Cardeal Turkson reúne-se com oponentes dos transgênicos e promete estudo

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21 Outubro 2013

Enquanto o cardeal Peter Turkson se sentava com um pequeno grupo de moradores de Iowa no salão de uma igreja de Des Moines na última quarta-feira, a ausência de vestes púrpuras formais definiu o tom da noite. Em um terno cinza e colarinho romano, o cardeal de Gana poderia ter sido confundido com um padre local, não fosse o seu sotaque africano que o denunciava.

A reportagem é de Megan Fincher, publicada no sítio National Catholic Reporter, 17-10-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Turkson será um dos conferencistas principais da prestigiada Conferência do Prêmio Mundial de Alimentação 2013 nesta semana em Des Moines, mas também fez o discurso de abertura nessa quarta-feira em um evento organizado por um grupo local que se opõe à recente adoção da biotecnologia e do agronegócio por parte do prêmio. O evento do grupo, que se autodenomina Occupy the World Food Prize [Ocupe o Prêmio Mundial de Alimentação], lotou a First United Methodist Church de Des Moines, e o público acolheu Turkson com uma ovação de pé.

Antes do evento, porém, Turkson se encontrou no salão da igreja com um pequeno grupo que incluía agricultores de Iowa, um cientista do solo, um ministro metodista aposentado, um ex-padre católico e membros do movimento Catholic Worker e do Iowa Citizens for Community Improvement. Ele ouviu as suas preocupações e os seus apelos para que ele denuncie publicamente o uso da biotecnologia na agricultura.

Em resposta, o cardeal prometeu usar o seu papel como presidente do Pontifício Conselho Justiça e Paz para atrair os bispos do mundo para o debate e para buscar uma forma de lidar com os seus medos.

Nos últimos anos, o Prêmio Mundial de Alimentação enfatizou a biotecnologia, o agronegócio e os organismos geneticamente modificados (OGM) como meios viáveis para acabar com a fome mundial. Os premiados deste ano são Robert Fraley, vice-presidente-executivo da maior empresa de transgênicos do mundo, a Monsanto; Mary-Dell Chilton, fundadora da terceira maior empresa de transgênicos do mundo, a Syngenta Biotechnology; e Marc Van Montagu, fundador de duas empresas de biotecnologia e de uma organização sem fins lucrativos que promove a biotecnologia nos países em desenvolvimento.

Um grupo de cidadãos de Iowa formou o Occupy the World Food Prize no ano passado para protestar contra as doações do agronegócio para o Prêmio Mundial de Alimentação, batizando-se no rastro do movimento nacional Occupy Wall Street.

No passado, Turkson disse que ele aborda a biotecnologia com cautela, e, nessa quarta-feira, os ativistas o encorajaram a endossar a opinião deles quando ele proferir o seu discurso no Prêmio Mundial de Alimentação. Os seus comentários diziam: "Estamos pedindo que você seja o nosso paladino", ou: "A Igreja Católica tem uma obrigação moral de recusar os transgênicos".

Quando eles terminaram de apresentar o seu caso, o cardeal disse: "Eu posso ver que essas pessoas têm paixão pela terra e pelas suas comunidades".

"Vocês compartilham a intimidade da sua vida comigo, alguém que está perto de ser um estranho", continuou. "Vocês compartilham tudo isso com o coração".

"Inicialmente, eu vou me abster de demonizar qualquer pessoa, nem este grupo, nem o outro", disse Turkson. "Ao contrário, vou buscar moldar aberturas em que possamos conversar, negociar e convencer".

Ele expressou desapontamento pelo fato de que os dois grupos não definiram uma reunião conjunta.

"Eu vim aqui para encorajar a conversa", disse. "Independentemente do fato de eu ter sido ingênuo para promover esse diálogo esta semana, eu estou aqui e eu sou um padre, eu sou um cristão, eu sou um pregador do Evangelho, e a mensagem central do Evangelho é a reconciliação e a construção da comunhão onde ela não existe ou onde ela foi rompida".

Ele disse ao grupo que a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura -FAO "se reúne em volta da mesa, abrindo espaço para todos, pequenos e grandes agricultores".

"Pode haver alguma forma como essa aqui? Em que os grandes agricultores possam ouvir as suas ansiedades, ouvir vocês falarem com os seus corações?", perguntou. "Precisamos promover alguma coisa parecida".

Turkson, então, fez uma oferta ao Occupy the World Food Prize.

"No início do ano 2000, os bispos da África se organizaram junto com outros bispos para irem ao Fundo Monetário Internacional e pressionar pelo perdão da dívida. Isso funcionou. Se a situação que vocês apresentam é tão ameaçadora da vida, nós podemos fazer isso de novo. Nós obtivemos o perdão da dívida de bilhões de dólares que os países deviam. Nós podemos seguir o mesmo canal. Isso significa que, em um certo ponto, eu vou contatar a Conferência Episcopal dos EUA, o Vaticano, a ONU em Nova York ou em Genebra. Podemos colocar em movimento as mesmas máquinas que no ano 2000".

Os membros do Occupy assentiam enquanto ele falava.

"A crise financeira começou aqui nos EUA. Será que o agronegócio é outra experiência que vai explodir no mundo inteiro?", perguntou Turkson, enquanto o grupo audivelmente concordava.

Ele os criticou levemente dizendo: "O que leva as pessoas a fazerem isso? No fim, faz parte do coração humano. Eu os ouço dizer: 'As corporações não são o povo', mas, no fim das contas, as empresas também têm um rosto. São seres humanos que estão dirigindo o sistema. Podemos chegar aos corações humanos por trás desses grandes, grandes sistemas".

"Eu aprecio a sua pressão por uma ocupação humana muito básica – a agricultura. Eu chamo isso de cultura da agricultura", disse Turkson. "Não é apenas colocar as sementes na terra. Por que Jesus usou isso em sua parábola? É uma cultura da paciência: você pode colocar uma semente na terra e você a vê crescer. Você não é a causa de ela crescer, mas você pode apenas vê-la, observá-la. A agricultura ensina à pessoa humana muito sobre a sua vida inteira".

No fim do encontro, Turkson disse: "Vou levar o conceito adiante. Vamos organizar no Pontifício Conselho Justiça e Paz um estudo sobre essa questão, se vocês não se importam".

Ele assumiu o pedido do grupo de falar contra o agronegócio, mas disse: "Eu não vou conseguir usar uma varinha mágica. Pensem no amanhã como um dia único nesse sentido. Provavelmente, nada radical vai acontecer [no discurso]. Mas, para mim, é o começo de um processo que acabará por nos conduzir para o que desejamos e expressamos esta noite".

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