01 Outubro 2012
A rejeição às políticas de austeridade em vigor na União Europeia levou ontem milhares de franceses às ruas de Paris em protesto contra o "Tratado Europeu" - o conjunto de regras que fixa um limite legal ao déficit público na zona do euro.
A reportagem é de Andrei Netto e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 01-10-2012.
O protesto foi convocado por partidos de extrema esquerda, sindicatos e organizações não governamentais para pressionar o presidente da França, o socialista François Hollande, a recuar nos cortes de € 30 bilhões e a recusar as novas regras, acertadas com a chanceler da Alemanha, Angela Merkel.
O protesto foi liderado pelo ex-candidato à presidência pela Frente de Esquerda, Jean-Luc Mélenchon, e contou com o apoio de mais de 60 instituições, entre elas a Confederação Geral do Trabalho (CGT) e a ONG Attac, identificada com a esquerda. No cortejo, os manifestantes - 80 mil, segundo os organizadores - empunhavam faixas e cartazes com dizeres como "Não à ditadura da troica" e "Deputados, não nos traiam: votem não."
A acusação de que o governo e os deputados do Partido Socialista (PS) estariam traindo o eleitorado de esquerda tem relação com promessas feitas por Hollande durante a campanha eleitoral de 2012, quando se comprometeu a vetar a chamada "Regra de Ouro", que cria punições para países da zona do euro que registrarem déficit, além de ativar um mecanismo de redução automática dos gastos públicos.
"Essa manifestação abre lugar para o povo. Já vimos o que esse famoso rigor fiscal causou na Grécia, na Espanha, em Portugal e na Itália", ponderou o sindicalista Jean Marine Lepognon.
Outro manifestante, Philippe Griren, lembrou que a Europa adota neste momento o tratado fiscal sem nem mesmo ter implementado as regras anteriores, estabelecidas pelo Tratado de Maastricht, que limitavam o déficit público a 3% do Produto Interno Bruto (PIB) entre países da zona do euro. "Comecemos por aplicar os critérios de Maastricht, que nós aceitamos em referendo e deveríamos ter respeitado desde 1992", disse Griren. "A culpa é da direita, que nesses 20 anos governou em 14."
A resistência dos militantes de esquerda na França espelha a aversão crescente do tratado europeu e da "Regra de Ouro" em diferentes países da Europa. O tema foi um dos centros as manifestações realizadas na Espanha e na Grécia na semana passada.
Logo após a manifestação, o ministro do Orçamento, Jérome Cahuzac, afirmou à rádio Europe 1 que o governo de Hollande não fará esforços fiscais suplementares depois do pacote de corte de gastos e de investimentos públicos e do aumento de impostos destinados a economizar € 30 bilhões em 2013.
O ministro definiu o protesto como um engano. "Estão cometendo um erro fundamental ao pensar que as políticas que estamos seguindo estão enfraquecendo a França, quando, na verdade, estão nos fortalecendo."
À noite, também o primeiro-ministro da França, Jean-Marc Ayrault, veio a público reclamar da manifestação, que "ameaça agravar a crise, que não é apenas econômica, mas do euro".
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Franceses vão às ruas contra austeridade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU