Por: MpvM | 06 Julho 2018
"Que difícil era para os judeus de Nazaré acreditar que esse homem simples , filho de Maria e de José, o carpinteiro, seja o filho de Deus, seu enviado, o Messias! A imagem de Messias que eles tinham era totalmente diferente, e certamente não podia ser tão humana! E justamente a humanidade é caminho que Deus escolheu para se fazer presente na nossa história e nos abraçar, nos libertar, nos salvar...
A lógica de Deus não é nossa lógica, seus caminhos distam dos nossos. (...) Por isso este tempo litúrgico, tempo Comum é fundamental, porque nos leva a descobrir e celebrar a ação de Deus na cotidianidade, no dia a dia de nossa história, de nosso tempo".
A reflexão é de María Cristina Giani, religiosa da Congregação Missionárias de Cristo Ressuscitado, da qual atualmente é a Coordenadora Geral. Ela é graduada em teologia pela Universidade La Salle - Unilasalle (2006) e possui especialização em espiritualidade pela Università Pontifícia Salesiana - UPS (2000). Atua em pastorais sociais com mulheres em situação de vulnerabilidade social e como orientadora de retiros.
Referências bíblicas
1ª Leitura – Ez 2,2-5
Salmo 122 (123)
2ª Leitura – 2 Cor 12,7-10
Evangelho – Mc 6,1-6
Como povo de Deus estamos vivendo e celebrando o tempo litúrgico conhecido como Tempo Comum ou Ordinário, que é o mais cumprido dentro do Ano litúrgico, mas talvez aquele que parece que tem menos brilho ou intensidade, como por exemplo o tempo do Advento, da Quaresma, etc.
Qual é significado deste tempo, a mística do tempo Comum?
As leituras do Domingo podem nos ajudar a vislumbrar uma resposta. Comecemos pelo Evangelho: Marcos 6,1-6. O mesmo nos apresenta a Jesus na sua terra, Nazaré, junto com seus discípulos, ensinando na Sinagoga. Seus concidadãos que o escutam ficam admirados por duas coisas: sua sabedoria e o poder de suas mãos.
Sem dúvida Jesus é um Mestre diferente, seu ensinamento não é uma doutrina ou conjunto de normas, senão a partilha de sua experiência do Deus da vida, do Deus Amor, Compaixão! E essa partilha se dá através de suas palavras e ações. Por isso, os “milagres que são realizados por suas mãos” são sinal, manifestação dessa compaixão e ternura de Deus com os doentes, com os pequenos, vulneráveis! Quantas cenas do evangelho nos apresentam as mãos de Jesus curando doentes, acariciando as crianças, tocando os leprosos, levantando a menina morta, a sogra de Pedro que estava na cama... As mãos de Jesus são dignas de contemplação: através delas chega a nós a bondade, o perdão, a misericórdia de Deus!
Podemos nos perguntar: O que chega através de nossas mãos aos nossos irmãos e irmãs?
Chama a atenção que neste trecho do evangelho não vemos a Jesus recebido por uma multidão quando chega a sua terra, nem levam a eles as pessoas doentes para que as cure, com em outras ocasiões. O que está acontece em Nazaré? Jesus é um dos seus conterrâneos!
Escutemos as perguntas que eles se fazem diante das palavras e ações do Mestre: “Este homem não é o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago, de Joset, de Judas e de Simão? Suas irmãs não moram aqui conosco?”.
Que difícil era para os judeus de Nazaré acreditar que esse homem simples , filho de Maria e de José, o carpinteiro, seja o filho de Deus, seu enviado, o Messias! A imagem de Messias que eles tinham era totalmente diferente, e certamente não podia ser tão humana!!
E justamente a humanidade é caminho que Deus escolheu para se fazer presente na nossa história e nos abraçar, nos libertar, nos salvar! Mas a humanidade, a simplicidade de Jesus escandaliza! Não pode ser tão corriqueiro!
A lógica de Deus não é nossa lógica, seus caminhos distam dos nossos. Ao igual que as pessoas do evangelho de hoje, nós também temos dificuldade de reconhecer a presença, a vida de Deus na humanidade, no pequeno, no ordinário da vida.
Por isso este tempo litúrgico, tempo Comum é fundamental, porque nos leva a descobrir e celebrar a ação de Deus na cotidianidade, no dia a dia de nossa história, de nosso tempo.
Pela encarnação, vida, morte e ressurreição de Jesus o novo templo onde o Deus se manifesta é a humanidade, a história, o tempo!
Isto é sem dúvida revolucionário, é a grandiosidade da fé cristã: Deus não está preso num lugar só, não se manifesta de maneira extraordinária, senão na finitude da sua criação. E mais ainda, um lugar privilegiado da manifestação de Deus é a pequenez, a fragilidade.
O apóstolo Paulo o proclama na segunda leitura (2 Cor 12,7-10) deste domingo quando descreve seu diálogo com Deus: “Basta-te minha graça. Pois é na fraqueza que a força se manifesta”. Desta maneira, Paulo não tem medo de se arriscar na sua missão de viver e comunicar o evangelho. Ciente da sua condição humana, sabe que na entrega de sua pobreza Deus faz maravilhas. Aqui está o segredo do grande apóstolo dos pagãos: quando eu me sinto fraco, é então que sou forte!
Por isso não tenhamos medo de entregar nossa pobreza á missão que Deus nos propõe! Sejamos hoje as “mãos de Deus” para que seu amor e misericórdia que cura e liberta continue acariciando, dando de comer e beber, abençoando nosso mundo.
Que possamos viver, neste tempo ordinário, a alegria que nos comunica o filho de Deus e de Maria:
Alegra-me a pequenez,
a fragilidade,
o escondido,
ventre fecundo
de tua vida generosa.
É ali onde tu nasces,
voltas a escolher o presépio,
Nazaré e o Calvário
para trazer-nos a caricia do divino
que nos faz
plenamente humanos!
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14º Domingo do Tempo Comum - Ano B - Celebrar a ação de Deus na cotidianidade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU