10 Outubro 2015
"O trabalho ainda é longo e, permita-me dizer, também fatigante. No Sínodo, nada está decidido. A introdução de Peter Erdö, o cardeal relator, não selou o debate sobre os divorciados recasados, sobre as uniões homossexuais, sobre a Igreja que encontra as novas realidades do mundo. Caso contrário, o que estaríamos fazendo aqui?"
Claudio Maria Celli, o arcebispo que preside o Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais, conhece Jorge Mario Bergoglio desde 1979 e aprecia o seu método: discussão entre os Padres sinodais, máxima transparência na Aula e, depois, a síntese do pontífice, porque a Igreja não pode ignorar as perguntas que a sociedade se coloca.
"Tomemos o caso dos matrimônios fracassados: não estamos falando – explica Celli – de objetos, mas de homens e de mulheres que sofrem. E o mesmo vale para os gays. A Igreja não julga, mas socorre."
A reportagem é de Carlo Tecce, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 09-10-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Já não venceu a linha inflexível dos Padres sinodais, que não aceitam reformas sobre essas questões sensíveis para vocês?
Ao contrário. O Papa Francisco deseja escutar o que a Igreja pensa e o que os bispos pensam, mas estamos no início, e o panorama é amplo. Além disso, não nos esqueçamos de que, com o duplo motu proprio para as causas de nulidade dos matrimônios, a Igreja já se lançou para a frente. Erdö não pretendeu bloquear o projeto final, e o Santo Padre fez bem em especificar que as reflexões não dizem respeito apenas aos casamentos e que a doutrina não mudou. Mas isso não serviu para dissipar as evidentes divergências que animam a assembleia. Isso me parece natural.
As questões que estamos tratando fazem vir à tona posições nem sempre uniformes. A Igreja pensa não só sobre os matrimônios católicos, mas também sobre a família em geral. Agora estamos abordando a primeira parte do Instrumentum laboris – o texto-base do Sínodo –, e há muitos testemunhos de todos os cantos do planeta, muitas propostas de modificação por parte dos círculos menores formados por idioma. Também do meu grupo: nós estudamos, examinamos e votamos. Tudo será estabelecido por maioria.
Também é um duelo entre lobbies de continente e de pensamento, entre progressistas e conservadores?
Não é difícil de imaginar uma situação desse tipo. Quem tem uma ideia tenta atrair o maior número de pessoas ao seu redor. Há bispos que consideram intocável a doutrina. Eu me sinto um pouco mais aberto. A pergunta é simples: como assumimos as exigências e as necessidades dos homens e das mulheres de hoje? Há tantos divorciados que não estão interessados nos sacramentos, mas também ex-cônjuges católicos que se casaram jovens, talvez com pouca intenção e estão presos por um erro que pode acontecer com as pessoas. A vida de uma pessoa não é um mecanismo, mas um contínuo crescer, caminhar, lutar e também errar. A Igreja deve acompanhar essas pessoas com profunda simpatia e fazer um discernimento pastoral.
Quanto pesou sobre o Sínodo a revelação do padre gay Charamsa?
Nada, não nos tocou. Ele fez uma escolha como homem livre, mas errou ao evocar uma Igreja homofóbica ou ao definir o celibato como desumano. Eu não acho que exista homofobia entre nós. É claro que temos velhos sacerdotes e velhos monsenhores que são negativos sobre os gays. Mas são um parte muito minoritária, como em todas as comunidades. Eu vivi uma vida no celibato e não sinto que tive uma vida desumana.
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"Diante de pessoas que sofrem, a doutrina não é intocável." Entrevista com Claudio Maria Celli - Instituto Humanitas Unisinos - IHU