China e Brasil selam um pacto estratégico

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Por: André | 21 Mai 2015

O anúncio mais ambicioso feito a partir do encontro entre Dilma Rousseff e Li Keqiang foi a construção de uma ferrovia transoceânica que traçará uma linha de força geopolítica no centro da América do Sul.

A reportagem é de Darío Pignotti e publicada por Página/12, 20-05-2015. A tradução é de André Langer.

Do Atlântico ao Pacífico: Brasil e China começaram a forjar um novo vetor geopolítico. Os acordos de 53 bilhões de dólares, em áreas vitais como a energia, assinados nesta terça-feira pela presidenta Dilma Rousseff e o primeiro-ministro Li Keqiang confirmam a solidez dos vínculos comerciais e financeiros entre a sétima e a segunda maiores economias do mundo.

De qualquer modo, o anúncio mais ambicioso foi a construção de uma ferrovia transoceânica que traçará uma linha de força geopolítica no centro da América do Sul.

“Como vocês viram, foi uma reunião muito importante para as relações entre Brasil e China. Todas as reuniões têm sua importância, mas esta de hoje teve uma característica nova que foi ter dado grande importância aos investimentos na ferrovia transcontinental, que outros chamam de bioceânica, que será estratégica para nós”, declarou a presidenta a um grupo de jornalistas. Ela fez a afirmação pouco depois de finalizada a exposição que realizou junto ao primeiro ministro asiático, com quem foram assinados 35 acordos no Palácio do Planalto.

Brasil, Peru e China, e aqui quero dirigir uma saudação ao presidente Ollanta Humala, estamos iniciando os estudos de viabilidade para esta conexão ferroviária... e convidamos as empresas chinesas para que participem desta grande obra que passará pelo Acre e cruzará os Andes até chegar aos portos do Peru.”

O anteprojeto tem um custo estimado de entre 5 bilhões e 12 bilhões de dólares. Começa no Porto de Açu, no Rio de Janeiro, no sudeste, sobe até Mato Grosso, centro do país, e depois atravessa os estados amazônicos de Rondônia e Acre, de onde segue até o Peru. Será um corredor pelo qual o Brasil poderá exportar soja e carne para a China, e eventualmente o resto da Ásia, e importar manufaturas. Tudo sem utilizar o canal do Panamá, que apesar de ter sido devolvido pelos Estados Unidos em 1999, ainda continua dentro de sua área de influência estratégica.

Dilma recebeu o representante do governo chinês com uma formação de Dragões da Independência, guarda de honra presidencial, na rampa de entrada da sede do governo e depois ofereceu-lhe um almoço na Chancelaria seguindo um protocolo similar àquele prodigalizado aos chefes de Estado. Semelhante pompa, que não é habitual em visitas deste tipo, emoldurou uma reunião na qual foram assumidos compromissos de longo prazo. “O Plano de Ação Conjunta 2015-2021 (o mandato de Dilma termina em 2018) que assinei com o primeiro-ministro inaugura uma etapa superior de nosso relacionamento, que está expresso nos acordos governamentais e empresariais hoje [terça-feira] assinados”.

Li Keqiang concordou com sua anfitriã sobre a consolidação dos laços bilaterais e lançou o desafio para que o comércio bilateral, atualmente de quase 78 bilhões de dólares, chegue aos 100 bilhões. Também foi anunciado que parte das transações já não será feita em dólar, que será substituído pelo real e o yuan. Por este motivo, o comércio estará a salvo das oscilações cambiárias.

A reunião da terça-feira em Brasília iniciou um périplo diplomático que continuará na semana que vem no México, onde Rousseff realizará sua primeira visita de Estado; em junho, com a cúpula do Mercosul e a viagem aos Estados Unidos e, posteriormente, com a reunião na Rússia do grupo BRICS. Dilma antecipou que viajará à China em 2016 convidada pelo presidente Xi Xinping, que fez uma visita de Estado a Brasília em 2014.

Para o Brasil, esta temporada diplomática representa uma oportunidade para retomar a política de alianças com os emergentes, relegada nos últimos meses devido à crise interna atiçada pelo PSDB do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Nos últimos dias, Cardoso viajou aos Estados Unidos, onde se reuniu com banqueiros e recebeu uma delegação da oposição radical venezuelana. Depois seguiu com sua diplomacia paralela concedendo uma entrevista ao jornal Financial Times na qual atacou o governo e reiterou acusações sobre o escândalo de corrupção na Petrobras. O socialdemocrata desdenha a política petroleira nacionalista de Dilma e recomenda voltar às concessões em linha com a proposta das multinacionais e a imprensa financeira global. Enquanto o Financial Times criticava (como é habitual) a Dilma, o jornal O Estado de São Paulo informou na terça-feira que outro grupo de acionistas norte-americanos da Petrobras abriu um processo em Nova York no qual acusa os últimos presidentes da companhia. Esta é a terceira ação contra a empresa nos Estados Unidos.

Na terça-feira, as ações da petroleira caíram mais de 6%, o que foi atribuído ao alto endividamento e às dificuldades para obter financiamentos no mercado.

Por isso, Dilma comentou aliviada a contribuição chinesa de 10 bilhões de dólares com os quais poderão ser saldados investimentos nos poços da área conhecida como pré-sal. “Além de refletir a confiança internacional que a nossa empresa possui, este aporte de 10 bilhões de dólares contribuirá para fortalecer as atividades na zona do pré-sal, onde já contamos com uma expressiva presença de empresas chinesas”, recordou Dilma. Referia-se às duas petroleiras asiáticas que em 2013 venceram, junto com a Petrobras e outras duas companhias europeias, o leilão do megacampo de Libra. As companhias norte-americanas retiraram-se da disputa por Libra em meio ao escândalo de espionagem da agência NSA contra a Petrobras.

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