Quando o papa disse ao prefeito de Roma: "Registrar os casamentos gays foi um erro"

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01 Abril 2016

Em fevereiro de 2015, durante um encontro privado com Ignazio Marino, o papa disse ao prefeito de Roma que a cerimônia de registro no Capitólio romano de 16 uniões homossexuais celebradas no exterior tinha sido "um erro". "As suas palavras foram muito severas. Ele me disse que tinha sido um erro", conta o ex-prefeito da capital italiana no livro Un marziano a Roma [Um marciano em Roma], recém-publicado.

A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no sítio Vatican Insider, 31-03-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

O episódio narrado por Marino deve ser lido à luz do que aconteceu alguns meses antes, na tarde do dia 17 de outubro de 2014, penúltimo dia de trabalhos do primeiro Sínodo sobre a família, quando o então prefeito de Roma tinha telefonado ao Vaticano pedindo para falar com o pontífice.

Francisco estava envolvido na sala, com os Padres sinodais, e o telefonema foi transferido para a secretaria particular do papa. Marino tinha insistido em querer comunicar pessoalmente para Bergoglio o que aconteceria no dia seguinte, isto é, que 16 casais gays se registrariam na prefeitura de Roma durante uma cerimônia pública e solene presidida pelo prefeito.

O secretário do papa tinha dito que não era possível perturbar o pontífice, fazendo com que ele interrompesse os trabalhos do Sínodo. O prefeito, que estava determinado a apresentar aquela cerimônia como importante para os próprios Padres sinodais, acreditando que o próprio Sínodo abriria as portas para os casais homossexuais, tinha insistido: ele queria absolutamente advertir o bispo de Roma. Do outro lado da linha, a resposta foi que Francisco seria avisado.

Como é fácil imaginar, a reação do papa, logo que ficou sabendo do conteúdo do telefonema, não foi nada de contentamento. Diante dos Padres sinodais, no dia seguinte, Bergoglio havia contado os conteúdos do telefonema de Marino, descrevendo o diálogo do prefeito com o seu secretário. E concluiu: "Eles não estão nem aí com os valores..." ["Questi se ne infischiano dei valori"].

Na audiência de fevereiro de 2015, Francisco tinha expressado, assim, a sua contrariedade com aquela cerimônia, além do mais, desprovida de valor legal pois não existia naquele momento, na Itália, nenhuma lei sobre o reconhecimento das uniões civis.

Chegou-se, assim, ao mês de setembro seguinte, à viagem do papa a Cuba e aos Estados Unidos, à etapa final da viagem, Filadélfia, com o Encontro Mundial das Famílias. O prefeito estava na cidade e não deixou de estar presente em todos os eventos públicos do pontífice, sempre exibindo a faixa com as cores da Itália, sempre na primeira fila. Para ele, foi um momento de particular dificuldade política, dada a situação da sua junta no Capitólio. Ele pediu para ver Francisco, mas não obteve a audiência "em transferência": quando o papa está em viagem, ele não se encontra com representantes das instituições italianas, que podem pedir para vê-lo na sua pátria.

No voo de regresso da Filadélfia para Roma, na noite do dia 27 de setembro de 2015, Francisco encontrou-se, como de costume, com os jornalistas para a coletiva de imprensa. Uma pergunta dizia respeito justamente à presença do prefeito da capital italiana: "O prefeito Marino, prefeito de Roma, cidade do Jubileu, declarou que veio para o Encontro Mundial das Famílias, para a missa, porque foi convidado pelo senhor. Pode nos contar como foi?".

Eis a resposta do pontífice: "Eu não convidei o prefeito Marino. Claro? Eu não fiz isso. Eu perguntei aos organizadores, e nem mesmo eles o convidaram. Ele veio, ele se professa católico, veio espontaneamente. Foi assim".

Palavras que tiveram um efeito perturbador sobre a situação já muito comprometida de Marino. "O prefeito nunca disse que havia sido convidado pelo Papa Francisco aos eventos conclusivos do 8º Encontro Mundial das Famílias", respondeu o Capitólio, especificando que "a viagem para a Filadélfia nasceu de uma série de encontros ocorridos com as autoridades da cidade norte-americana: em junho, o prefeito Michael Nutter e o arcebispo Charles Chaput, junto com uma grande delegação da cidade, se encontraram com Ignazio Marino no Capitólio, justamente em preparação à viagem papal e para lhe fazer o convite oficial. Em vista do encontro dedicado às famílias, o prefeito também se encontrou com Dom Vincenzo Paglia, com o qual, entre outras coisas, discutira sobre a sua presença no evento da Filadélfia. Tudo nasceu, portanto, de uma pergunta equivocada nos pressupostos e talvez posta com a intenção de suscitar polêmica".

No livro Un marziano a Roma, Ignazio Marino revela que, no dia 1º de fevereiro de 2016, ele conseguiu se encontrar com Francisco para um esclarecimento depois do episódio da Filadélfia. "Santo Padre, aqueles que não me queriam à frente de Roma quiseram interpretar as suas palavras como o sinal de que os cães podiam ser soltos contra mim", desabafa o ex-prefeito. O papa lhe garantiu a ausência de rancor e se despediu dele "reiterando o seu afeto".

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