Ocupações de escolas em SP já mudaram ensino, diz antropóloga

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

01 Dezembro 2015

O governo do Estado de São Paulo pode até não voltar atrás na decisão de reestruturar o ensino, mas, na opinião da antropóloga Alba Zaluar, a ocupação de mais de 150 escolas pode modificar a estrutura da educação pública no país.

A reportagem é de Thiago Varella, publicada por Uol, 26-11-2015.

Zaluar, que já foi diretora de escola pública em um bairro do subúrbio do Rio de Janeiro, considera que a ocupação vai fazer o ensino avançar muito em todo o país.

"Eu acho a ocupação uma coisa linda, maravilhosa. Isso pode, enfim, modificar a divisão que há entre o que é instituição do Estado e o que faz parte do cotidiano das pessoas. A escola é a mistura dos dois", afirmou.

Até a noite da quarta-feira (25), estudantes ocupavam 151 escolas públicas em todo o Estado de São Paulo, em protesto contra o fechamento de colégios e o projeto de reorganização da rede de ensino.

Pobreza e aprendizagem

A antropóloga apresentou, na última segunda-feira (23), uma análise sobre as oportunidades de educacionais para pessoas de baixa renda durante a 3ª Reunião da Rede Nacional de Ciência para Educação (Rede Cpe), que foi organizada no Rio de Janeiro.

Na visão de Zaluar, que dedica sua carreira principalmente ao estudo da antropologia urbana e da antropologia da violência, não é porque um estudante é pobre que ele vai necessariamente ter mais dificuldade na escola. A antropóloga tenta desconstruir alguns conceitos bastante difundidos no meio acadêmico que consideram a pobreza como uma algo consensual e homogêneo e isso, segundo ela, não existe.

"Em qualquer classe social há diferentes maneiras de criar as crianças. Não há como generalizar isso. O autoritarismo, por exemplo, não conduz ao um bom desenvolvimento do cérebro. Mas isso não significa que os mais pobres tendem a ter uma forma de criação que é mais prejudicial ao desenvolvimento do cérebro. Autoritarismo ocorre em várias classes sociais e em vários lugares, como a escola, a vizinhança", afirmou.

Zaluar defende que a escola leve em consideração a bagagem cultural que as crianças trazem. Principalmente, as mais pobres, que têm muito a acrescentar em uma sala de aula.

"Os jovens de classes sociais mais baixas têm um sentido de concreto mais aguçado. Eles sabem mais das coisas práticas da vida e isso não é valorizado. É necessário ter uma integração maior entre escola e criança", disse.

Por isso, para Zaluar, ações que misturam a escola com a comunidade onde o colégio está inserido tendem a melhorar a qualidade do ensino e, claro, envolver toda a sociedade com a educação.