Por: Cesar Sanson | 05 Outubro 2015
Celia Musilli
Assustadora foto do conjunto habitacional de Belo Monte, postada pela jornalista Célia Musilli (que acaba de se juntar a nós, bem-vinda!). Essas pessoas moravam em um dos espaços mais esplendorosos que já se viu, as margens do Xingu.
MINHA CASA, MINHA VIDA FALIDA
Conjunto habitacional de Belo Monte, população que antes vivia à beira do rio, na floresta, foi remanejada para bairro inóspito e sem estrutura: bolsões de miséria.
"O pescador não se reconhece no mundo nem reconhece o mundo ao redor. Era rico e agora é pobre, miserável. E lá dentro da “moradia” do bairro com nome pomposo, “Reassentamento Urbano Coletivo (RUC)”, ouve inúmeras vezes ao dia o carro de som passar propagandeando as benesses de Belo Monte. Enquanto escuta que a hidrelétrica “é energia limpa e sustentável”, lá dentro sua família passa fome. Não como força de expressão, mas fome, aquela que dói. Em sua geladeira só há água, e eles esperam que um dos filhos volte no fim do dia em que alugou o corpo por 60 reais na construção civil, para alimentar nove pessoas. O filho mais novo completou 7 anos neste dia. Não há nem presente nem comida. Mas a energia, esta é “limpa e sustentável”, não é isso que o centro-sul acredita?" (Trecho da reportagem de Eliane Brum "O dia em que a casa foi expulsa de casa"/ El País)
André Vallias
Marcelo Castañeda
"Que horas ela volta?": marcante com destaque para Camila Márdila, que não conhecia, com uma performance excepcional como Jéssica, que dá o tom do filme e de como podemos pensar nas mudanças possíveis em nossas vidas. É uma coadjuvante que rouba a cena.
Falam muito da Regina Casé (como Val, a empregada), mas ela só ganha luz com a chegada/reencontro com Camila. Fala-se muito sobre recorte de classe, mas isso nem me chamou atenção. Fiquei tocado pela questão dos afetos trocados, por exemplo, quando Val é menos carinhosa com a própria filha do com o filho da patroa (que cobra isso do filho!) e como Jéssica recebe o assédio do patrão (ponto pouco tocado).
O lado selvagem e livre de Jéssica promove uma mudança na mãe, mostrando que a mudança é sempre relacional, nunca individual, por mais que dependa de boa dose de iniciativa, mas ninguém muda sozinho. O fato de Jéssica passar no vestibular e o filho da patroa não conseguir desperta em Val um tipo de consciência e potência que lhe dão força para sair do papel subserviente que lhe permite até comemorar a aprovação da filha na piscina esvaziada.
Me lembrou muito de uma encenação de "A mãe", de Brecht, produzida por Luiz Fernando Lobo no fim da década de 1990, onde depois da morte do filho, a mãe se engaja na luta revolucionária, guardadas as devidas proporções, claro. Enfim, o filme vale muito a pena por mostrar que só a luta muda a vida, mas que sem o amor e o afeto, a luta é vazia. Sem saber que o neto existia, por exemplo, o coração de Val não se lançaria no vazio do desconhecido quando ela tinha uma estrutura que a acomodava e oprimia.
Paulo Suess
Macro Ecumenismo em defesa dos Guarani Kaiowá de MS
Gustavo Gindre
FRANCISCO
Poucos períodos da história ocidental foram tão importantes quanto o século XIII. Estou absolutamente convencido de que muito do mundo contemporâneo, do predomínio da ciência e do capitalismo, tem a sua origem ali. Inclusive, no meu blog, escrevi um texto sobre isso.
Na Igreja Católica vivia-se um momento confuso. De um lado, o fausto da Cúria, identificada com o poder temporal. De outro lado, um baixo clero totalmente envolvido com a vida mundana, sugando o que podia das comunidades ao seu redor. Como alternativa, a reforma gregoriana, levada a cabo pelos cistercienses, pregando uma vida reclusa, longe das tentações do mundo.
No meio disso tudo, surge a coragem de um jovem italiano, pregando o maior dos desafios. Não a vida reclusa. Mas, o manter-se puro e pobre vivendo no mundo, junto com as demais pessoas. Nada de fugir, nem tão pouco de se engajar no poder temporal. Viver no mundo, mas fazendo a diferença em relação a esse mundo. Como era de se esperar, não agradou nem a Cúria nem o poder temporal.
Ao mesmo tempo, seu discurso pregava uma unidade entre todas as coisas, entre a natureza e o homem. E tinha na caridade e compaixão seus elos com o mundo.
Depois, a ordem que ele criou ficaria claramente marcada por um vies platônico, mas isso é outra história.
Hoje é o dia dele. Viva Francisco!!!!
PS: assim como Mestre Eckhart sempre me pareceu um budista na cristandade, Francisco sempre me lembra um taoísta perdido na Itália.
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