Por: André | 26 Julho 2016
“Sob tudo isso há uma crise espiritual muito profunda. Não uma crise religiosa, mas a fratura do ser humano”, escreve Francisco de Roux, padre jesuíta colombiano, em artigo publicado pela revista colombiana Cromos, 19-07-2016. A tradução é de André Langer.
Eis o artigo.
Quando me falam de pessoas de paz, imediatamente aparece a lembrança de muitas pessoas, mulheres e homens, jovens, que nos últimos 15 ou 20 anos, no país e nos territórios da guerra, trabalhavam de todo coração pela possibilidade de viver como seres humanos, e a maioria delas está morta.
Este é um país que surpreende cada vez mais pela capacidade de engendrar pessoas de uma qualidade extraordinária. Creio que nos últimos 20 anos perdemos cerca de quatro mil líderes, que não estavam nem com a guerrilha nem com os paramilitares nem com os abusos que, infelizmente, foram cometidos por homens das Forças Armadas, e que lutaram para que em suas comunidades se pudesse viver em tranquilidade.
São vítimas que sonharam em ver o dia em que terminava a guerra – dia que não viram chegar –, mas cuja força e entusiasmo permanecem vivos entre todos os que pensam que uma Colômbia diferente é possível.
A crise de fundo que vivemos tem, evidentemente, repercussões ilegais duríssimas, como o narcotráfico, que se manifestou de forma violenta na guerra, que nos mergulhou na corrupção, mostra as fragilidades da nossa justiça e as enormes debilidades da política, com suas exclusões.
Sob tudo isso há uma crise espiritual muito profunda. Não uma crise religiosa, mas a fratura do ser humano. Só assim se explica que tenhamos podido suportar quase dois mil massacres, 27 mil sequestros ou mais, mais de mil falsos positivos e minas anti-pessoais sem que tenhamos reagido como uma sociedade que se vê a si mesma responsável por todas as suas mulheres e homens, e reage.
O mais profundo de tudo isso é que temos que enfrentar esse problema e reconstruir-nos enquanto seres humanos. Confiamos em que unidos a milhões de pessoas que compreendem esta querida causa, que é muito maior que nossas pessoas, os partidos, igrejas e instituições juntos, mulheres e homens desta nossa terra, e trabalhando duro nos próximos anos, poderemos construir o país querido para os filhos e netos de quem teve o privilégio de conhecer o fim da guerra interna mais longa do continente.
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“Uma Colômbia diferente é possível”. Artigo de Francisco de Roux - Instituto Humanitas Unisinos - IHU