São Romero da América: “Nunca vão calar a voz de um santo”

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Por: André | 22 Mai 2015

Dom Óscar Arnulfo Romero, símbolo de uma Igreja próxima dos pobres, será beatificado no sábado, embora os salvadorenhos já o tenham como um santo a quem rezam por um país mais justo e a quem recordam em murais, estátuas e até chaveiros.

 
Fonte: http://bit.ly/1R84luy  

A reportagem é publicada por Religión Digital, 20-05-2015. A tradução é de André Langer.

Dom Romero será proclamado beato em uma cerimônia que reunirá milhares de pessoas na Praça Salvador do Mundo da capital salvadorenha.

No dia 23 de março de 1980, dom Romero, em uma homilia, fez um veemente apelo aos soldados para desobedecerem às ordens de atirar contra o povo: “Suplico-lhes, rogo-lhes, ordeno-lhes em nome de Deus, cesse a repressão”.

Um dia depois do emotivo apelo, um francoatirador da extrema direita atirou contra ele enquanto presidia a missa na capela do hospital para cancerosos Divina Providência, no norte da capital.

No dia 30 de março, a multidão que acorreu ao seu funeral foi dispersada a tiros por soldados que deixaram muitos mortos.

O magnicídio de Romero foi o detonador de uma guerra civil que durou 12 anos (1980-1992) e deixou 75.000 mortos.

Sua vida e a Igreja

Romero nasceu no dia 15 de agosto de 1917 em Ciudad Barrios, um povoado que produzia café no Departamento de San Miguel, a 156 quilômetros de San Salvador.

Sua vida religiosa começou em 1931, quando ingressou no Seminário Menor de San Miguel, onde ficou conhecido como ‘O menino da flauta’, pelo pequeno instrumento de bambu que herdou de seu pai.

Em 1937, foi aceito no Seminário Maior San José de la Montaña, em San Salvador, e sete meses depois, viajou para estudar teologia em Roma, onde presenciou as calamidades da Segunda Guerra Mundial e foi ordenado padre em 04 de abril de 1942.

Em 21 de junho de 1970, foi nomeado bispo auxiliar da capital e, mais tarde, bispo de Santiago de Maria, Usulután, no dia 15 de outubro de 1974, numa época em que começava a repressão contra camponeses organizados.

Conhecido então por sua postura conservadora, Romero foi ungido arcebispo no dia 23 de fevereiro de 1977, aos 59 anos.

 
Fonte: http://bit.ly/1R84luy  

Em março de 1977, o assassinato de seu amigo o Pe. Rutilio Grande, junto com dois camponeses, transformou Romero, que fez da denúncia sua bandeira. Pelas denúncias que transmitia pela rádio católica Ysax e o semanário Orientación, Romero chegou a ser conhecido como “A voz dos sem voz”.

Simples e admirado

Muitos salvadorenhos recordam-no como um homem simples, que gostava de fotografar cenas da vida cotidiana. “Era simples, gostava do contato direto com as pessoas. Sua morte me doeu, pois é dos poucos que conheci que viveu integralmente o Evangelho”, recorda o artesão da madeira Fernando Llort, que conheceu pessoalmente a dom Romero.

Llort recorda que Romero visitou várias vezes sua oficina na cidade de La Palma, a 86 quilômetros ao norte de San Salvador e numa ocasião lhe pediu que fizesse um báculo para usar nas missas.

Outros, que talvez não o conheceram em vida, visitam diariamente a cripta de Romero, no subsolo da Catedral, onde os fiéis se ajoelham, depositam flores, acendem velas e rezam para pedir melhores tempos no país. Um destes visitantes, Guadalupe Navarro, um carpinteiro de 77 anos devoto do pastor recordou: “No dia em que o mataram, chorei, perdíamos a esperança de mudanças no país, mas hoje vemos uma luz e essa luz é nosso São Romero. Nunca vão calar a voz de um santo”.

Hoje, a imagem de Romero se multiplica em estátuas, murais, camisas, chaveiros e copos com seu rosto que são vendidos nas ruas.

Diante da sua sepultura, desfilaram personalidades como o falecido Papa João Paulo II em 1983. Anos depois, em 2011, visitou-a Barack Obama.

Uma Comissão da Verdade, criada pela ONU, culpou o falecido major do Exército Roberto d’Aubuisson, fundador da Aliança Republicana Nacionalista, na época no poder e de direita, de ser o responsável por “organizar e supervisionar” o assassinato.

A causa para a canonização de Romero foi aberta na Igreja católica local em 1994 e em Roma em 1997. Em abril de 2013, o Papa Franciscodesbloqueou o processo e no dia 03 de fevereiro de 2015 assinou o decreto que reconhece Romero como mártir da Igreja.

 
Fonte: http://bit.ly/1R84luy  

Por sua vez e como informa a Rádio Vaticano, o coordenador regional da Caritas na América Latina e do Caribe, o Pe. Francisco Hernández Rojas, da Costa Rica, explica como funciona esta rede da Caritas na América Latina composta por 22 conferências episcopais e destaca a importância de dom Óscar Arnulfo Romero que será beatificado no próximo dia 23 de maio em El Salvador.

“A Caritas América Latina e Caribe é um órgão de comunhão vinculado ao Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM) dentro do departamento de justiça e solidariedade do CELAM” na qual desenvolvem vários eixos de trabalho, como o do meio ambiente, a gestão dos riscos e das emergências.

Outro âmbito em que trabalha é a “dignidade, direitos humanos e construção da paz” sobre o qual o Pe. Francisco Hernández explica que “o ponto de partida sempre é a dignidade humana na mesma perspectiva que nos assinala o magistério social da Igreja e a partir dali queremos construir uma perspectiva de direitos onde todos os seres humanos sejam sujeitos de direitos e também de deveres, e que possam ser respeitados e que possamos ser construtores e sujeitos da nossa própria história...”.

Nesta linha, o padre costarriquenho assinala à Rádio Vaticano que “dom Óscar Arnulfo Romero é a expressão da busca de uma sociedade justa, fraterna e solidária como o ‘mínimo da caridade’, como nos ensina o magistério social da Igreja, expressado muito bem, magistralmente, pelo Papa Bento XVI na Encíclica Caritas in Veritate”.

“Dom Romero é essa expressão da entrega na caridade de uma Igreja que quer proteger os seus filhos, as suas filhas, que quer defendê-los, que quer que todos, cada um dos seus filhos e de suas filhas tenham oportunidades iguais, haja uma sociedade equitativa, onde todos possam encontram os elementos necessários para uma vida humana, como diz o Documento de Aparecida”.

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