13 Novembro 2015
O papa Francisco é um homem determinado, muito difícil de demover de uma ideia. No entanto, é isso que esperam o Ministério da Defesa e o Estado-maior francês, que gostariam de evitar sua ida a Bangui, capital da República Centro-Africana, nos dias 29 e 30 de novembro. Há uma discussão em andamento entre o Vaticano e Paris para tentar convencê-lo a abreviar ou até cancelar essa visita.
A reportagem é Nathalie Guibert e Cécile Chambraud, publicada por Le Monde, 13-11-2015.
"Nós informamos aos serviços de segurança do papa que se tratava de uma visita de alto risco", contou ao "Le Monde" a comitiva do ministro da Defesa, Jean-Yves Le Drian, paralelamente ao segundo Fórum sobre Segurança na África em Dacar, na terça-feira (10).
A viagem está prevista para antes da realização de perigosas eleições no país que há mais de dois anos vem passando por conflitos entre milícias majoritariamente muçulmanas da ex-Seleka e grupos anti-Balaka. Em Bangui, as autoridades de transição, lideradas por Catherine Samba Panza, têm enfrentado muitas dificuldades para restabelecer a paz no país, com a ajuda de 12 mil militares e policiais da força das Nações Unidas (Minusca) e 900 soldados franceses da operação Sangaris. Um referendo constitucional foi marcado para o dia 13 de dezembro, seguido de eleições legislativas e presidenciais, para instalar um governo. Além disso, a visita do pontífice deverá atrair centenas de milhares de fiéis vindos de países vizinhos, cuja chegada em massa certamente fragilizará durante alguns dias um país em ruínas.
A mensagem é clara: não haverá nenhum reforço francês para a segurança do papa. A força Sangaris, cuja ação se concentra na capital, "tem uma missão clara", afirma a comitiva de Le Drian. "Fazer a segurança do aeroporto e permitir a evacuação em caso de crise. Não poderemos fazer mais do que isso."
O Estado-maior havia iniciado neste mês um desengajamento de seus efetivos, uma vez que a Sangaris deverá se igualar, em 2016, ao nível da ex-força Boali, presente no local até o final de 2013 (com cerca de 450 homens). Mas a manobra foi frustrada. "Nós constatamos há mais de um mês um novo surto de violência", explicou o ministro. "Grupos extremistas estão percebendo que o processo eleitoral está avançando, e a chegada de um poder político eleito pode preocupar."
A Sangaris manterá 900 homens durante o período eleitoral. Em seguida, "caberá à autoridade eleita dizer como ela quer instalar seu Exército, o da República Centro-Africana".
O papa faz questão de estar presente em Bangui. Dez dias antes do início oficial do Ano Santo da Misericórdia, em 8 de dezembro, ele quer abrir ali uma "Porta Santa" na catedral de Nossa Senhora. Seria a primeira vez em que um jubileu não seria lançado pela abertura da "Porta Santa" da Basílica de São Pedro de Roma. Seria o símbolo, declarou o papa no dia 1º de novembro, da "proximidade (...) de toda a Igreja com essa nação tão sofrida e atormentada". Passar por essas "Portas Santas" permite que os fiéis cumpram um percurso penitencial para obter o perdão de seus pecados.
Já a Defesa francesa levanta diversas possibilidades, sem esconder que a última é a preferida: Francisco permanece dois dias como ele pretendia na capital centro-africana, limita sua presença a algumas horas ou aceita cancelar. "Mas, sabe como é, o papa fala com Deus, então o que podemos dizer...?", comenta a comitiva do ministro francês.
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Visita de Francisco a Bangui é considerada de alto risco e preocupa Paris - Instituto Humanitas Unisinos - IHU