Por: Jonas | 09 Dezembro 2015
Fornos solares, produtos artesanais e uma “cúpula” com 196 cadeiras “confiscadas” pelos bancos. Os movimentos sociais levantam sua voz à margem da COP21 para reivindicar alternativas locais e denunciar que o dinheiro para frear a mudança climática está em paraísos fiscais. “Todas as empresas são convidadas para a COP21, mas os cidadãos não”, lamentou Ismael Canoyra, de 39 anos, representante da organização Alternativa, para quem a Aldeia Mundial das Alternativas procura trazer para os cidadãos ações, “utopias concretas”, para lutar contra a mudança climática em seu cotidiano.
A reportagem é publicada por Página/12, 07-12-2015. A tradução é do Cepat.
Ontem, ao meio-dia francês, centenas de pessoas continuavam em um ambiente frio, diante da prefeitura de Montreuil, ao leste de Paris, com as intervenções dos representantes de várias organizações, sentados nas 196 cadeiras “confiscadas” pelos bancos.
“Nós, os movimentos sociais de todo o mundo, sabemos onde está o dinheiro para financiar um futuro limpo”, anunciaram os participantes nesta “cúpula”, que denunciaram que os 196 membros da COP21 são “incapazes” de encontrar os 100 bilhões de dólares anuais com os quais se comprometeram para financiar o Fundo Verde para o clima.
Deter a evasão fiscal, reduzir o peso da dívida nos orçamentos públicos, financiar a ação internacional contra a pobreza e liberar recursos para as energias renováveis são algumas das propostas desta Assembleia dos Povos, acolhidas com os aplausos dos participantes.
Utopias concretas
A Aldeia Mundial das Alternativas é a primeira grande ação dos movimentos sociais para reivindicar o papel dos cidadãos na luta contra a mudança climática e apressar os mandatários internacionais para que ajam diante da atual emergência climática.
“A sociedade tem que atuar de outra maneira”, porque os governos estão muito vinculados à indústria, explicou a indiana Vandana Shiva, uma das referências do movimento ambientalista mundial. Para ela, “consumir produtos orgânicos” supõe, entre outros, um ato em favor do clima.
Os produtores locais desempenham um papel importante nesta “aldeia”, com seu vinho, mel, hortaliças, pão e carne de produção local, embora os visitantes também consigam encontrar iniciativas locais em temas de educação, biodiversidade, migrações e cultura.
No “bairro” de energia e clima, Vincent Bourges, voluntário de 37 anos de Bolívia Inti Sud Soleil, cozinha diante do olhar dos curiosos um ensopado de legumes com arroz, em uma cozinha de baixo consumo de lenha de construção artesanal. As densas nuvens transformam os fornos e cozinhas solares, ao seu lado, em meros objetos de exposição.
“As cozinhas de baixo consumo permitem reduzir até 80% da lenha” nas zonas rurais, explicou Bourges. Sua associação trabalha há 15 anos com populações em situação de precariedade generalizada em países andinos, como Bolívia e Peru, e na África.
Esta ação beneficia tanto as comunidades locais, que inalam menos gases, como na redução de CO2 em razão da menor queima de lenha e da diminuição do desmatamento das florestas, imprescindíveis para a regulação climática.
Mais adiante, Laëtitia, voluntária da associação Surfrider, tentava conscientizar a respeito da importância dos atos cotidianos para a proteção dos oceanos, que tem um papel fundamental na absorção do CO2.
“Do lixo presente nos oceanos, 80% procede de regiões do interior”, não da costa, explicou esta jovem de 28 anos, que destacou que uma só bituca de cigarro contamina 500 litros de água.
Trauma de Copenhague
Ao ritmo de batucada, as diferentes organizações aproveitam para explicar e instruir o público durante o dia de relativo descanso da conferência do clima de Paris, que deve chegar, antes da próxima quinta-feira, a um acordo para limitar a 2ºC o máximo do aquecimento global.
Ismael Canoyra se mostra convencido de que “haverá um acordo”, ainda que este não será “vinculante”. “Não queremos que aconteça como em Copenhague”, destacou, fazendo referência ao acordo ‘in extremis’ da COP15, que não respondeu às expectativas e que provocou, em sua avaliação, um descenso da mobilização cidadã em favor do clima.
E se os mandatários internacionais não chegarem a um acordo? “Tem-se falado muito da mudança climática nestes dias. Com essa informação seria uma pena pararmos aqui, a urgência climática irá continuar”, enfatizou Aurore, de 33 anos, enquanto escrevia em uma fita que pendurará como uma rama em uma espécie de salgueiro-chorão.
Sua mensagem, que se unirá com as de centenas de pessoas, diz: “Não herdamos a terra, nós a tomamos emprestada para nossos filhos”.
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Uma Anti-Cúpula do Clima - Instituto Humanitas Unisinos - IHU