10 Dezembro 2015
"Quantos erros se fazem a Deus e à Sua graça quando se afirma que os pecados são punidos pelo Seu juízo, sem antepor, em vez disso, que eles são perdoados pela Sua misericórdia." Citando Santo Agostinho, mas também "a misericórdia do Bom Samaritano", o Papa Francisco abriu solenemente o Jubileu – o primeiro da história a ser inaugurado com a presença de dois papas, o emérito Bento XVI e o pontífice reinante, Bergoglio – lembrando, com voz firme, lenta e clara, que é equivocado temer que o pecador vá ao encontro apenas da punição de acordo com os cânones prescritos pela lei. Se o pecador se arrepende sinceramente e se dirige diretamente a Deus sempre vai encontrar – afirma o pontífice no momento mais alto da celebração da abertura da Porta Santa da Basílica de São Pedro – o coração misericordioso do Senhor que, como um pai, nunca se cansará de esperar a chegada dos seus filhos, mesmo daqueles que erram, que se afastam ou vivem momentaneamente no pecado.
A reportagem é de Orazio La Rocca, publicada no jornal Trentino, 09-12-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Ao contrário – pontualiza o papa na homilia da missa de início do Ano Santo – Deus não se limita apenas a esperar a chegada dos seus filhos, mas vai ao encontro deles, vai buscá-los para lhes dar alívio, esperança, perdão. "Basta buscar Deus – insiste Francisco –, e a Sua misericórdia e o Seu perdão nunca se farão esperar."
Está todo nessas breves frases o verdadeiro significado do Jubileu da Misericórdia que decolou na manhã dessa terça-feira no Vaticano. Frases que o Papa Francisco proferiu Urbi et Orbi (para a cidade de Roma e para o mundo), mas não só. O delicado tema da misericórdia divina superior a qualquer forma de justiça terrena não pode deixar de dizer respeito àqueles que, mesmo na Igreja, realizam o delicado exercício da gestão das normas judiciárias e canônicas.
Um tema que, não por acaso, esteve no centro do debate sinodal sobre a família de outubro passado, quando – sob os olhos atentos do Papa Bergoglio – se confrontaram as duas "almas" que deram vida e forma à cúpula sinodal, os rigoristas, defensores da aplicação das normas canônicas em matéria de pastoral familiar estritamente ligada à tradição; e os misericordiosos, próximos das posições pastorais do Papa Bergoglio, mais propensos a ir ao encontro de quem pede para ser ajudado, especialmente daqueles que vivem longe dos sacramentos, como os divorciados recasados ou em coabitação.
Dois "partidos" que se defrontaram sem exclusão de golpes, mas que, no fim, alcançaram um delicado compromisso com a concessão – sancionada por um voto de maioria estreita – aos bispos locais de decidir, caso a caso, a admissão aos sacramentos daqueles que, pelas razões mais variadas (crise conjugal, abandonos, traições, escolhas pessoais...), são mantidos à margem da Igreja.
Com a abertura da Porta Santa, o Papa Francisco voltou indiretamente ao assunto, pronunciando um firme – embora elegante – "alto lá!" a rigoristas e defensores da lei, lembrando que a misericórdia de Deus e a graça divina antecipam qualquer juízo legislativo e qualquer norma canônica.
Uma verdade que afunda as suas raízes no Evangelho de Cristo – no perdão do Gólgota, mas também quando Jesus lembra que é o sábado (a lei) que deve servir ao homem, e não vice-versa –, verdade assumida pelos Padres da Igreja como Santo Agostinho e que agora o Papa Francisco quer que também faça parte da bagagem cultural dos pastores modernos, começando pelos bispos e cardeais.
Outro momento forte da homilia jubilar, o apelo aos valores do Concílio Vaticano II que justamente no dia 8 de dezembro de 50 anos atrás concluía os trabalhos, depois de produzir uma longa série de documentos que reaproximaria a Igreja ao mundo contemporâneo, abrindo-a às necessidades das pessoas comuns, crentes, não crentes, crentes de outras religiões.
"O Jubileu nos provoca a essa abertura e nos obriga – é a conclusão de Bergoglio – a não ignorar o espírito que emergiu do Vaticano II, o do Samaritano, como lembrou o Bem-aventurado Paulo VI na conclusão do Concílio. Que atravessar hoje a Porta Santa nos empenhe a assumir a misericórdia do Bom Samaritano."
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O obstáculo ao partido dos rigoristas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU