07 Mai 2020
Luís Corrêa Lima, padre jesuíta, professor da PUC-Rio e trabalha com pesquisa sobre gênero e diversidade sexual, comenta a ajuda do Papa Francisco a um grupo de pessoas transexuais.
Um grupo de pessoas transexuais pediu ajuda ao papa Francisco e ele respondeu rapidamente. É uma história de solidariedade em tempos de pandemia, contada à imprensa italiana por Andrea Conocchia, pároco de Torvaianica, pequeno centro do litoral romano. “No pico da emergência do coronavírus – relatou o sacerdote – com espanto e admiração chegou à igreja um grupo de transexuais, quase todas latino-americanas. Pediam ajuda porque com o vírus não havia mais clientes na rua”. O padre Andrea, depois do espanto inicial, não se deixou vencer pelo preconceito, mas foi rapidamente conquistado pela solidariedade desta comunidade trans, que divide despesas de aluguel e se ajuda como pode. O padre ajudou a comunidade sustentando-a não apenas economicamente, mas também espiritualmente.
Ele já ajuda muitas famílias necessitadas na região, empobrecidas pela crise econômica causada pela pandemia. O padre se encontrou então em dificuldades, pois também o dinheiro de doações diminuiu sensivelmente devido à proibição de ir à missa. Fez então um pedido ao papa através de seu assistente social, o cardeal Konrad Krajewski. A resposta de Francisco foi imediata. O cardeal polonês levou pessoalmente os auxílios necessários, com os quais foram feitas cestas básicas contendo Macarrão, tomate, farinha, óleo, leite, biscoito e açúcar. A comunidade trans, por meio do cardeal, fez chegar ao papa sua gratidão através de uma mensagem em espanhol:
"Muito obrigado, papa Francisco. Que Deus o abençoe, obrigado por tudo. Milhares de bênçãos. Que a Virgem o proteja."
O padre Andrea contou que “nesta comunidade, a notícia se espalhou e agora são cerca de vinte pessoas. São trans que chegam sobretudo da América Latina: querem muito bem a Bergoglio. Também têm fé. Fiquei comovido com a imagem de um deles que se pôs a rezar de joelhos diante da Virgem. Alguns me pediram para abençoar objetos pessoais. São pessoas muito sozinhas, com o peso de histórias de solidão e com famílias distantes. Uma delas começou a trabalhar na rua aos 14 anos. Desde então, já se passaram trinta anos”.
Esta realidade é agravada pela ilegalidade, pois a maioria das transexuais que vive do trabalho sexual não tem documento, nem recebe ajuda do governo italiano. Tudo está fechado. Elas não têm recursos, não podem recorrer aos políticos ou ao parlamento, por isso procuram os sacerdotes, relata o cardeal Krajewski. “Elas estão em uma situação muito difícil porque seus passaportes foram tomados pela máfia de cafetões que as controla”.
Esta história de solidariedade é um exemplo da Igreja em saída, indo ao encontro dos que vivem nas periferias existenciais, na linha promovida pelo papa Francisco. Os pastores são convidados a escutar, com carinho, serenidade e desejo sincero de entrar no coração do drama das pessoas; são convidados a compreender o seu ponto de vista, para ajudá-las a viver melhor e reconhecer o seu lugar na Igreja (Amoris Laetitia, n. 312). O pároco e o cardeal encontraram a dura realidade de muitas pessoas trans, que na adolescência afastaram-se da escola por causa do bullying, da família por causa da rejeição, e caíram na prostituição. Vivem na subcidadania, sem documentos e exploradas por máfias. E, no entanto, são pessoas que têm fé e gratidão, capazes de viver uma vida muito diferente se tiverem oportunidade.
Pode-se aprender com esta história, em que se rompem muros de preconceito e se criam pontes de solidariedade. Pode-se sonhar com uma sociedade que não explore imigrantes, com famílias que não rejeitem os LGBT, com escolas que não os hostilizem e com um Igreja que os acolha com amor, fazendo resplandecer o rosto de Deus.
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Papa ajuda trans na quarentena - Instituto Humanitas Unisinos - IHU