que tudo aconteça.
Coragem: a palavra proferida por Jesus é um imperativo afirmativo sobre o abismo. “Apesar de”, não “por causa de”. Um mundo de ódio desaba sobre a solidão e o luto. É “apesar de” que este mundo insano e doente de muitas doenças, de muitas crises – sanitária, econômica, política, nacional e internacional – no isolamento sem remédio se pode vencer: o amor de quem deu a vida já venceu, e há vida em abundância para todos, para este pobre mundo perdido em tanto ódio, mas já salvo em maior amor: “coragem, eu venci o mundo!”.
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“Coragem! Eu venci o mundo” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU