18 Janeiro 2013
Os franceses são a favor de energias renováveis... mas a maioria não sabe do que se trata. É essa a paradoxal constatação de uma pesquisa realizada pelo Ipsos para o Sindicato das Energias Renováveis, cujos resultados o "Le Monde" publicou com exclusividade nesta quinta-feira (17) no lançamento de sua edição especial anual, "Le Bilan du Monde", que dá um grande destaque a essa questão da transição energética.
A reportagem é de Grégoire Allix, publicada no jornal Le Monde e reproduzida no portal Uol, 17-01-2013.
Num momento em que o governo dá início à retomada dos setores de energia solar e eólica que se encontravam suspensas, essa pesquisa enfatiza que nove entre dez franceses têm uma boa imagem das energias renováveis e são a favor de seu uso. Para 63% deles, daqui a 50 anos as fontes renováveis serão até mais usadas do que as energias tradicionais. Uma conjectura que vai na contramão das previsões da Agência Internacional de Energia, segundo a qual as energias fósseis ainda dominarão por muito tempo o mapa mundial.
O obstáculo do custo
É a imagem "limpa" e "não poluente" das energias renováveis que justifica o prognóstico dos franceses, bem mais que uma análise econômica: somente metade dos entrevistados considera que essas fontes renováveis produzem energia barata, e 46% acreditam que elas são competitivas. Além disso, o custo delas é visto por 68% dos franceses como o principal obstáculo à sua expansão, bem à frente dos incômodos estéticos (26%) ou ambientais (19%).
No entanto, as ressalvas associadas a esses incômodos ainda existem. Dos entrevistados, 68% aceitariam a instalação de usinas eólicas em seus bairros, mas somente 45% deles estariam dispostos a ter esses postes implantados em seu campo de visão. A rejeição é menor para os painéis solares, aceitos por 82% dos franceses.
E eles mesmos chegariam a instalá-los? Mais de um terço dos franceses considera adotar uma fonte de energia renovável em até cinco anos – prioritariamente painéis solares. Mas é um projeto frágil, uma vez que um terço dos entrevistados já considerou tomar a iniciativa, mas desistiu, basicamente, em razão do custo da operação.
O mais surpreendente é que a pesquisa revela um profundo desconhecimento sobre as energias renováveis entre as pessoas entrevistadas. A energia eólica e a solar são citadas de forma espontânea por respectivamente 78% e 76% dos entrevistados, mas somente um quarto dos franceses sabe a diferença entre o solar fotovoltaico (que produz eletricidade) e o solar térmico (que produz água quente).
Em compensação, a energia hidráulica e maremotriz (49%), a geotermia (22%), a biomassa e as bioenergias (19%) estão muito menos presentes na mente dos franceses, apesar da importância histórica das barragens no mix energético francês. Pior, a lenha é identificada como uma fonte de energia renovável por somente metade dos entrevistados, enquanto 81% deles acreditam erroneamente que o composto faz parte delas.
Por fim, 77% da população entendeu que a energia nuclear não é renovável, ao passo que para o gás de xisto, a mais recente problemática, o conhecimento cai para 69%.
O debate nacional sobre a transição energética, lançado no dia 29 de novembro de 2012 pela ministra do Meio Ambiente da França, Delphine Batho, deve resultar em uma lei de programação energética até o final do ano, que talvez permita que esse conhecimento seja difundido de forma mais ampla.
Enquanto é acentuado o esforço de ensino e de comunicação, a ministra pode se preocupar com o fato revelado pela pesquisa de que 79% dos franceses nunca ouviram falar desse grande debate sobre a energia. E sete em cada dez franceses consideram insuficiente o lugar da questão energética na ação do governo.
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Maioria dos franceses desconhece tipos de energia renovável, diz pesquisa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU