Por: Cesar Sanson | 16 Abril 2014
O presidente mundial das montadoras Renault e Nissan, o franco-brasileiro Carlos Ghosn, disse nesta terça-feira, após inauguração da fábrica da Nissan em Resende, no Sul Fluminense, que o desempenho da economia brasileira é “decepcionante”, com crescimento abaixo de 3%. Ele frisou, no entanto, que o investimento da empresa na segunda fábrica do grupo no Brasil mira o “médio e longo prazo”, e não os “próximos seis meses”.
A reportagem é de Bruno Villas Bôas e publicada pelo portal O Globo, 15-04-2014.
- É verdade que no curto prazo a situação do mercado brasileiro é decepcionante. No Brasil, se imaginava uma taxa de crescimento de 3%, o que não vai acontecer. Existe essa decepção. No longo e médio prazos, se acredita que Brasil vai de um jeito ou de outro retomar o patamar de crescimento de pelo menos 3% - disse o executivo.
Ghosn acrescentou que 2013 foi decepcionante para o setor automobilístico, e que 2014 não parece diferente. Apesar disso, ele disse que o adiamento da recomposição do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) pelo governo brasileiro não seria uma solução, apenas “pilotaria o aumento das vendas de curto prazo”, provocando uma antecipação das vendas de automóveis.
- O incentivo tem efeito de curto prazo, mas não de longo prazo. O mercado se antecipa. Então, isso dá um jeito para o mercado. Mas daqui a três meses, o incentivo não tem efeito - disse Ghosn, que defendeu uma redução da carga tributária sobre automóveis de forma mais perene. - O Brasil é o campeão do mundo em termos de tributação de carros. Um oficial me disse que isso chegar a 45% do que as pessoas pagam, dependendo das diversas taxas. Não tem nenhum país que conheça com esse tipo de carga tributária.
Segundo ele, a carga tributária pode "acelerar ou desacelerar" o crescimento do mercado brasileiro, mas não vai impedir o crescimento da empresa no setor. Ele afirmou que a montadora vai continuar crescendo no mercado brasileiro: a empresa vendeu 78 mil carros em 2013 e prevê vendas de 115 mil automóveis em 2014, um crescimento de 45%.
Vamos crescer e talvez mais rápido (do que concorrentes) por uma razão simples: estamos pequenos no Brasil, abaixo do nosso potencial. Não digo isso porque enfrentamos dificuldades sem medo, mas porque estamos com participação tão baixa que vamos crescer de qualquer maneira - disse o executivo.
Ele acrescentou que a Nissan tem atualmente 2% de participação no mercado brasileiro e pretende chegar a 5% em dois anos. Essa participação seria pequena, abaixo da média mundial da empresa, por mudanças nas regras no comércio exterior entre Brasil e México.
- Mesmo que exista impaciência, já que o ano passado foi decepcionante e 2014 não parece melhor, não estamos investindo para os próximos seis meses, mas sim para os próximos dez anos. Quando você investe R$ 2,6 bilhões em uma fábrica, você não toma em conta o curto prazo - acrescentou.
O executivo disse ainda que o Brasil pode atingir o padrão europeu de 500 carros por mil habitantes nos próximos dez a 15 anos, dependendo do nível de carga tributária no país.
Segundo Ghosn, o Brasil não é competitivo em alguns equipamentos usados na montagem dos automóveis, que precisam ser importados, mas não deu exemplos. Ele diz que o conteúdo nacional dos carros deve crescer dos atuais 60% para 80%, mas não chegará a 100%.
- Mesmo na China e nos EUA não temos 100% de fornecedores locais. Por uma questão de competitividade, algumas vezes rejeitamos propostas de fornecedores locais. Áreas que não são competitivas é melhor às vezes importar do que comprar localmente - disse Ghosn.
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Presidente da Renault-Nissan diz que crescimento brasileiro é ‘decepcionante’ - Instituto Humanitas Unisinos - IHU