Belo Monte: obras da usina foram tratadas na casa de empreiteiro

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12 Fevereiro 2016

O diretor afastado da Eletrobras Valter Cardeal admitiu, em depoimento na sede da Polícia Federal (PF), que participou de duas reuniões na casa de José Antunes Sobrinho, presidente da Enge-vix. O objetivo, segundo Cardeal, era tratar das obras da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. Segundo ele, Ricardo Pessoa, então presidente da UTC, também participou dos dois encontros. Os três são investigados na Operação Lava-Jato. Apontado como um dos homens fortes da presidente Dilma Rousseff no setor elétrico, Cardeal foi afastado da diretoria da Eletrobras em julho, em função das revelações dos primeiros trechos da delação premiada de Pessoa.

A reportagem é de Vinícius Sassine e André de Souza publicada por O Globo, 05-02-2016.

No depoimento, prestado em 12 de novembro do ano passado, Cardeal diz que esses foram os dois únicos contatos que teve com o dono da UTC. O termo de declaração do depoimento informa que, ao ser questionado por que o encontrou em residência particular do presidente de uma outra empreiteira, Cardeal respondeu que “as duas foram reuniões emergenciais” e que “não é costume o déclarante realizar reuniões em residências particulares, sendo estas as duas únicas oportunidades”.

Cardeal destacou ainda que qualquer contratação em Belo Monte era definida por decisão colegiada de uma empresa privada: a Norte Energia. A Norte Energia, responsável pela usina, tem a participação da Eletrobras, de fundos de previdência e de algumas empresas privadas. Era o próprio Cardeal quem presidia o Conselho de Administração da Norte Energia. Hoje, quem toca a obra é o Consórcio Belo Monte, contratado pela Norte Energia e composto por dez empresas, muitas delas investigadas na Lava-Jato. A Engevix integrou um consórcio contratado pela Norte Energia para montagem de equipamentos.

Inquérito Investia Angra 3

O depoimento integra inquérito aberto no Supremo Tribunal Federal para investigar o suposto pagamento de propina a partir de contratos da usina nuclear Angra 3, em Angra dos Reis. No depoimento à PF, Cardeal disse que nunca teve função na Eletronuclear e que não tratou de Angra 3 com os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) ou Romero Jucá (PMDB-RR). Ele negou envolvimento em irregularidades ou repasses de propina ao PT. Também disse que nunca trocou e-mails ou telefonemas com Pessoa ou com o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto. Afirmou ainda que o senador Edison Lobão (PMDB-MA), ex-mi -nistro de Minas e Energia, acompanhava todos os empreendimentos de infraes-trutura do setor elétrico.

Em dezembro, a PF ampliou investigações sobre Cardeal. A partir dos depoimentos de Pessoa sobre Angra 3, a PF faz diligências para tentar comprovar as acusações. Durante as investigações, o então presidente da Eletronuclear, o almirante Othon Pinheiro, foi preso. Segundo Pessoa, houve pedidos de doação de campanha feitos por Renan e Jucá e que se enquadrariam num pedido de propina feito por Lobão, acusação negada pelos três. O inquérito investiga ainda o advogado Tiago Cedraz, filho do presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Aroldo Cedraz, e o ministro do TCU Raimundo Carreiro. A suspeita é de venda de informações privilegiadas do tribunal ao dono da UTC, em especial referentes a processo de Angra 3.

Pedido de desconto para consórcios

Cardeal pediu aos consórcios vencedores de Angra 3 – a UTC integra um deles – um desconto de 10% no valor das obras, segundo Pessoa. “Os consórcios chegaram à conclusão de que poderiam conceder um desconto de 6%, desde que houvesse a união de ambos os consórcios em um só” relatou o dono da UTC.

A delação cita, então, a destinação dos outros 4% do desconto a campanhas do PT : “Othon Pinheiro alertou ao déclarante que Valter Cardeal havia lhe dito que, como os consórcios de empresas de Angra 3 não haviam aceitado o desconto de 10% no preço das obras, tal como pretendido pelo Conselho de Administração da Eletrobras, tendo sido acertado um desconto de 6%, as empresas seriam alvo de solicitação de repasses por parte do PT”.

O então tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, hoje preso em Curitiba, entrou em contato e pediu a “realização de doações oficiais de campanha ao PT correspondentes aos 4% em questão” conforme a delação. O dono da UTC disse não ter feito os pagamentos, o que não colocou um “ponto final nas cobranças”.

Por meio da assessoria de imprensa da Eletrobras, Cardeal reafirmou que as decisões são colegiadas, mas não respondeu se a estatal tinha conhecimento de suas reuniões com empreiteiros. A Norte Energia informou que todas as decisões tomadas são colegiadas e que desconhece as declarações dadas por Cardeal no depoimento.

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