09 Novembro 2012
A oposição na Argentina organizou ontem a maior manifestação popular desde a reeleição da presidente Cristina Kirchner, em outubro do ano passado. O evento, chamado nas redes sociais da internet de "8N", em alusão à data de 8 de novembro, tinha a meta de reunir 1,5 milhão de pessoas em "cacerolaços" simultâneos.
A reportagem é de César Felício e publicada pelo jornal Valor, 09-11-2012.
O maior deles foi no Obelisco, no centro de Buenos Aires, que tomou por completo as 16 faixas de trânsito da avenida 9 de Julho. Ainda estavam previstas para a noite de ontem 74 manifestações na regiao metropolitana e 41 no restante da Argentina, inclusive uma em frente à Quinta de Olivos, residência oficial da presidente.
Outros 38 protestos ocorreram fora da Argentina, organizados pelas colônias de argentinos no exterior. Dois estavam previstos para ser realizados na noite de ontem no Brasil, em frente aos consulados do país no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte. As primeiras manifestações aconteceram na Austrália, Japão e Itália.
Telões foram espalhados nos pontos de concentração em Buenos Aires, com vídeos mostrando a presidente e autoridades do governo com roupa de presidiário. Bandeiras da Argentina foram distribuídas pela organização. O repúdio ao governo era demonstrado de forma difusa: havia desde mensagens com reclamações contra a política econômica a outras citando supostos casos de corrupção e demonstrações de autoritarismo da presidente. Mas a rejeição a uma reforma constitucional para a reeleição indefinida da presidente predominava nas mensagens.
Os organizadores procuraram dar um tom apartidário ao ato. As cúpulas dos partidos oposicionistas haviam decidido não participar dos eventos, embora militantes do PRO, o partido do prefeito de Buenos Aires, Mauricio Macri, tenham atuado intensamente na organização dos protestos. Também estavam ausentes oposicionistas que estão fora do meio partidário, como o secretário da central sindical CGT, Hugo Moyano.
Ontem, em sua única cerimônia pública, a presidente Cristina Kirchner fez uma referência velada ao evento. "Não vou afrouxar nunca, nem nos piores momentos", afirmou, ao inaugurar um centro cultural na periferia de Buenos Aires. Seus aliados adotaram um estilo comedido, depois de terem insinuado nos últimos dias até a vinculação dos organizadores com o neonazismo.
"Os manifestantes estão no seu absoluto direito. É um processo muito bom para a Argentina. Mas eles precisam se identificar. Há organizadores que não acreditam na democracia", afirmou o líder de movimentos sociais Luis d'Elia, porta-voz habitual da ala mais radical do kirchnerismo.
Os "cacerolaços" são atos em que os manifestantes batem panelas vazias e tocam apitos em sinal de protesto. Surgiram na América Latina durante o governo de Salvador Allende, no Chile, no início dos anos 70, como forma de protesto de organizações de donas de casas contra o desabastecimento provocado pela política econômica de então. Ganharam força na Argentina em 2001, no final do governo de Fernando De La Rúa, marcado pelo bloqueio de ativos financeiros da população.
Neste ano, voltaram a acontecer na Argentina a partir de junho, logo após a presidente editar medidas de restrição ao mercado de câmbio e do governador da província de Buenos Aires, Daniel Scioli, subir impostos. Um outro protesto de grande porte, convocado pelas centrais sindicais dissidentes, está previsto para o dia 20 de novembro.
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Argentinos fazem um "panelaço mundial" contra Cristina Kirchner - Instituto Humanitas Unisinos - IHU