Sem medo de levar tomate. Experiência no Rio de Janeiro mostra que é possível produzir com menos agrotóxicos

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13 Agosto 2013

O tomate é um dos vilões que levam o agrotóxico para o prato dos brasileiros [1], mas uma experiência na Região Serrana, do Rio de Janeiro, vem mostrando que é possível com menos veneno. O projeto de redução do uso de agrotóxico nasceu em 2012, quando a Olearys, uma empresa de tecnologia agrícola, procurou a Secretaria de Agricultura do Rio para apresentar sua plataforma de monitoramento do clima. Do encontro nasceu uma parceria com a Empresa de Pesquisa Agropecuária (Pesagro-RJ) e a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-RJ).

A reportagem é de Gisele Neuls e publicada por Mundo Sustentável, 08-08-2013.

No mercado há 12 anos, a Olearys desenvolveu um sistema de monitoramento climático que envolve estações de medição, envio de informações por satélite, rádio ou celular, processamento de dados e produção de avisos meteorológicos. Até então, o monitoramento climático da empresa atendia somente médios e grandes produtores de soja, maçã, uva e tomate industrial, entre outros. A parceria com a Pesagro e a Emater fluminenses permitiu à empresa levar esses benefícios ao pequeno produtor.

Estações instaladas nas lavouras medem chuva, umidade relativa do ar e temperatura em um raio de até 5 quilômetros. Os dados são processados e geram alertas personalizados para o agricultor, que podem ser recebidos por e-mail, fax ou mensagem de celular. Uma informação preciosa para culturas muito sensíveis à umidade e suscetíveis ao ataque de fungos, como o tomate.

O manejo convencional é feito com base no calendário de produção, com aplicações de agrotóxicos programadas conforme o estágio de desenvolvimento da planta. E muito pela intuição do agricultor. “Tanto o grande quanto o pequeno produtor adotam a mesma técnica: encher de veneno a lavoura. Ele suspeita que pode dar doença e aplica. Nosso sistema mostra que, antes de aplicar, é preciso ver se o clima favorece a doença”, explica Marcos Balbi, diretor-executivo da Olearys.

O resultado é impressionante. Em quatro lavouras monitoradas, houve redução de 45% na pulverização de fungicidas, que significou a economia de 65 horas de trabalho e de 16 mil m³ da água utilizada na diluição dos agrotóxicos. O agricultor Elton Silva é um dos casos mais emblemáticos. Segundo a Olearys, ele teria feito 18 pulverizações seguindo o calendário. Com os dados dos alertas recebidos, foram necessárias apenas seis. E o fungicida representa cerca de 11% do custo de produção convencional do tomate.

A primeira fase do projeto, concluída com a instalação de 20 estações de monitoramento, foi desenvolvida dentro do Rio Rural, programa estadual de fomento ao desenvolvimento sustentável em microbacias, com financiamento do Banco Mundial. “Queremos associar a política de gestão ambiental de microbacias com o monitoramento climático”, diz Silvio Galvão, diretor-técnico da Pesagro. Para isso, serão formadas redes de monitoramento climático com a tecnologia testada.

O principal gargalo é a assistência técnica. Apesar do engajamento da Emater – 23 dos 57 escritórios existentes estão envolvidos –, se a tecnologia fosse massificada, faltaria mão de obra para ajudar os agricultores a transformar os alertas de clima em orientação técnica apropriada para suas culturas. Para enfrentar esse problema, o projeto quer envolver as associações de produtores, sindicatos rurais e cooperativas e criar uma rede de técnicos. A Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro já participa, fornecendo agrônomos residentes [2].

“Testamos, adaptamos, aprovamos, é vantajoso. Agora queremos contemplar o maior número possível de beneficiários por microbacias”, afirma Silvio Galvão. Para 2014, a meta é ter 50 estações instaladas e incluir mais cinco culturas que fazem uso intensivo de agrotóxicos: goiaba, hortaliças folhosas, cenoura, caqui e tangerina poncã.

Notas:

[1] É um dos 18 alimentos monitorados no Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (Para), da Anvisa. Os dados de 2012 estão disponíveis aqui.

[2] Como nos programas de residência médica, o agrônomo formado recebe uma bolsa por dois anos para se especializar em uma determinada área.

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