03 Mai 2017
Massacre com repercussão internacional, o ataque ao povo Gamela no Maranhão, no domingo, foi antecedido da fala intolerante de um deputado federal a uma rádio. O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) contou no mesmo dia que o deputado Aluísio Guimarães Mendes Filho (PTN-MA) – que foi guarda-costas de José Sarney quando ele era presidente do Senado – deu entrevista contra os Gamela na sexta-feira. Ele chamou os Gamela de “pseudoindígenas”.
A reportagem é publicada por De Olho nos Ruralistas, 02-05-2017.
Dezenas de jagunços atacaram os indígenas com facões, paus e armas de fogo no povoado de Bahias, no município de Viana (MA). Uma das vítimas teve as mãos cortadas com facão.
Aluísio Mendes foi guarda-costas do presidente José Sarney e secretário de Estado de Segurança Pública no Maranhão durante a gestão de Roseana Sarney. Ele começa a entrevista após o apresentador insistir que os Gamela são pessoas “que se passam por índios”. Mendes previu uma tragédia e disse que iria responsabilizar todas as autoridades que se omitiram. Referindo-se, principalmente, à Fundação Nacional do Índio (Funai), que seria, segundo o ministro da Justiça, Osmar Serraglio, um órgão “inoperante”.
A entrevista na íntegra, divulgada pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), pode ser ouvida aqui, após o décimo minuto.
O deputado disse que avisou Serraglio – antigo colega da bancada ruralista – que haveria uma tragédia. Durante a entrevista, ele conta que expôs ao ministro uma situação “gravíssima”: a Companhia Energética do Maranhão pretende passar uma linha sobre a área indígena, “com tudo pronto, todas as licenças ambientais concedidas, e esse grupo de pessoas que se dizem proprietárias da área indígena estão evitando e vão prejudicar mais de 600 mil pessoas”.
Aluísio Mendes contou que iria à região no sábado com uma equipe da Polícia Federal. É nesse momento que ele chama os Gamela de “pseudoindígenas”. De Olho nos Ruralistas não identificou o deputado chamando os indígenas de arruaceiros, como foi divulgado – a palavra “arruaça” aparece antes, na fala de um morador da região. Outro fala em “vandalismo”, sem ser contestado pelo parlamentar.
Nunes encerra a entrevista pedindo que o povo não aja com violência, pois o conflito seria resolvido de forma pacífica e ordeira. Mas diz que a população “ordeira e trabalhadora” da região estava sendo “ameaçada” pelos indígenas.
Eleito pela primeira vez em 2014, pelo PSDC, o mineiro Aluísio Mendes declarou possuir R$ 2 milhões em bens. Ele informava ser servidor público federal – era agente da Polícia Federal. Dono de duas casas e três apartamentos, não tinha nenhum bem rural. Foi da base política da presidente Dilma Rousseff e, no ano passado, votou contra o impeachment. Ele apoiou também os governos de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva.
Em 2014, o UOL informava que Mendes, como secretário de Segurança, “comandou a arapongagem” no Maranhão.
O ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, emitiu uma nota nesta segunda-feira, cobrando informações do Ministério da Justiça sobre o caso e pedindo a punição dos responsáveis: “Toda vida é preciosa e merece o mais absoluto respeito, por isso minha repulsa por qualquer ato de violência”.
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Antes do massacre, deputado federal chamou povo Gamela de “pseudoindígenas” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU