Genocídio indígena será denunciado ao Papa

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22 Abril 2013

"Um acampamento Terra Livre diferente. Muito debate e mobilizações marcantes, fizeram desse abril indígena um dos momentos fortes do  movimento indígena nessas últimas década. Poderíamos lembrar esses momentos fortes, que iniciou com a realização das Assembleias de chefes indígenas, em abril de 1974. Em dezembro 1978, após uma Assembleia em Goiás, os indígenas conseguiram uma audiência com o então ministro do Interior, general Rangel Reis. Ao entregar o documento, Aniceto Xavante disse ao ministro "enterre o projeto de emancipação". Foi a primeira grande vitória de um movimento indígena emergente e que conquistou rapidamente uma solidariedade organizada na sociedade.

Em outubro de 1988, é aprovada a nova Constituição do país com a inscrição dos direitos indígenas. Foi uma luta ferrenha, coroada de êxito. Pela primeira vez um movimento indígena se mobilizara para garantir seus direitos na carta magna

Em abril de 2000 o governo do Brasil e Portugal celebraram os 500 anos do incio da invasão. O movimento indígena realizou a maior mobilização de que se tem informação, reunindo em torno de tres mil e quinhentos indígenas de todo o Brasil, no local onde se iniciou a invasão, em Porto Seguro, na Bahia. Foram duramente reprimidos quando tentaram chegar em manifestação a Porto Seguro.

E agora em abril de 2013, o movimento indígena consegue barrar o andamento da PEC 215 e irrompe no plenário do Congresso, numa demonstração de conciência política e organização mobilizada", escreve Egon Heck, CIMI-MS, ao enviar o artigo que publicamos a seguir.

Eis o artigo.

"Vamos solicitar uma audiência com o Papa Francisco para denunciar as violências e genocídio a que estão sendo submetidos povos e comunidades indígenas no Brasil", afirmou o deputado Padre Ton, coordenador da Frente Parlamentar em Defesa dos Povos Indígenas. Essa intenção foi reafirmada por outros parlamentares presentes ao ato de abertura da exposição "Olhares  Cruzados Guarani Kaiowá (Brasil) Pai Tavyterã (Paraguai)", que está se realizando no espaço do servidor, na Câmara dos Deputados.

Para a ministra da Secretaria dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, é um absurdo o assassinato do adolescente Kaiowá, Denilson, quando ia pegar uns peixes. A decisão da juíza foi não apenas pela reintegração de posse da comunidade Pindo Roky, mas a remoção do corpo de Denilson, enterrado no local do assassinato.

No ato de abertura também estiveram presentes vários parlamentares, o representante da ONU no Brasil, representantes indígenas de Kurusu Ambá, Panambizinho e Te'Ykue (Caarapó).

Otoniel Ricardo, do Conselho da Aty Guasu que está no programa de proteção da Secretaria de Direitos humanos, em função das ameaças de morte, falou pelo Conselho da Aty Guasu, chamando atenção para a gravíssima situação em que se encontram as comunidades Kaiowá Guarani por causa da não demarcação das terras, os assassinatos de lideranças, a impunidade e criminalização "No Mato Grosso do Sul vivemos uma situação de extermínio do nosso povo, porque não querem reconhecer nossas terras tekohá, a terra sem males".

Também participaram representantes de entidades solidárias à luta desse povo, como o Conselho Indigenista Missionário, Cimi.

Dirce Carrion, coordenadora do Projeto Olhares Cruzados que está em sua 10ª edição, destacou sua felicidade em poder estar dando visibilidade a um povo  tão sofrido e com tanta dignidade, sabedoria e profunda religiosidade e cultura.

Ao nos dirigirmos ao Congresso fomos alertados para as possíveis dificuldades dos índios entrarem naquela "casa do povo", pois a segurança reforçada pela polícia federal, com ordem de não deixar os índios entrarem, em função dos acontecimentos do dia anterior, quando os povos indígenas de todo o país adentraram à plenária, ocasionando uma debandada e correria dos parlamentares.

Abriram-se portas

Portas foram abertas pelos povos indígenas do Brasil, sem muitas palavras, mas com a força das rezas e rituais, dos cantos e danças plurais,  a energia dos encantados, a sabedoria milenar e a determinação política de não admitir um centímetro de retrocesso em seus direitos conquistados.

As invioláveis portas do Congresso não resistiram à emergência súbita dos povos raiz desse país. Eram 18h10min, de terça feira, dia 16 de abril. Dia memorável, histórico, em que aquele sisudo plenário recebeu um banho de chão, de alegria, de energia secular, de cores vibrantes, corpos pintados, maracás afinados.

"Estamos com medo", gritou ao microfone um dos parlamentares.

Bastou a ritual entrada nativa que as gravatas bem comportadas se colocaram em debandada. Porder-se-ia perguntar "mas de que fugiram, senhores parlamentares?  Será que pensamento de invasores seculares ainda povoam vossas mentes?. Ou será que algum mais afobado, foi se benzendo pensando em terríveis canibais? Deveriam ter corrido ao encontro deles, abraçando-os carinhosamente, pelo eloquente gesto de começar a libertar aquele espaço da prisão do poder econômico e político reinante.

Também foram abertas portas de diálogo, na Câmara dos deputados, com paridade de participantes entre parlamentares e indígenas. O grupo de Trabalho foi instalado.

As portas do Supremo Tribunal Federal se abriram para um frutuoso e sincero diálogo como o presidente daquela casa, Joaquim Barbosa.

Abriram-se corações e mentes, semearam-se novas sementes, conquistaram-se multidões de aliados no Brasil e no mundo.

A única porta que continua trancada para os povos indígenas é a da presidente Dilma. Até hoje ela não se dignou receber as lideranças do movimento indígena, num flagrante descaso ou desprezo do que de mais digno e belo esse país tem, que é a pluralidade de seus povos. Assim se expressaram as lideranças indígenas que na véspera do dia dos Povos Indígenas, passaram três horas diante da porta esperando um gesto de diálogo.

Recado dado

Os indígenas retornaram às suas aldeias, malocas, comunidades, com o coração cheio de alegria , esperança e a certeza de que  seus inimigos não passarão. "Lutaremos até o último índio", foi repetido por diversas lideranças, que estão confiantes de que unidos e  mobilizados não permitirão nenhum retrocesso ou retirada dos direitos conquistados. Voltaram felizes  para seus territórios, com importantes avanços e redobrada vigilância e luta.

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